Ricardo Garay: Compondo a vida

Sócio-fundador da produtora de áudio Jinga atua no mercado há quase 40 anos

Ricardo Garay - Divulgação

Quando adolescente, Ricardo Garay queria se divertir tocando bateria. Com a banda de garagem 'Mercado Livre', não imaginava que a paixão poderia lhe render dinheiro. Inclusive, não se atreveu a cursar Música porque não se sentia competente e profissional o suficiente para ingressar em uma graduação na área. Hoje, o sócio-fundador da Jinga percebe o quanto estava errado, e colhe os louros dos quase 40 anos compondo letras que entraram para a história, não somente da Publicidade, mas, também, do cenário musical nacional. E não, não são jingles, como enfatiza, são músicas mesmo que escreve.

No portfólio, com composições como a música de final de ano do Grupo RBS, 'Vida', encomendada por Maurício Sirotsky Sobrinho, brinca que tudo começou "criando musiquinhas, que é o que faz até hoje". O primeiro pedido foi para gravar um jingle para um curso pré-vestibular, e logo descobriram que era possível fazer isso, pois tinha gente que comprava. Aos poucos, foi largando a bateria e se tornando songwriter. Em 1981, os membros da mesma banda de garagem se tornaram sócios ao criarem a produtora Jinga.

União entre paixões

Quando chegou a hora de prestar vestibular, novamente, a música o influenciou. Por meio da banda, conheceu muitos jornalistas culturais. Inclusive, escreveu uma ou duas vezes para o Correio do Povo sobre a temática que tanto adorava, ao ser convidado pelo amigo Ney Gastal. "Acabei desistindo, pois fui censurado e não gostava dessa sensação", diz. Contudo, o namoro não parou ali e começou a cursar Jornalismo na Ufrgs.

Todavia, com a ajuda de um professor, logo descobriu que ali não era bem a sua área. Foi aconselhado a cursar Publicidade e Propaganda, pois tinha um texto bom. Na nova área, foi convidado para trabalhar em agências. Antes de formalizar a Jinga, ou seja, na década de 1970, integrou as equipes da Martins e Andrade, Promox, JR Propaganda, Raul Moreau e Standard - sempre na Criação e com breves passagens -, além do departamento de Comunicação do Grupo RBS. "Eu crescia, aumentava o salário e ia pipocando para outra empresa", conta.

Conhecido no mercado, foi fácil conquistar clientes na produtora que montou logo adiante. Com isso, uniu as paixões de criação publicitária com composição de música. Devido ao lançamento da Jinga e à grande demanda, precisou largar os cursos de Publicidade e Jornalismo - que fazia ao mesmo tempo, e não os finalizou.

Durante a carreira, destaca como marcos músicas que acabaram transcendendo os comerciais e propagandas. Além de 'Vida', que considera o seu cartão de visita e que escreveu ao lado de Calique Ludwig, tem no portfólio canções como o hino do Grêmio Campeão da América, e também do Mundo. Assim como 'Garotas do Brasil' - criada ao lado de Calique, de Maurício Bressan e da Luca Predabon. O que era para ser um jingle para uma campanha da Viamarte, ganhou fama na voz de Sérgio Moah e foi regravada posteriormente pelo Papas da Língua e pelo cantor baiano Netinho. São destaques também da Jinga a produção de 'Horizontes', do espetáculo 'Bailei na Curva', na voz de Elaine Geissler, assim como 'Porto Alegre é Demais', cantada por Isabela Fogaça, para o Zaffari.

Respiro na carreira

Desde 2015, quem toca a produtora é o filho único, Lucas, seu sócio, enquanto Garay é consultor criativo e de assuntos gerais. Além disso, continua compondo e produzindo. "Minha rotina é muito confortável, trabalho das 10h às 18h. Moro aqui perto e venho a pé para a Jinga", relata, referindo-se ao bairro Moinhos de Vento. Dentre suas demandas, ainda estão participar de reuniões com clientes e montar equipes para determinados trabalhos. Diante de todos esses afazeres, não é difícil inferir que a predileção está na composição de músicas. 

A novidade no dia a dia dele fica por conta do neto, Rafael, com nove meses. Adora ficar com o bebê e acha tudo isso o máximo. Outro costume que possui é viajar, pelo menos, duas vezes ao ano. O primeiro itinerário normalmente é para algum país da América, enquanto o segundo destino fica na Europa. Como nunca foi a Vancouver, no Canadá, este é um roteiro que destaca o desejo de seguir futuramente.

Além da música

Quando a questão é lazer, conta que gosta muito de cinema e sempre que pode vai.  Também assiste a alguns filmes em casa, mas acredita que seja menos do que poderia. Isso porque este lugar pertence primordialmente às séries, como é o caso das Sitcoms (tramas com histórias de humor encenadas em ambientes comuns). Cita também 'Hunters', que começou a ver há pouco, e como favorita de todos os tempos, 'Seinfeld'. Amante de  comédias, gosta também de ficção científica - o que confessa ter herdado da infância e adolescência, onde a temática sobre espaço estava em alta. Curiosamente, não é muito fã de musicais, apesar de acompanhar alguns e, de jeito nenhum, olha algo que seja de terror.

Na telinha, também acompanha esportes, como vôlei e ciclismo, mas não se considera um fã, pois é sempre pela televisão que assiste e, além disso, não vai atrás deste tipo de conteúdo. Em relação à paixão de boa parte dos brasileiros, antes curtia mais futebol, mas hoje acha que perdeu a graça. Assim como em relação a ir aos cinemas, é fã das leituras, mas não as realiza como gostaria. Com isso, acaba acompanhando os best sellers - apontados como os livros mais vendidos.

Ao brincar que a sua comida favorita é a que seja boa, revela que tem duas particularidades: não é muito fã de churrascos e não lhe apetece tomar chimarrão. "Sou um gaúcho fora do esquadro", brinca ele, que nasceu em Porto Alegre, no Hospital Moinhos de Vento, como frisa. Aliás, vale ressaltar que não largou mais este bairro de mão. Além de morar e trabalhar ali, também tem uma turma de amigos com quem visita cafés do distrito onde se localiza o famoso Parcão, aos sábados, com o simples intuito de jogarem conversa fora.

Dó ré mi

A maioria das pessoas escuta música como forma de lazer e também para relaxar. Mas para ele isso é trabalho. Garay acaba sempre tentando analisar as canções. Prefere ouvir as que estão fazendo sucesso, visto que estes momentos são para ele trabalho. "Quando uma é interessante, eu acabo prestando atenção e tentando entender como foi gravada, composta e que tipo de arranjos foram utilizados, por exemplo", diz. Por isso, sempre acaba sendo um problema escutar música. "Acabo tendo prazer com as que eu tenho dificuldade de entender, como as eruditas e de orquestra", relata.

Ao dizer que não toca nenhum instrumento, mas consegue fazer acordes em pianos e violões, além de ter deixado a bateria de lado, ainda comenta que também não consegue ir em lugares com música ao vivo. Caso seja boa, fica prestando atenção na melodia e a estudando e, com isso, acaba dispersando do jantar e das pessoas com quem saiu. E, caso seja ruim, o incomoda.

Então, qual é seu hobby? A resposta também está relacionada ao trabalho. Garay coleciona comerciais estrangeiros. Hoje, armazenados em nuvem, eles passam das 52 mil peças, e servem para solucionar pesquisas para compor as músicas para as propagandas.

História de vida

Orador da sua turma no Colégio Farroupilha quando se formou no Segundo Grau (atual Ensino Médio), momento que o marcou bastante, conta que teve uma infância e adolescência muito boas. Irmão de Roberto, Ana e Geraldo, é o herdeiro mais velho da dona de casa e artista plástica Margot, e do comandante da Varig David - já falecidos. Coincidência ou não, o filho de um piloto acabou conhecendo a esposa em um avião. Casados há 20 anos, Garay estava retornando de São Paulo quando Mara se sentou ao lado dele durante o voo.

Teimosia: esta pode ser dita como a maior qualidade dele, assim como o pior defeito. Se ela servirá para ser boa ou atrapalhar, somente o momento pode apontar. Enquanto se define como "uma pessoa que sempre tenta fazer o melhor que pode", confessa que não se sente realizado. "Acredito que sou uma obra em andamento", finaliza.

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