Paulo Inchauspe: guiado pelo som...do coração!
Músico e compositor de trilhas sonoras, ele divide o tempo entre o estúdio que montou em casa e a família

Se a vida tem trilha sonora, qual é a sua? (pode responder mentalmente). Difícil mesmo é perguntar ao dono deste perfil qual é a dele, já que Paulo Inchauspe é músico e compositor de trilhas sonoras. "Por la fontera yo soy ló que soy y yo soy 100%"', a música de Mauro Moraes vem à cabeça já nos primeiros minutos da conversa e tem razão de ser: Santana do Livramento é o lugar que tem o coração de Paulo e é pra lá que ele sempre quer voltar. Talvez seja pelo cheiro, pelas lembranças, ou pela saudade das pessoas que fizeram parte da sua vida e que moravam lá, talvez pelas intermináveis partidas de futebol, mas isso só até o menino tímido e retraído ganhar de presente da sua avó, aos 11 anos, uma guitarra. Paulo poderia ter sido um jogador de futebol e estar morando nas Maldivas, mas depois daquela guitarra tudo mudou. E o que ficou em Livramento foram as mais doces memórias afetivas.
Elas são acompanhadas do carinho da mãe Silvia Carvalho, dos ensinamentos da avó Jandira e das lembranças do pai Alcides Couto Inchauspe, que por ser piloto de avião nem sempre esteve presente na vida do filho. Quem assumiu a referência masculina foi o tio Waldemar, de quem Paulo guarda com carinho as conversas e as idas ao estádio para assistir às partidas de futebol. E também um episódio engraçado. "Eu já era mais velho, quando fui visitar o tio e ele pediu para eu atravessar a rua e mostrar meu som ao vizinho dele, o músico Volmir Martins. Eu fui. Quando voltei pra casa do meu tio, ele perguntou ao Volmir "e aí, que tal o guri?", e o Volmir disse que eu "tocava que era uma barbaridade", conta, sorrindo, ao recordar o episódio que guardou no coração.
Tem um assunto que faz o olho do Paulo brilhar mais do que a música: família. Ele é pai do João Pedro, 21 anos, e Arthur, 16 anos, frutos doprimeiro relacionamento, além de Matheus, sete anos, seu filho com Cris Silva. O caçula é o xodó de todos. Para os três filhos, Paulo sempre tem tempo, ocupados com passeios e conversas. "Quando eu contei aos mais velhos que iria ser pai de novo, eles me perguntaram se eu estava preparado. Respondi que eles haviam me preparado", recorda. E é pensando neles que encontra uma trilha sonora "estou condenado a ser melhor do que ja? fui um dia", do saudoso Bebeto Alves.
Com uma curiosidade aguçada, ele passa boa parte do tempo dentro do estúdio. Ouvindo sons (e seus próprios pensamentos). É ali, nesse casulo, dentro da própria casa, que ele cria suas trilhas e se dispõe a aprender. Na companhia inseparável de uma xícara de café. Recentemente, mergulhou nos estudos de como pilotar aviões. O motivo? Medo de altura. Por enquanto, a ideia está só na teoria, a prática foi freada pela companheira.
Outra paixão é o mergulho. Guiado pelo som? do coração. Ele mergulha e parece que voa, pilotando. Embaixo da água, escuta a respiração e as batidas do coração. E isso só acontece com quem tem a oportunidade de ouvir o som ensurdecedor do silêncio. Paulo conta que dá para ficar estabilizado, parado no (m)ar. Assim, ele vai seguindo seus instintos. Atento aos seus desejos mais profundos. Exceto andar de moto, outra área de interesse, mas freada pelos riscos.
Música e comunicação
O caminho de Paulo no rádio começou quase por acaso, mas rapidamente se tornou uma paixão. Enquanto cursava Jornalismo na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), ele se viu cada vez mais envolvido com a comunicação, mesmo sem imaginar que sua trajetória profissional seguiria por esse rumo. O interesse inicial estava voltado para a televisão, mas, ao produzir uma reportagem para a faculdade com foco em música, acabou reencontrando Alexandre Fetter, um velho conhecido dos tempos da rádio Atlântida. Isso porque nos anos 1990, antes de se tornar uma voz conhecida no rádio, ele era um jovem músico tentando espaço para sua banda hard rock. Como muitos da cena independente, ele gravou uma demo e saiu batendo na porta das rádios em busca de uma chance. Na Ipanema, sua tentativa não teve sucesso, mas o destino o levou a cruzar o caminho de Alexandre Fetter. Foi ali que tudo mudou.
O reencontro o levou à Pop Rock, onde deu seus primeiros passos no rádio. Com o tempo, o microfone se tornou sua ferramenta de trabalho e sua forma de expressão. Falar para um público era algo novo e desafiador, mas ele logo percebeu que a essência estava na simplicidade: apenas falar.
A música sempre esteve presente em sua vida, mas na rádio ele encontrou uma maneira diferente de se conectar com ela e com as pessoas. Foi assim que, sem grandes planejamentos, Paulo encontrou sua voz e deu início a uma carreira que se desdobraria em muitas outras oportunidades dentro da comunicação e da música. Desta época, recorda com carinho de quando, ao lado do parceiro Arthur de Faria, se tornou parte do cotidiano das pessoas, por meio de ringtones populares da Claro. "A música tem esse poder de conectar as pessoas, e isso é algo que me faz seguir em frente", revela.
Outra paixão
O destino tem formas curiosas de entrelaçar vidas. Para Paulo, foi a força de uma palavra lançada ao ar que desenhou o primeiro traço de sua história com Tita, apelido de infância de Cris Silva. Era mais um dia no rádio, quando durante o programa 'Cafezinho', ele citou o nome dela, reconhecendo sua credibilidade como jornalista. Um elogio sincero, dito sem pretensão, mas que encontrou eco no tempo. Mal sabia ele que, naquele instante, as ondas sonoras carregavam não apenas sua voz, mas também um prenúncio do que viria a ser uma grande história de amor. Com amigos em comum, foi fácil chegar aos ouvidos da apresentadora que havia sido elogiada. Às vezes, o acaso tem sua própria trilha sonora, e, naquele dia, tocou a melodia que uniria seus caminhos.
Já são 15 anos compartilhando a vida, viagens, rotina, desafios, o bom e o mal-humor. "Eu sou um cara muito tranquilo, se estou com algum problema ou incomodado com alguma coisa só a Tita sabe", confidencia Paulo. O que ela não sabia é que, em plena pandemia, em 2021, seria pedida em casamento. A surpresa foi toda planejada por Paulo, com a ajuda da produção do programa 'Posso Entrar?'. "A Cris fazia as entrevistas por vídeo, em razão da pandemia. Então, sem ela saber, eu gravei um depoimento em vídeo dizendo: eu vou entrar por aquela porta e nós vamos nos casar. Entrei, de terno, com bolo, alianças e tudo", recorda Paulo.
Foi no palco imponente do Theatro São Pedro, que Paulo e Cris transformaram um sonho em cena na peça 'Fossa Nova'. Juntos, sob a luz dos refletores, sentiram o peso da história e a leveza da conquista, onde cada aplauso ecoava como um sussurro do destino, confirmando que algumas realizações são escritas para acontecer.
Outro grande momento da carreira foi quando teve a honra de abrir o show do Fito Paez no Araújo Vianna, um marco profissional. O cantor argentino, por sinal, dá nome ao cãozinho da raça York que Paulo, Cris e Matheus possuem. Outros artistas são referências para o músico. Entre os cantores e músicos, destacam-se: Arthur de Faria, Beatles, Charly Garcia, David Bowie, Duca Leindecker, Elton John, Elvis, Hanz Zimmer, Paul McCartney, Quincy Jones, Renato Alscher, Roling Stones e Zappa. Já entre os escritores, estão: Cecília Meireles, Eduardo Galeano, Fernanda Young, Gabriel Garcia Marquez, Luiz Antônio Assis Brasil. Além deles, todas as mulheres que sabem a sua importância nesse mundo machista e que lutam para serem e terem suas verdades também são referência, entre tantos outros.
A paixão por fazer trilhas sonoras é uma extensão de sua relação com a música, algo que o impulsiona a buscar cada vez mais novos horizontes criativos. Paulo também nutre um grande amor pelo Cinema, acreditando no poder de imersão que ele oferece, assim como a música. "Ele tem um poder de transporte para outro mundo, que é semelhante à sensação de compor", diz ele.
A próxima trilha
Com o passar dos anos, Paulo foi aprendendo que a verdadeira realização vem de fazer o que se ama e, principalmente, de entender que a vida é feita de processos, nem sempre fáceis, mas necessários. "Aprendi que nem tudo é como imaginamos, e que alguns sonhos têm que ser ajustados no caminho", ele reflete citando o estoicismo. Ele é um homem simples, mas não fácil de entender. Ele acredita na empatia, na bondade humana e na importância da sinceridade, característica própria, que considera uma qualidade e um defeito. "Não sou de sorrir fácil, mas quando algo me toca de verdade, a conexão é real", compartilha, revelando a complexidade por trás do semblante sério. Ele entende que, apesar da vida ser feita de altos e baixos, o mais importante é ser fiel a si mesmo.
Com um olhar voltado para o futuro, ainda tem muitos sonhos para alcançar. "Gostaria muito de fazer uma tour pela América Latina, tocando ao lado de artistas como Fito Paez, ou qualquer músico que compartilhe essa mesma paixão pela música", diz ele com entusiasmo, lembrando que a jornada musical ainda está apenas começando.