Rafael Codonho: Um engenheiro dentro de um jornalista

Discreto e tímido, ele une o talento da Comunicação com as aptidões mais voltadas às Exatas

Rafael Codonho, jornalista e sócio da Critério Resultado em Opinião Pública - Divulgação

A fala é calma, o tom de voz é baixo e linear, mas o sorriso é fácil. Um "cara binário", como brincam alguns amigos, dificilmente se daria bem nas Ciências Humanas - e a facilidade para matemática, por exemplo, reafirmava o cenário. Contrariando a lógica, Rafael Codonho, que cresceu sonhando em fazer carreira em uma grande empresa a exemplo do pai, José Antônio, formou-se em Jornalismo na PUCRS e há 10 anos é sócio da Critério - Resultado em Opinião Pública

Ao lado de Cléber Benvegnú, Soraia Hanna e Tomás Adam, ele responde por toda parte estrutural da empresa, desde a organização de pautas e atendimentos, até sua especialidade, que é o planejamento estratégico de imagem dos clientes, e chegando à garantia de um futuro sustentável do negócio. Essas atribuições não surpreendem quando se descobre que a primeira opção de Rafa, como é mais conhecido, era Engenharia de Produção. "O fato é que, tanto quanto os criativos, é necessário esse lado menos glamouroso e mais 'cricri'. Apesar de ter escolhido uma área social, tenho o lado das Exatas. É o engenheiro que veio para dentro do jornalista", reflete.

Natural de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, chegou em Porto Alegre aos quatro anos, ao lado da pequena família - o pai, a mãe Sônia e a irmã mais velha, a advogada Vanessa. O núcleo reduzido fez com que criassem uma relação forte e unida. Enquanto Rafa tem exatamente a mesma personalidade da mãe, a primogênita e seu José Antônio são mais extrovertidos. O patriarca, formado em Sociologia e Administração, está prestes a concluir a faculdade de Direito, e é nele que o jornalista encontra boa parte das inspirações profissionais.

Um país interessante

Ao se decidir pelo Jornalismo, incentivado por uma professora e alguns familiares, ele tinha um plano: ser cronista ou correspondente internacional. Imaginava morar na Austrália ou nos Estados Unidos para estudar inglês, mas uma inesperada amizade com um grupo de chineses deu a Rafa laços eternos com o país asiático.  Um ano foi o tempo que morou do outro lado do mundo, um interesse que começou na Famecos, quando estudou com orientais que vieram por meio de um convênio da instituição gaúcha com a Faculdade de Comunicação da China.

O afeto permaneceu tão grande que, hoje, ele consome livros e filmes de lá, e ainda se organiza para voltar aos estudos da língua local. Os amigos estrangeiros e o momento que a China vivia, de ser olhada pelo resto do mundo não mais com um conceito pejorativo, colaboraram com a oportunidade de viver naquele país. Com a faculdade gaúcha trancada, ele havia traçado o plano de regressar ao Brasil para concluir a graduação, e voltar à rádio internacional da China, onde trabalhou durante o período. "Não tenho nenhuma simpatia ideológica, mas vejo um país interessante, dinâmico, culturalmente transformador. É um choque cultural muito forte. São civilizações muito distintas, com valores diferentes", analisa.

Há dois anos, uma década depois de ter voltado ao Brasil, conseguiu fazer uma viagem de resgate de memórias. Mesmo com receio de que a esposa Cláudia não gostasse da experiência, levou-a para um roteiro de 30 dias na China. Reencontrou amigos, visitou o antigo trabalho e a faculdade, e ainda teve a tranquilidade de a companheira ter amado o lugar. 

A chegada do empreendedorismo

Após aquele ano do outro lado do mundo, Rafa voltou para Famecos, onde conheceu Cléber, e a sintonia da dupla foi rápida. Foram muitas conversas, caronas de retorno para casa e alguns trabalhos pontuais na antiga empresa do ex-secretário de Comunicação do Estado, a Ver Conteúdo Multimídia. O estudante passou a achar aquele mundo interessante, até que foi chamado para ser estagiário do novo amigo. Trabalhando no núcleo de conteúdo, foi quando se encontrou na profissão.

Pouco tempo depois, Cléber decidiu fechar a Ver e abrir uma nova operação, para a qual convidaria Rafa e o também estagiário Tomás Adam para serem seus novos sócios. O binário Rafa foi quem propôs o nome de Critério Inteligência em Conteúdo. "Não sei de onde veio a criatividade", brinca. O projeto de voltar para China foi para a gaveta, mas ele não vê isso com frustração. Ao contrário, entende o lado empreendedor como "as delicadezas de Deus". A rotina do trio de jornalistas começaria na sala de estar de Cléber, cenário que se manteve até o primeiro contrato fechado e a decisão de investir em um espaço apropriado: uma sala na Carlos Gomes, que, conforme suas palavras, era praticamente um consultório médico, de tão pequena. 

Dois anos depois, o quadro societário aumentou com a chegada de Soraia, a quem Rafa rasga elogios. Ele conta que, quando Cléber foi convidado para o Governo, era uma fase de amadurecimento da empresa e foi aí que ele e Tomás saíram um pouco dos bastidores para assumir a linha de frente. "A Soraia teve um papel incrível nisso. Além de termos muitas afinidades pessoais, ela é uma profissional que eu nunca vi, tamanha sua capacidade. Somos três homens, mas a força da empresa está em uma mulher", garante.

Presentinhos de Deus

E a Critério não deu a Rafa apenas a realização profissional. Trouxe também o amor. Cláudia, que é jornalista, foi "uma pesca no aquário". 'Criteriana', como chamam carinhosamente os colaboradores, assim que começou a trabalhar na empresa, sentava-se em frente ao chefe, que logo colocou os olhos sobre ela. As questões profissionais o faziam lutar contra um possível sentimento romântico, mas percebeu que era hora de investir no relacionamento. E na festa de casamento de um colega da empresa se aproximaram de fato. Enquanto colegas, trabalharam duro para não misturar os papéis. Um exemplo é que, na Critério, sempre há um sócio envolvido no atendimento aos clientes, mas ele e Cláudia nunca atuavam no mesmo núcleo.

A troca de olhares iniciais resultou em namoro, noivado, casamento e dois grandes amores: Helena, de um ano e oito meses, e Luísa, de menos de um mês. Rafa sempre ouviu que tinha "jeito de pai de menina", mesmo sem saber o que isso significa, a tal característica se cumpriu. Muito parecidas entre si, as meninas são a cara do pai, o que desperta um sorriso ainda mais largo do que o normal e um brilho no olho capaz de ser percebido pela tela de uma vídeochamada, durante a entrevista. "Elas são um presentinho de Deus", derrete-se.

Sabe que existem muitas formas de alguém ser completo, mas foi na paternidade que se encontrou como ser humano. "Participar dessa criação de Deus é a prova de que a vida nunca mais será a mesma", resume. Ainda que não descarte aumentar a prole, sabe que é cedo para pensar nisso, mas admite que não é um assunto fechado. "Sei que essa é uma decisão muito mais da mãe, pois a intensidade dela não pode ser comparada à de um pai. Então, respeito muito isso", ensina.

Uma fé inabalável

É nas falas sobre a paternidade que sua fé fica latente. Católico, conta que esta é uma parte muito importante da vida e levada muito a sério. Integrante do movimento Regnum Christi, toda segunda-feira à noite se encontra com um grupo de oração, formado por homens, com quem nutre as melhores amizades. Apresentado à religião por Cléber, acha que a conversão aos 25 anos foi tardia, mas que aprendeu a priorizar na rotina. E o assunto não fica apenas no campo da espiritualidade. Rafa adora ler - histórias de ficção e também sobre a China, por óbvio - sobre Teologia.

Ele tem a compreensão e a companhia de Cláudia na caminhada de fé, algo que cultiva por entender que "se você não alimenta, se perde". E diz mais: "Se a fé não te torna uma pessoa melhor, quer dizer que ela não está totalmente definida". Agora, o desafio é levar Helena à Igreja, para acostumá-la a esse ambiente que os faz tão bem. "Quero apresentar esse caminho a ela. Afinal, nossos filhos são um pouco da nossa extensão no mundo."

Um cara bom

Na lista de preferências para as horas vagas, consta a sétima arte, e os títulos vão desde 'Era uma vez na América', passando por 'Um estranho no ninho', 'Mais forte que a vingança' e 'Sayonara'. Na Literatura, cita títulos como 'O assalto', de Harry Mulisch; 'River town', de Peter Hessler; 'A cabra vadia', de Nelson Rodrigues; 'Stories', de John Cheever; 'O longo adeus', de Raymond Chandler; e 'Imitação de Cristo', de Thomas de Kempis.

Agora, se tem algo que sai da curva desse cara tímido e sereno, é a música. Claro que não surpreende gostar dos estilos jazz e clássico, mas a banda preferida da adolescência é de rock, e dos pesados. Kiss é quem ganha os ouvidos do jornalista há muitos anos. Quando jovem, sabia absolutamente tudo sobre eles, tinha álbuns, mural de fotos e chegou a pintar o rosto (marca registrada da banda) em uma festa à fantasia. Sem contar que, na companhia do pai, sempre parceiro, assistiu a um show deles em Porto Alegre. 

Para manter o corpo em movimento, o fã de esportes individuais voltou a praticar tênis, tendo aulas periódicas. São-paulino por herança, é absolutamente alheio ao futebol, sendo o mais perto que chegou de interesse pela modalidade a coleção de álbuns de figurinha que mantinha quando adolescente. 

Gosta da cozinha, e o que tem ganhado o tempo de lazer de Rafa é fazer pães de fermentação natural. Segundo ele, é algo extremamente trabalhoso, detalhista e terapêutico, pois começa em um dia e termina apenas 30 horas depois. "E para mim, que sou muito ansioso, é um bom antídoto". Mas, afinal, quem é Rafael Codonho? "Um cara que tenta ser bom. Como empreendedor, como pai, como jornalista. Tenho a busca da bondade como principal autodefinição."

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