Roberto Pauletti: O bom filho à casa torna

A carreira de diretor comercial começou no Correio do Povo, aonde retornou depois de uma trajetória de sucesso na RBS.

22/06/2007 00:00

Um dos talentos do futebol de salão gaúcho das décadas de 1970 e 1980, Roberto Pandolfo Pauletti conta hoje, aos 52 anos, recém-completados no último 9 de junho, que se dedicou profissionalmente ao esporte por 14 anos para se sustentar e pagar a faculdade. "Tive sorte que peguei uma boa época do futsal, desde o juvenil. Joguei todos esses anos ganhando salário, no Internacional, no Grêmio, que tinham um futsal forte. Aquela grana me ajudou a construir minha vida, além de poder viajar pelo Brasil e pelo mundo", relata. A pergunta se foi um craque do esporte é respondida com um largo sorriso: "Craque não posso dizer que fosse, mas foi muito rico para mim. Hoje, seguidamente, chego nos lugares e as pessoas da minha idade ou um pouco menos, que tinham acesso aos jogos no Colégio Rosário e nas universidades, dizem "Bah, eu me lembro de ti". Isso, no meu mundo, nesse meu universo, é muito importante, porque é um quebra-gelo".

De jogador a homem de negócios

Esse mundo a que se refere é o dos negócios. Paralelamente à vida de jogador, ele cursava a faculdade de Administração de Empresas na PUC, onde se formou com ênfase em Marketing. Seu currículo acadêmico ainda inclui especialização em Financial Management na Kellock, em Chicago, Estados Unidos, e uma série de outros cursos "que todo profissional da área tem que fazer para estar sempre atualizado". Pauletti acredita na importância de uma formação qualificada para o exercício de sua atividade: "Dificilmente tu vais melhorar tua performance, mas tu melhoras a compreensão, e ficas sempre atualizado, até para poder interagir com pessoas mais jovens".

Sua juventude foi bastante atribulada, pois o futsal não era sua única atividade profissional. Logo que optou pela Administração, empregou-se numa representação comercial de veículos, a Propal Propaganda e Representações. Começou como vendedor, atendendo a revistas e jornais de Caxias do Sul - sua cidade natal - e região, que visitava com seu fusca. Logo, passou para a área de gestão da pequena empresa. "Trabalhava de manhã e de tarde. Das 19h às 21h, fazia a faculdade e, das 22h à meia-noite, todos os dias, eu treinava. Nos finais de semana, quando não tinha jogo, viajava para o interior." Foi assim durante seis anos, tempo que levou para concluir o curso, que normalmente exige quatro dos alunos: "Só podia assistir às aulas nos dois primeiros períodos, senão perdia as partidas".

Carreira comercial

Embora diga que não planejou seguir carreira na área comercial, sempre atuou nesse ramo. Talvez a filiação tenha tido influência: Roberto é filho de Luiz Pauletti, um dos pioneiros da Publicidade gaúcha. Apenas por um breve período teve uma experiência em Administração de Materiais, o suficiente para perceber que não era sua praia. Quando Renato Ribeiro comprou a Companhia Jornalística Caldas Júnior, em 1986, o profissional foi convidado para ser diretor comercial do Correio do Povo, função que desempenhou até 1993. Nos últimos quatro anos na empresa, exerceu o mesmo cargo, só que nas rádios Guaíba AM e FM. Seu trabalho chamou a atenção da RBS, que, em 1997, o contratou para a gerência-geral de suas rádios.

"Fiquei três anos nas rádios e fui promovido a diretor de uma área corporativa, a RBS Interativa, onde atuei por mais um ano e meio. Depois, fui para um lugar muito prazeroso para mim, que foi a direção da TVCom, onde fiquei cinco anos. Foi um projeto muito legal, que a RBS mantém hoje. Quando assumi, ela tinha um problema de indefinição, era um deck up da RBS TV. Nós a fizemos virar uma TV completa, independente. Tem toda a sinergia da RBS Vídeo, mas vive com as próprias pernas, e conta com um excelente conteúdo", diz orgulhoso. Missão cumprida na emissora, Roberto voltou sua atenção para a entrada do Grupo Record no Estado: "Naturalmente, fiquei muito ouriçado, como todos os profissionais do mercado. Esse movimento é um ganho para todos nós. Mas fiquei só observando, porque estava bem e feliz. A RBS é uma empresa muito boa de trabalhar".

De volta à origem

Roberto também estava sendo observado pelos novos executivos da Caldas Júnior. O presidente da empresa, Jerônimo Alves, e o vice, Luiz Cláudio Costa, o chamaram para disputar aquela vaga que já ocupara, a direção comercial do Correio do Povo. Foi escolhido e, apesar da tristeza em deixar a TVCom, se diz realizado no trabalho. Elogia, inclusive, a estrutura hierárquica montada pela Record: "É muito legal, porque tem uma área acima dos diretores operacionais - que é o meu caso -, com presidente, vice-presidente e demais diretores, como se equivalesse a um conselho. E abaixo deles, há executivos responsáveis pelas operações. Achei essa forma atraente e estava muito a fim de entrar nesse barco. É um projeto vencedor e o mercado gaúcho vai ser imensamente beneficiado".

Sobre a concorrência com sua empresa anterior, o profissional não se intimida. "É inevitável, quem não trabalha na RBS, tem que bater nela. É a referência. No caso das rádios, a diferença ainda é grande, em TV, também, mas já deve mudar. Já em jornal, não. Zero Hora tem apenas 8 mil ou 9 mil jornais a mais por dia que o Correio do Povo. Pode-se dizer que é um empate técnico em circulação. Ou seja, o Correio é um projeto vencedor. Com pequenos ajustes, que já estão sendo encaminhados, podemos virar o jogo", promete. "E estou tão integrado que parece que nunca saí daqui", brinca, embora a camiseta da TVCom emoldurada, com a assinatura dos antigos colegas - entre eles, Lasier Martins, Tânia Carvalho, Túlio Milman, Pedro Ernesto Denardin e Ico Thomaz -, entregue esse hiato de 10 anos fora da Caldas Júnior. "Tem prêmio maior? Não tem, né? Foi uma surpresa, até chorei quando saí de lá", revela.

Viagens e futebol

Além da atuação em veículo, há 12 anos, Roberto associou-se à DC Tur, operada por sua esposa, a bacharel em Turismo Ligia Ayub Pauletti. "A agência é um case de sucesso. Falo sem problema de auto-elogio, porque é verdade. Ela achou seu nicho. É uma butique especializada, não uma loja de varejo", comemora. Há quatro anos, o casal adquiriu a totalidade da empresa. "Hoje, somos os donos, temos cinco funcionários e minha filha Roberta, também formada em Turismo, trabalha lá", conta. Roberto e Ligia estão casados há 28 anos e ainda têm Carolina, que é pedagoga. A atuação nessa área veio a calhar, já que a família adora viajar. As filhas já moraram fora do país e o casal faz, todos os anos, pelo menos uma viagem para o exterior. "Não abro mão de férias, mas também viajamos muito a trabalho", explica.

Também não dispensa o futebol. Joga duas vezes por semana com uma turma de ex-profissionais. "Sou colorado, mas não sou secador do Grêmio. Só hoje!", brinca, se referindo à final da Copa Libertadores da América, disputada no dia da entrevista. Outro esporte que pratica regularmente é tênis. Pauletti reclama da falta de segurança nos estádios e, por isso, prefere assistir às partidas em casa, pela televisão, que também adora, especialmente documentários, telejornais e filmes. "Não vou a campo, porque acho que o futebol está com um problema, está degradado. Passou a ser um campo de soluções de coisas não resolvidas. Há pessoas que intimidam um estádio inteiro com a violência e não têm repressão. A maioria vai para curtir e se divertir, mas tem uns caras que chegam antes para ficar bebendo, se drogando e depois quebrar o pau. Quando a polícia chega, bate em gente que não tem que apanhar. E, pô, é uma coisa que não é difícil resolver", ressente-se.