Sebastião Ribeiro: Um verdadeiro entusiasta

Jornalista fundador da agência Cartola Conteúdo, enxerga a Inteligência Artificial como uma poderosa e desafiadora ferramenta de transformação

A Comunicação sempre esteve no radar de Sebastião Ribeiro. O gosto pela escrita, o hábito de ouvir rádio e ler jornal diariamente contribuíram na escolha pelo Jornalismo. No entanto, a decisão, de fato, ocorreu apenas na fila de inscrição para o vestibular. A opção também agradou ao pai que, discretamente, fazia uma "certa pressão" para que resolvesse seguir esse caminho ao invés da Publicidade.

Formado pela Fabico, da Ufrgs, o porto-alegrense iniciou sua trajetória profissional como muitos estudantes aqui do Estado: nos porões do Palácio Piratini, na rádio escuta. Mas foi como repórter que teve a oportunidade de vivenciar um pouco de tudo. Na Rádio Bandeirantes, que ressalta ter sido a melhor escola de reportagem, rodava a Capital e região Metropolitana dentro de uma Towner em busca de notícias. O dia era geralmente uma surpresa: "Em um dado momento, estávamos no Tribunal de Justiça e, no outro, na periferia para cobrir um assassinato".

O jornalista destaca que a aventura não se dava apenas pelas coberturas diversas, mas igualmente pelos 'passeios' com a equipe num veículo sem ar-condicionado, em pleno verão de Porto Alegre. A rotina se repetiria na TVE, mas com um adicional que rendia boas risadas. Por se tratar de TV, o uso de maquiagem se fazia necessário, o problema é que, além dos produtos utilizados não serem da melhor qualidade, as altas temperaturas não colaboravam. 

A tensão era tamanha que ficava evidente: "A pele começava a derreter e aquele pó na testa coçando, era desesperador". Passadas algumas aventuras, decidiu que seu negócio era escrever, o que o levou para imediações da rua Érico Veríssimo. Por cinco anos, atuou nas editorias de Economia e Rural da Zero Hora. Ainda no veículo, recebeu um convite muito especial que acabou mudando por completo o rumo da sua carreira.

Tirando o coelho da cartola

Chamado para escrever um livro, enxergou na ocasião a oportunidade de refletir sobre seu futuro. Para começar, pediu um afastamento da redação, o que o ajudou a perceber que queria muito mais do que o presente estava lhe proporcionando. "Olhava para aquela sala, com cerca de 200 jornalistas, entre eles tantos talentos, e já não me enxergava inserido na cultura da empresa", conta. As ofertas para atuar como freelancer também mostraram que o mercado parecia estar à procura de algo que as já conhecidas agências ainda não ofereciam.

Foi assim que Sebastião e a dupla, formada pelos jornalistas Clarissa Barreto e Alexandre de Santi, fundaram, em 2009, a Cartola. Quando nem ao menos se falava em produção de conteúdo para empresas, a agência foi pioneira: "Esse termo nem era utilizado, quem cunhou foi o Alexandre". Com um caminho aberto e cheio de possibilidades, o jornalista conta que o trio passou a navegar num oceano azul e classificou o momento como "bem romântico". 

Com aquele ímpeto de que tudo era possível, alugaram uma salinha e, ao redor de uma mesa, pautas eram discutidas à exaustão. Não demorou para o empenho da equipe ser reconhecido também por grandes veículos como Globo e as revistas Veja e Superinteressante. Rapidamente, a agência passou a ser referência e trouxe para os sócios não somente satisfação, mas questionamentos sobre o futuro do negócio.

"A gente queria e precisava se mostrar mais sérios, mas não sabia se o caminho era virar uma cooperativa ou mesmo um coletivo de jornalistas", explica. A falta de experiência em administração em nada atrapalhou o crescimento da agência, que percebeu que havia mais um nicho a explorar: as redes sociais. Sem medo de encarar o novo, Sebastião passou a estudar um universo até então pouco conhecido. De forma natural, a Cartola passou a entregar conteúdo, estratégia e performance, consolidando-se no mercado como uma agência, segundo o jornalista, full service.

A união faz a força

Se tem uma coisa que Sebastião acredita é que, quando há união, tudo é possível. Sua caminhada demonstra isso. A criação da Cartola, que tinha em seus sócios o espírito coletivo, aflorou no jornalista a vontade de fazer a diferença. Mas foi no Festival de Interatividade e Comunicação 2016 (FIC) que descobriu o poder do associativismo. Na ocasião, recebeu, com muita surpresa, o convite para ser mestre de cerimônia de uma das trilhas do evento. 

A paixão pelo modelo que incentiva a cooperação arrebatou seu coração e o levou a querer defender ativamente os interesses comuns dos profissionais da Comunicação. A empolgação é tamanha que, ao falar sobre o assunto, faz questão de deixar um recado: "Recomendo aos empresários, independentemente do segmento que atuam, a conhecer o conceito. Quem sabe acabem apaixonados como eu". 

A paixão virou ação quando decidiu integrar a diretoria da Associação Brasileira dos Agentes Digitais (Abradi-RS), permanecendo por três gestões, entre 2017 e 2022. Em novembro do ano passado, encarou o desafio de compor a primeira formação da diretoria da Associação Nacional do Mercado e Indústria Digital (AnaMid), ao lado dos demais fundadores da entidade, Jonatas Abbott, da Dinamize; Márcio Coelho, da Brivia; e Moyses Costa, da OndaWeb.  

As maiores paixões - volume 1

Sebastião é um homem de muitas paixões. Aliás, atenção para o momento fofura. Ao iniciarmos a conversa, o jornalista estava acompanhado da Isadora, sua filha de 11 anos, que por alguns instantes aproveitou o chamego do pai. Ela, o filho João de 14 anos e a esposa, a arquiteta Rafaela, ocupam um lugar único e sagrado em seu coração.

Como Isa estava em cena, é dela que começa a falar. Das suas características, destaca o fato dela ser uma menina cheia de atitude e muito comunicativa, por isso brinca que "ela corre um sério risco de ir para a Comunicação". Além disso, é sua maior parceira quando o assunto é boteco: "A guria é rueira que nem eu". Já João é mais caseiro, adora vídeo game, mas também dedica seu tempo aos simuladores de voo, já que deseja ser piloto de avião. 

Há algum tempo, o jornalista vem avaliando um pedido de João, que deseja sua companhia para ir aos jogos do Grêmio. Filho do advogado, ex-deputado e ex-presidente do Grêmio Foot-ball Porto Alegrense, Paulo Odone, Sebastião respirou futebol durante a infância e adolescência, o que o levou a se afastar um pouco do clube do coração. No entanto, acredita que o fato de estar sendo estimulado pelo pequeno pode se transformar em "um momento bonito entre pai e filho". 

Os elogios também são dedicados à esposa, a quem conheceu por intermédio do grande amigo, ex-colega de faculdade e cunhado, Tiago Ritter. Ela é também filha do jornalista Jurandir Soares. Além do próprio escritório, Rafa apresenta o programa Arquitetura Legal e o Mundo das Perícias, na Rádio Arquitetura, e, em paralelo, toca a empresa Chama Velas Artesanais. 

As maiores paixões - volume 2

Nesse enorme coração não poderia faltar o imenso amor dedicado ao trio de peludos. O gato Saldanha e a dupla de Pastor-de-shetland, Ive Brussel, de quatro anos, e Teo, de um. A raça dos caninos é muito especial, ao ponto de ter um grupo no whatsapp formado por tutores de todo Brasil. Atualmente o Shelties Brasil conta com 450 pessoas, incluindo o jornalista, que afirma que é impossível acompanhar a interação diária, mas que dali nasceram grandes amizades e até mesmo negócios.

A propósito, o gosto por conhecer pessoas é uma das suas principais características, assim como enxergar beleza onde poucos as vêem. É pelas lentes do celular que capta todos os atributos de Tramandaí e é nas redes que exibe a série de cliques identificada por ele pela hashtag 'Tramandawaii'. A paixão é tanta, que até mesmo clientes de São Paulo acreditavam que o jornalista morava na cidade. "Antes de conhecer a Rafa nunca tinha veraneado lá. No fim, eu sou o mais apaixonado. Pego a bike e saio pedalando em busca de novos lugares para fotografar", conta.

O azul lhe cai bem

Inusitado é também o sonho de conhecer a festa do Boi Bumbá, em Parintins. Todo ano é programa certo parar em frente a TV para assistir a dupla Caprichoso e Garantido. "Acho lindo, fico todo arrepiado de ver que uma ilha no Amazonas é capaz de produzir algo tão maravilhoso." Como todo bom gaúcho apaixonado pelo manto azul, seu coração é todo do Caprichoso. O encanto é tão grande que até nas redes o jornalista passou a seguir o boi. 

O sorriso desaparece quando revela que ninguém compartilha do seu sonho, nem mesmo como telespectadores. De qualquer forma, ir sozinho não seria um problema, mas, sim, o valor e a logística, já que, para chegar em Parintins, é preciso encarar uma viagem de 35 horas para ir e outras 24 para voltar, num barco repleto de pessoas e redes. "Gosto de conforto e de ar-condicionado, então, não somente o custo é um empecilho", brinca. O sonho já foi adiado algumas vezes, contudo, garante que de 2024 não passa. 

Um entusiasta  

Sebastião não esconde o entusiasmo pelo que está por vir. Aos 43 anos, se diz com todo gás para dar o máximo como empresário. Do papel, pretende tirar um antigo projeto. Um livro só de clássicos do design brasileiro com textos em formato de crônicas buscando traduzir o caráter intangível e essencial de marcas como Havaianas, Melissinha e camiseta Hering World TShirt.

Entre as novidades ainda está o anúncio da Amanita. A agência será um guarda-chuva da Cartola para todas as soluções que envolvem a Comunicação 360. "Ou seja, oferecer aquilo que já estava em nosso escopo como planejamento, execução e mensuração, aliado à criatividade e melhoria de performance", define. Sebastião acredita que todo esse movimento só está acontecendo pois tem ao seu lado a dupla de atuais sócios, Rafael Santos e Marlise Brenol, no controle de tudo.

Ligado no mercado digital e no avanço da Inteligência Artificial como ferramenta de transformação, o jornalista acredita que será um desafio para os negócios se adaptarem. Mais do que isso, é preciso ter vontade de aprender e se acostumar a sempre estar aprendendo. "Não existe conhecimento ou informação pronta que servirá para qualquer carreira." Ele afirma que será cansativo, mas, por falta de opção, é preciso se apropriar do que há de bom.

Comentários