Roberto Villar Belmonte: Consciência social

Especializado em Jornalismo ambiental, Roberto Villar Belmonte acredita na função social da profissão

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Por Karen Vidaleti - 23/11/2014
Na adolescência, vivida no período de abertura da ditadura militar, os debates políticos eram comuns na família, que tinha entre seus integrantes um líder do Partido Comunista Brasileiro e um general do Exército. Filho do também jornalista João Carlos Belmonte - que durante mais de 50 anos se dedicou ao segmento esportivo -, Roberto Villar Belmonte resistiu ao Jornalismo e, por um ano, cursou Engenharia, antes de reconhecer que não era a profissão ideal para si. A proximidade com a comunicação desde menino e o interesse pelo contexto político da época foram mais fortes e o ajudaram a decidir pela profissão. "Me dei conta que não era o que eu queria. O que eu queria era mudar o mundo", declara.
Estudante de Jornalismo na Famecos, entrou para a Rádio Gaúcha como estagiário. Com o diploma em mãos, em 1991, foi contratado como repórter. Na emissora, recebeu uma missão que marcaria toda a carreira: integrar a equipe de cobertura da Rio92, conferência de meio ambiental da Organização das Nações Unidas. Acompanhou a reunião diplomática da Rio92, que reuniu os principais chefes de Estado do planeta. "Ali, pude confirmar o quanto é importante a profissão de jornalista e que, sim, é possível participar desse processo de mudança, que hoje se chama por um mundo mais sustentável", diz.
Foi como preparativo a esse trabalho que começou a estudar sobre jornalismo ambiental e, depois, não parou mais. Na trajetória, ainda criou o programa Gaúcha Ecologia, estudou por três anos Filosofia na Ufrgs - graduação que ficou inconclusa -, especializou-se no segmento com curso na Suécia, ajudou a fundar a Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental em 1998, e participou de congressos internacionais. Em 1999, recebeu convite para assumiu o cargo de coordenador de Comunicação do programa Pró-Guaíba, do Governo do Estado, o que o levou a deixar a Rádio Gaúcha. No ano seguinte, passou a coordenar o conteúdo da "Revista Campo Aberto", da Massey Ferguson, tarefa que desempenhou por uma década.
Também colaborou com o jornal de bairro "Oi Menino Deus", com duas reportagens reconhecidas pelo Prêmio ARI de Jornalismo; com o jornal Extra Classe, do Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro/RS); com a agência de notícias Inter Press Service (IPS); e com a Greenpeace, organização para a qual produziu o relatório "Mudanças de clima. Mudanças de vida". Hoje, dedica-se à academia, ministra oito disciplinas em cursos de Jornalismo (uma na Ufrgs e sete na UniRitter), está próximo de concluir o mestrado e já planeja o doutorado.
A pauta virou hobby
Admite que, ao longo da carreira, precisou aprender a lidar com a expectativa gerada pelo fato de ser filho de personalidade reconhecida no Jornalismo. "Brincava que iria fundar o sindicato dos filhos, mas era um peso muito grande", relata, ao explicar que, inicialmente, assinava apenas o sobrenome materno. Ao prestigiar as cerimônias de entrega do Prêmio ARI de Jornalismo, o pai surpreendia os colegas ao apontar o repórter recém-premiado como filho. "Tem gente que até hoje não sabe que sou filho do meu pai", conta, acrescentando: "Isso mudou depois de uns cinco anos de psicanálise. Faz mais de 15 anos que assino como Belmonte, com tranquilidade", assegura.
Do pai, recebeu dicas que ajudaram a compreender mais sobre reportagem no rádio. "Eram coisas comuns para profissionais, mas que, para quem estava começando, valiam ouro", ressalta. O jornalista Flávio Dutra, na época coordenador de Esportes da Gaúcha, também deu sua contribuição. "Ele dizia: "Não tenha pressa de sair do microfone. Sente o sabor de cada letra da palavra". Quando me disse isso, tudo ficou mais claro." Além destes, dois repórteres, Carlos Wagner e André Pereira, tiveram papel especial na formação de Roberto, ajudando a entender o que é jornalismo, ainda enquanto estudante. Na área ambiental, os jornalistas Randal Marques e Liana Jon são referências. "Nos meus devaneios, sempre converso com eles. Penso em como eles fariam", revela.
Buraco de rua e Rodovia Freeway engarrafada foram pautas constantes enquanto repórter de Geral, um período que considera de intenso aprendizado. Especialidade do pai, o esporte rendeu apenas uma pauta a Roberto, e os ensinamentos acabaram sendo aproveitados no lazer. Certa vez, ao lado do colega Leonardo Acosta, transmitiu um salto de paraquedas e, para isso, precisou fazer um treinamento específico. Depois da reportagem, começou a praticar o esporte como um hobby.
Memórias de guri
Porto-alegrense, filho de jornalista e da educadora Lígia, Roberto nasceu no bairro Meninos Deus e, quando tinha em torno de oito anos, passou a viver em Ipanema. Andar de skate, de caiaque e jogar futebol no campinho são algumas das lembranças de uma época em que as crianças podiam brincar na rua, da manhã ao fim do dia, sem preocupações com segurança. "Tive uma infância de moleque de rua saudável. Me sinto um privilegiado por ter vivido essa época", diz.
Com a família materna baseada em Uruguaiana e a paterna em Itaqui, costumava visitar parentes na fronteira oeste e, assim, desfrutar da verdadeira vida rural. Recorda que o avô materno, quando vinha a Porto Alegre, o ensinava a plantar tomates sem agrotóxicos. "Acho que isso tudo me ajudou a desenvolver essa sensibilidade ambiental", pontua. Também foi nos tempos de menino que realizou aquela que considera sua primeira reportagem ambiental. A "pauta" foi o corte pela CEEE de uma árvore da rua em que morava. Roberto, com 12 anos, documentou a poda com uma máquina de fotografar infantil.
Hoje, com grande parte da rotina preenchida pelas atividades do mestrado e da universidade, atividades de lazer, como ir ao cinema, ao teatro ou andar de skate, estão em segundo plano. Sempre que pode, tenta dedicar o tempo livre ao filho, João Pedro Oliveira Belmonte, de 15 anos, sobre quem fala cheio de orgulho. "Ele não sabe, mas o texto dele é maravilhoso. Ele comenta um jogo melhor do que comentarista de rádio. Tem todas as armas para ir para o jornalismo, mas a gente não faz esse tensionamento", garante.
Jornalismo em tudo
No cotidiano, são leituras obrigatórias as reportagens principais de jornais "Folha de S. Paulo", "The Guardian", "O Globo", "Estadão", "The New York Times", além de uma leitura mais tranquila da edição de "Zero Hora". Pelas redes sociais, também acompanha serviços de comunicação da área ambiental. Já os livros, que hoje se espalham pela casa, tratam sobre Jornalismo e teorias. "É tudo que tenho lido nos últimos anos", reconhece.
Na adolescência, acompanhou o surgimento do rock gaúcho, tocou guitarra e até escreveu canções de protesto, mas, atualmente, o que ganha seus ouvidos é o radiojornalismo. Sempre que tem um rádio ligado por perto, o aparelho está sintonizado em uma emissora jornalística. Escuta a programação musical da Ipanema FM e da Antena 1, mas a preferência está mesmo no jornalismo, que acompanha pela Gaúcha. "É um saco, eu sei, mas eu gosto. Notícia é música pra mim", ratifica.
No futebol, apesar de torcedor e sócio do Internacional, afirma que não é capaz nem mesmo de dizer a escalação do time. O filho e o pai, segundo ele, são os grandes conhecedores do assunto. "Gosto de gritar gol e xingar o juiz. É o máximo que consigo", brinca. Com o incentivo de João Pedro, voltou a praticar outro esporte. Há cerca de 10 anos, o filho pediu para aprender a andar de skate e acabou levando o pai para o esporte. "Encontrei vários amigos de adolescência, também com os filhos andando de skate."
Para mudar
Roberto acredita que tem na determinação uma qualidade, que, por vezes, pode se converter em um defeito. Isso porque, quando decide fazer algo, exige que seja bem feito. "Quando as pessoas não fazem como quero, às vezes, me torno meio intolerante", admite. Como jornalista, crê que precisa ouvir mais, aspecto que também tem se esforçado para aperfeiçoar.
Aprimorar o conhecimento, seja com cursos em instituições de ensino ou buscando informações de forma independente, é uma atividade que aprecia. No futuro, além de concluir o mestrado, planeja fazer doutorado e também pós-doutorado. "Sempre gostei disso, estudar me realiza. Me fascina tentar entender as coisas à minha volta da forma mais abrangente possível", argumenta. Outra meta é entrar para o mundo da ficção, segmento já explorado pelo irmão, o escritor e jornalista Caco Belmonte.
Com 23 anos de profissão, Roberto ainda mantém a mesma vontade de "mudar o mundo" que o levou para o Jornalismo. Utopia ou bobagem para alguns, para ele, se trata de reconhecer a função social do jornalista e a participação no processo de construção de uma sociedade melhor. "Não me satisfaz essa vida superficial, sem propósito. Isso não me dá prazer. Com 46 anos, tenho condições de saber o que quero, o que me realiza. É pra isso que estudo, pra isso que trabalho, que dou aula", conclui.

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