Renata Maynart: tal qual Porto Alegre, o Jornalismo a tem

Há quase 28 anos ela pisou na redação de ZH pela primeira vez, como auxiliar. Atualmente, editora adjunta do impresso, não pretende parar tão cedo

Uns chamam de acaso, outros de destino. Seja como for, ela acredita que fez a escolha certa ao cursar Jornalismo e não pretende parar tão cedo. Aos 45 anos, a editora adjunta de Zero Hora, Renata Maynart, relembra os primeiros passos nesse mesmo jornal, há quase 28 anos, quando foi contratada como auxiliar de redação. 

"Eu estava no primeiro ano da faculdade, tinha acabado de completar 18 anos. A realidade do cargo na época era diferente, eu comecei passando e recebendo fax e servindo café", conta. 

Foram os gostos e habilidades na escola, com as disciplinas de português e história, que deram a Renata o norte para o Ensino Superior. Muitos jornalistas têm memórias engraçadas e algumas até tristes de como as famílias receberam a notícia de que essa era a carreira que seguiriam. Para ela foi totalmente diferente, a família sempre achou que o Jornalismo era a cara da Renata. E não é que deu certo?

Apaixonada desde pequena pelos cuidados com a saúde física e mental, por meio dos alimentos, revela que chegou a prestar o vestibular para Nutrição, mas a Comunicação ganhou a 'disputa'. Formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), coleciona em sua trajetória com o Grupo RBS algumas idas e vindas. 

Da redação, resolveu experimentar a assessoria de imprensa e chegou a fazer um freelance para Coletiva.net, cobrindo o concurso hípico The Best Jump. Quem a viu por 15 anos ser jornalista na área de arquitetura, com o caderno de ZH Casa&Cia, talvez não imagine que a jovem Renata pensava que construiria sua carreira no jornalismo político. 

Em 2009 fez mais um desvio, por assim dizer, antes de retornar de vez para a 'casa' onde tudo começou. "Fiquei um período de seis anos trabalhando como autônoma e foi muito bom. Segui focada na arquitetura, fiz anuários, revistas como Casa Cor, especiais da Casa Cláudia", ressalta ela.

Ainda de acordo com ela, "todas essas experiências me deram uma visão excelente para o que hoje chamamos de plataformas de conteúdo e produtos customizados. Tudo a gente leva pra vida".

Resiliência

A mais nova entre três irmãs, Renata sabe bem como é estar cercada por mulheres. A montanha-russa da autoestima, a síndrome da impostora, de não se achar suficiente. Ao longo do tempo, passou por todas essas emoções e, em 2016, teve uma virada de chave ao iniciar uma parceria de trabalho com a jornalista Cláudia Laitano. 

O Casa&Cia já fazia parte do guarda-chuva do 2º Caderno, então chefiado por Cláudia, que propiciou que Renata sentisse segurança em sua capacidade profissional. "Eu admirava muito ela e tinha medo dela não gostar do meu trabalho. A realidade, na verdade, foi o oposto. A Cláudia me validava, dava-me luz, integrava-me e me incluía nas conversas." 

A jornalista segue afirmando: "foram atitudes muito importantes até para a minha resiliência. Pouco depois disso, o mundo inteiro em colapso com a pandemia de Covid-19, tivemos muitos momentos em que desistir parecia a melhor opção e me vi tirando forças dali, daquela segurança que ela transmitiu e foi fundamental pra mim".

Também amante do Cinema e da Literatura, Renata ampliou o leque de atuação com o 2º Caderno e Donna, espaços pelos quais já tinha o maior carinho, e passou a gostar ainda mais escrevendo para eles. Ela não se arrepende da jornada. Pelo contrário.

Acredita ser relevante fazer um pouco de tudo no Jornalismo para ter uma boa visão de mercado e saber lidar com diferentes formatos. E como nem tudo são flores, ela confessa que já pensou em trocar de profissão, mas tal qual Porto Alegre, cidade onde nasceu e vive até hoje, o Jornalismo a tem. "Sempre volto correndo."

A filha do delegado

Ela viu repórteres entrevistarem o pai diversas vezes, visto que era uma fonte conhecida na capital gaúcha. Os amigos pegavam no pé, mas ela não tinha como fugir de ser a filha do delegado. Agora aposentado, Ivair Maynart Pereira, 78 anos, fez carreira na Polícia Civil. Quando Renata já era adolescente, o pai e a mãe, Elizabeth Maynart (in memoriam), abriram uma pizzaria em Porto Alegre. 

Os dias de Renata no lar dos Maynart também eram compartilhados com as irmãs mais velhas, Rita, 53, e Rosane, 49. Dessa relação, uma lembrança curiosa: antes mesmo que ser jornalista pudesse passar pela cabeça da pequena menina, ela teve que aprender a ler e escrever 'na marra', como conta aos risos. 

A irmã do meio, Rosane, ganhou da mãe um quadro de giz e decidiu que Renata seria sua 'cobaia'. "Fazíamos tudo juntas e com isso não foi diferente. Ela era uma 'professora' muito rígida, mas funcionou, cheguei na primeira série já alfabetizada pela minha irmã", retrata. 

Entre vinhos e flores

Não vê problema em jantar pão com ovo diariamente, como ela mesma afirma, mas se tem algo de que não abre mão é um bom vinho. O apreço pelos tintos ultrapassou os limites das garrafas e nomeou uma de suas gatinhas, a Tannat. A outra ganhou o nome de flor, Tulipa. 

Gateira assumida, descobriu esse amor meio que "sem querer querendo". Desde criança, os bichinhos da casa sempre foram cachorros. A última companheira canina, Fredda, morreu em 2020 e Renata pensou que não teria mais animais de estimação. 

A 'seita' das amigas gateiras entrou em ação e convenceu a jornalista de que ela adoraria os felinos. "Hoje sou até chata com isso porque elas são sempre o assunto", brinca, mas assegura: "com a Tannat e Tulipa entendi que podia amar gatas também".

Dos vinhos brasileiros aos europeus, também descobriu, já adulta, uma outra paixão, a de viajar. Deixou de lado a ideia de que era preciso companhia para conhecer o mundo, conectou-se consigo e se encontrou viajando sozinha. 

Primeiro, foram lugares no Brasil. Três anos atrás, foi para Cartagena, na Colômbia, e depois disso também já fez uma tour por Madrid e Barcelona na Espanha, Paris, na França e Londres, na Inglaterra. A próxima já está marcada. Esse ano conhecerá Portugal. E, daqui para o futuro, deseja seguir desbravando. "Planejar é uma delícia, só a expectativa já me deixa feliz", comemora. 

Íntimo particular

Existem elementos sobre nós que sabemos que somos. Existem aqueles que os outros pensam que somos. Ela já foi adjetivada de esfinge, misteriosa, enigmática. Perdeu as contas de quantas vezes ouviu as pessoas dizerem o quanto ela é calma. O que acha de si é bem diferente. "Não sou calma, acho graça quando falam isso", aponta. 

No exercício físico, que chega a praticar seis vezes por semana, encontra um ponto de paz para a agitação e ansiedade que, por vezes, tomam conta de seu íntimo. Percebe que quando está muito ansiosa interfere em outras pessoas a sua volta. Não pense, porém, que ela não sabe reconhecer suas qualidades. 

Adaptável e persistente são as duas que considera mais marcantes em sua personalidade. Essa última, aliás, diz que desenvolveu a partir dos 30 anos. Ela cai, faz parte da vida, mas se levanta rapidamente e segue em frente. 

E por falar em particular, um passatempo de Renata é assistir a partidas de tênis na televisão. Defini-se até como 'tênismaníaca'. E de uma tatuagem no braço do tenista suíço Stan Wawrinka, com uma frase do dramaturgo e escritor irlandês Samuel Beckett, tirou seu lema de vida: "Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracasse de novo. Fracassa melhor".

As palavras são parte quase inerentes ao seu existir. Declara que chega a ser motivo de piada entre os amigos, mas não se abala com isso: curte um happy hour, mas é muito caseira, e gosta de passar o tempo livre lendo ou assistindo algo. 

As mais recentes leituras, que a encantaram, foram 'O perigo de estar lúcida', de Rosa Montero, e 'Violeta', de Isabel Allende. "E como boa parte da humanidade, também estou apaixonada pela escrita do francês Édouard Louis. Ele tem um jeito ácido, maravilhoso, sem esconder nada, sem fugir das questões de classe", explana. 

Na televisão, tem fases. No momento, a predileção está para filmes. Não tira da memória a obra prima, em suas próprias palavras, que é 'Sing Sing', filme indicado a três categorias do Oscar em 2025. É de tramas de guerra e crimes reais que ela adora. Sua série preferida é 'Fauda', inspirada em uma experiência real, que apresenta um olhar intenso sobre o conflito entre forças israelenses e grupos palestinos.

Ainda tem mais

Desde dezembro de 2024 como editora adjunta da versão impressa do jornal Zero Hora, assume que sentiu um frio na barriga ao sair de um jornalismo mais controlado, como os cadernos, para a 'loucura' do hard news. "É muito recente, mas estou achando muito bom, está sendo uma redescoberta", garante. 

As várias experiências lhe permitiram desenvolver outras habilidades além da reportagem, como produção e organização de eventos. E como quem vive tudo que a vida lhe proporciona, agarra-se no fato de que já fez muito e que ainda pode ter outros tantos momentos interessantes.

"Sinto-me realizada! Trabalhei para caramba, tive as pessoas certas no meu caminho e um pouco de sorte. Sou muito dedicada e não me vejo saindo de veículo, pelo menos não a médio prazo", explica. Enxerga como principal desafio o próprio mercado, que cada vez mais vai se afunilando. 

Não sofreu grandes situações de preconceito enquanto profissional. Mas a mulher fora do 'traje' de jornalista sente os impactos do etarismo. Resiliente, como dito anteriormente, ela não deixa o medo tomar conta. Em meio a tantas transformações no mundo, segue crendo que também consegue transformar.

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