Renato Sagrera: Jornalismo por inspiração

A passagem pela editoria de Política trouxe fascínio pela história do Brasil e o entusiasmo pela assessoria de imprensa

Renato Sagrera - Arquivo Pessoal

O jornalista Renato Sagrera não imagina o que seria se não seguisse a profissão do pai de criação. Jukir Freitas trabalhou em importantes veículos de comunicação do Estado, como Diário de Notícias e na Folha da Tarde e Folha da Manhã, e o filho, então, guarda lembranças muito afetivas dessa época. Todos os dias esperava com ansiedade a chegada do pai, que lhe trazia guloseimas e brinquedos. Uma vez por mês era levado, pela mãe adotiva, dona Julieta, à redação do Diário. Na época, a família morava na Rua Benjamin Constant e seguiam a pé até o jornal, situado na Avenida São Pedro. "Chegando lá, eu subia as escadas correndo para ver aquelas máquinas de escrever gigantes. Aquilo me encantava", lembra.

Em casa, não era diferente. Nos sábados de folga, seu Jukir adiantava o trabalho da semana seguinte e lá estava Sagrera ao redor da máquina de escrever do pai. O barulho de cada tecla alimentava nele a vontade de bater na 'mánica', forma como falava e que era motivo de risadas. "Adorava pegar as folhas que ele não ia usar e levar para a aula, para rabiscar. Sabia que aquilo ali faria parte da minha vida para sempre", conta.

Tudo tem um começo

A vida acadêmica iniciou na Unisinos, mas, após um ano, pediu transferência para a PUC, onde se formou na Famecos, em 1993. Logo no segundo semestre da faculdade, sua mãe o pegou pelo braço e disse: "Vamos lá na Prefeitura arranjar um estágio pra ti". Naquele ano, Alceu Collares era o prefeito e o assessor de imprensa era o jornalista Melchiades Stricher. Ex-colega de seu pai no Diário de Notícias, Stricher foi o responsável por conseguir o primeiro estágio de Sagrera na rádio-escuta. Durante dois anos, acompanhou os Correspondentes Alfred, da Rádio Gaúcha, e Renner, da Rádio Guaíba.

Terminou sua formação já como jornalista efetivo na Câmara Municipal de Porto Alegre, assessorando diferentes parlamentares. Da experiência, nasceu o gosto pela Política, editoria que, futuramente, mais lhe daria destaque na profissão, além de render boas histórias.

Nas ondas da rádio

Foi um trabalho como freelancer, durante as eleições de 1994, a porta de entrada para sua maior paixão, o rádio. Na ocasião, Sagrera cobriu a vitória do ex-governador Antonio Britto. A oportunidade foi oferecida pelo jornalista Flávio Portela, na época, coordenador de produção da Rádio Guaíba. Finalizado o trabalho, ficou no aguardo de uma vaga efetiva enquanto seguia trabalhando na Câmara, porém agora como assessor da presidência da casa legislativa. Em 1996, já como contratado da emissora, passou a produzir os programas dos jornalistas considerados por ele ícones da comunicação gaúcha, Mendes Ribeiro, em 'A Hora e a Vez de Mendes Ribeiro na Guaíba', e Amir Domingues, no 'Agora', ambos falecidos.

Já era desafiador fazer parte da equipe de grandes nomes do Jornalismo, mas algo ainda maior foi proposto por Portela: a produção de uma série de matérias sobre a Aids. A ideia era informar e auxiliar no combate à proliferação da doença que crescia exponencialmente no País. "Passei 10 dias nas madrugadas de Porto Alegre conversando com diversas pessoas. Entrevistei médicos e pacientes em estado terminal. Entrei em lugares e vi coisas que jamais vou esquecer. Foi chocante", rememora. A série rendeu a Renato o primeiro lugar no Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, na categoria Rádio, promovido pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos e OAB/RS.

Histórias para guardar

Entre pessoas e momentos, o que não faltam são histórias para contar. Durante os plantões nos fins de semana, cobriu motins em presídios e na Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem) - atual Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase). Mas o que brilhava o olho mesmo era o cenário político da época. Sagrera não esconde a admiração que nutria por Leonel Brizola: "Ele gostava muito da Rádio Guaíba desde a época do Movimento da Legalidade. Tinha a responsabilidade e o prazer de cobrir sua visita cada vez que vinha para Porto Alegre".

Em uma de suas passagens pela Capital, participou de uma reunião do Diretório Municipal do PDT para definir o candidato à prefeitura nas eleições de 2000. Durante um caloroso debate entre Alceu Collares e Pedro Ruas (atualmente no Partido Socialismo e Liberdade -PSOL), os ânimos se acirraram. "Estava eu com o microfone em uma entrada ao vivo, quando líderes da ala mais conservadora e da esquerda, iniciaram uma briga com direito a socos, bem na minha frente. Um deles caiu em cima de mim e, por consequência, o microfone", narra. Para ele, o importante era a notícia. Mesmo no chão, continuou a transmitir, quando Brizola pediu um basta: "O que é isso? Quase agrediram o repórter. Subam aqui e deem as mãos, caso contrário não tem mais candidatura e eu quem vou decidir", conta o jornalista.

Outro momento um tanto pitoresco, mas também triste, aconteceu durante uma entrevista com José Dirceu, na ocasião deputado federal de São Paulo, pelo Partido dos Trabalhadores (PT), para o jornal Correio do Povo. Durante a conversa, um senhor simplesmente caiu no chão, estava tendo um ataque cardíaco: "Um pavor. Era eu e o Zé Dirceu tentando reanimar o cara. Logo depois, ficamos sabendo que ele havia falecido no hospital".

Entre a tela e a assessoria

Ainda pelos lados da Caldas Júnior, Sagrera também teve passagem pela extinta TV Guaíba. O gosto pela oratória foi incentivado ainda na faculdade, pelos professores e jornalistas Luciano Klöckner e Flávio Porcello. Na telinha, foi apresentador do programa 'Projeto Mercosul' e substituiu Armando Burd, no 'Espaço Aberto'. Já na TV2 Guaíba, esteve à frente do 'Seis e Meia', onde voltou a trabalhar com Portela, com quem dividiu a bancada. Produzido por Cleber Moreira, o programa era semanal e ao vivo. Com a venda do Correio do Povo e Guaíba para a Rede Record, a atração migrou, em 2007, para o Canal 20 da NET - atual canal Bah!.

Durante anos, Sagrera conciliou a vida de repórter e apresentador com a de coordenador da Assessoria de Comunicação do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS). No total, foram 14 anos dedicados à instituição e dois prêmios do Congresso Brasileiro dos Assessores de Comunicação do Sistema de Justiça (Conbrascom), pelas campanhas 'Mesário Cidadão' e '16 anos: Uma Idade Inesquecível'.

A parceria com o desembargador Luiz Felipe Silveira Difini, com quem trabalhou no TRE-RS, continuou durante sua primeira passagem pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJ-RS), no biênio 2016-2017, onde atuou como assessor da presidência. Desde fevereiro deste ano, após convite, retornou ao órgão para assessorar o atual presidente, desembargador Voltaire de Lima Moraes.

Entre esses dois momentos, retornou para o Canal Bah!, onde apresentou o programa Pergunta & Resposta, juntamente com o jornalista e professor Fabio Berti. Durante uma entrevista com o ex-governador do Estado José Ivo Sartori, foi questionado se não tinha interesse em compor a equipe de Comunicação do Governo Estado. "Dois dias depois, recebi a ligação do jornalista Cleber Benvegnú, na época, secretário de Comunicação", recorda.

Posteriormente, aceitou o convite para coordenar a Assessoria de Comunicação Social da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs), onde permaneceu cerca de 10 meses. Em janeiro deste ano, a pedido do vereador Reginaldo Pujol, atual presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, assumiu como coordenador de imprensa da casa legislativa. Porém, após um mês no cargo, retornou para o TJRS. "Expliquei ao presidente que esse regresso ao Judiciário seria importante e desafiador para a minha carreira. Ele compreendeu e apoiou minha decisão", conta.

Em 2015, inseriu no currículo mais uma atividade: a de professor do curso de Jornalismo, no Centro Universitário Metodista IPA. No momento está licenciado devido à atuação no TJ-RS.

Família, amor maior

Natural de Rio Grande, Sagrera foi adotado com menos de 30 dias. "Foi a típica adoção brasileira, tudo em família. Meus pais naturais passaram a minha tutela à minha tia, irmã do meu pai, que me trouxe para Porto Alegre". E é com grande amor e agradecimento que Sagrera se refere aos pais adotivos, já falecidos. "Tudo que tenho devo aos meus pais Julieta e Jukir. Meu pai plantou em mim a semente do Jornalismo, como não ser agradecido?".

Em tempos de entrevistas virtuais, devido à pandemia do novo coronavírus, situações inusitadas podem acontecer. À espera de uma tele-entrega, João Antônio, cinco anos, filho do Sagrera, começa a participar da conversa ao responder qual a profissão de sua mãe, Karen: "Assistente social", fala. Sagrera é casado há 25 anos. O jornalista aproveita para ressaltar que João tem um irmão mais velho, o Alf, um buldogue inglês, de 10 anos. O nome é em alusão à série americana da década de 1980, 'Alf, o ETeimoso'.

Fascinado pelo mar, dispara: "Se quiser me achar nos finais de semana entre os meses de dezembro e fevereiro, vá para Capão da Canoa. Aonde tenha sol, é pra lá que eu vou", diz, brincando com a música de Jota Quest. As férias da família têm destino certo: Florianópolis ou Búzios. Literatura também está entre suas atividades preferidas. O livro do momento é '1964: O Golpe', do jornalista Flávio Tavares. Se diz um apaixonado por Política e História, em especial pelo Movimento da Legalidade, inclusive, tendo sido o tema da sua tese de mestrado.

A conversa não poderia terminar sem falar do time do coração, o Grêmio: "Meu pai era gremista doente. Foi ele que me apresentou o Estádio Olímpico e suas histórias. Hoje, faço isso com João Antônio, que, inclusive, frequenta a escolinha do tricolor, na Zona Norte", fala, orgulhoso. Entre tantas histórias, destaca a conquista da Copa do Brasil, em 2016, na Arena. "Levamos três horas no engarrafamento e só conseguimos entrar faltando 10 minutos para o término da partida." Para ele, o mais importante era encerrar um jejum de 15 anos sem ganhar títulos.

Cristão devoto, Sagrera preza as boas amizades e a lealdade. "Durante minha trajetória como assessor de imprensa, conquistei muitos amigos. Mais do que um técnico, essa função precisa ser exercida por um gestor de relacionamento", ensina. Ao ser perguntado sobre quem é Renato Sagrera, responde: "Um homem movido pela esperança", finaliza.

 

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