Sepé Tiaraju de Los Santos: Personagem de muitos sons

Nara, Tom, Chico, Betânia, Elis foram jovens que ele conheceu em início de carreira, hoje revigorada com a recém-criada produtora Fon-Fon.

Do apartamento de frente para o Guaíba, literalmente a ver navios, como gosta de enfatizar, Sepé Tiaraju de Los Santos reproduziu, ao vivo na entrevista, os personagens a que deu voz e personalidade. Imitou, como nas propagandas do rádio e da TV, o cowboy Michael das antigas botas produzidas no Vale dos Sinos; o "Cícero" da Super-Pizza, com o conhecido bordão "Tlês, tlinta, tlinta, tlrinta"; o Boi-da-Cara-Preta, um dos "Monstrinhos", da RBS TV; e o recente Stock, parceiro de Wood em "Wood & Stock, Sexo, Orégano e Rock and Roll", longa de Otto Guerra, feito sobre os quadrinhos de Angeli.


O filho de Dona Coca, criado no bairro Petrópolis, em Porto Alegre,  freqüentou durante um ano o curso de Direito da Unisinos. No final dos anos sessenta conheceu "uma galera" que veio do Rio de Janeiro para se apresentar no festival de música "ArquiSamba", um agitado evento que os alunos da Arquitetura da Ufrgs promoviam. Ali, Sepé recorda que fez grandes amizades com músicos como Paulinho Tapajós, Danilo Caymmi e Beth Carvalho. Atrás dos amigos, foi embora para o Rio. Lá, começou como assistente de produção, do também músico Roberto Menescal, pelo selo Philips, da Gravadora Polygram. Nesse momento, se encontrou profissional e socialmente: "Fiz um círculo de amizades que me satisfez plenamente. Aqui em Porto Alegre eu tinha que ter várias turmas", define, afirmando que é uma característica marcante do seu signo, Gêmeos, a de apreciar viver diversas situações ao mesmo tempo.


Turma do áudio


Através de seu trabalho, Sepé comemora a oportunidade que teve, de conviver com importantes nomes da música brasileira, como Nara Leão, Maria Betânia, Tom Jobim, Chico Buarque e Elis Regina. "Imagina para um gauchito criado em Petrópolis? Era um deslumbre aquilo!", rememora. "Tive a oportunidade de conviver e trabalhar com toda essa turma que me introduziu no mundo do áudio. E realmente, foi uma experiência fantástica", salienta.


Sepé viveu o início da carreira de músicos que se tornaram ídolos, como o cantor e compositor Raul Seixas. Produziu o primeiro compacto da música que o lançou, a "Let me sing, let me sing". "Raul era uma pessoa muito certinha. Vestia-se com camisa listrada, calça de tergal e cinto com aquela fivela cromada. No dia seguinte ao lançamento da música, o marketing da gravadora já o havia transformado num Elvis Presley. Ele chegou de jaqueta de couro, óculos escuros. E nós que estávamos em volta achamos engraçadíssimo ver ele fazendo aquele tipo", diverte-se.


Retorno aos pagos


O curso de Direito foi concluído no Rio. Lá também, Sepé teve seu primeiro filho, Diego. A capital carioca ainda o marcou porque foi nela que desenvolveu os primeiros trabalhos de áudio publicitário. Mas em 1976 ele estava de volta a Porto Alegre, onde trabalhou primeiramente na agência de publicidade MPM, e logo depois formou sociedade com o músico Geraldo Flach. Da união destes dois talentos nasceu a Plug. Segundo ele, a produtora fonográfica mais premiada no Rio Grande do Sul, principalmente nos primeiros 15 anos de atuação. Mas com o tempo, os metais se desgastam, e o resultado é que no mês passado Sepé decidiu se afastar da rotina da Plug, embora permaneça na sociedade. "Resolvi apostar numa virada", pondera.


A nova aposta


Agora está instalado na Zona Sul de Porto Alegre, de onde comanda o que considera sua nova empreitada: a Fon-Fon Music. Com menos de um mês de atuação, a produtora apresentada por "Seu Sepé da Fon-Fon" já conquistou clientes no Rio de Janeiro e em São Paulo. O proprietário trabalha em casa, e seu escritório é composto por computador e telefone. A equipe é formada apenas por ele, dois músicos e um operador de um estúdio terceirizado. Ele assegura que está com o gás renovado, após ter deixado para trás 30 anos à frente de uma das maiores produtoras do Estado. E enfatiza que pretende dar muito trabalho no mercado gaúcho.


Quanto ao divertido nome da nova produtora, Sepé justifica que o "fon-fon" é um som utilizado para anunciar venda através de áudio. Sua proposta é de que as pessoas que trabalharem com ele também tenham seu nome antes da Fon-Fon, com o "Seu" na frente. "Uma coisa bem brasileira", defende.


A rotina começa cedo. Após tomar café e "dar uma geral na casa", ele inicia seu trabalho em frente ao computador. Diz que não pára de trabalhar, às vezes, nem mesmo para almoçar. Enquanto acontecia esta entrevista, e-mails entravam a todo o momento: "Estou tento uma produtividade muito maior", confirma. "Esta idéia de fazer um formato menor de produtora, eu persigo há muitos anos".


Vida completa


Do casamento de 20 anos com uma publicitária gaúcha, vieram Daniel e Rita. Ele vive em Nova York e trabalha com fotografia, ela montou a produtora Gogó, aqui no Sul. Já Diego, o filho carioca, continua morando no Rio de Janeiro e tem uma pousada em Itaipava, além de uma empresa de engenharia e consultoria. No dia da entrevista, Sepé esperava a vinda de Diego e de sua neta, Maria Luíza, com 11 anos. A visita era para comemorar o aniversário do avô, no dia 25 de maio. A idade, vaidoso como ele só, não quis revelar.


De uma relação mais recente nasceu Pedrinho, agora com quatro anos de idade: "Ele é meu elixir, minha razão de viver. Nunca imaginei que na minha idade pudesse ter". Idade? Que idade? Mais uma vez, foge da pergunta para falar do novo orgulho: "O Pedrinho é um presentão que Deus me deu. Mas no primeiro momento eu queria arrancar os cabelos".


Sepé confessa que adora o lugar que escolheu para viver, na Zona Sul, especialmente porque todas as janelas de seu apartamento lhe apresentam a paisagem do Guaíba. No escritório, há até um telescópio para vasculhar as estrelas. "Um amigo emprestou", esclarece. Nos finais de semana, gosta mesmo é de sair para velejar pelo Lago afora, e sua vida se completa junto com seus amigos. Em matéria de lazer, toda sua energia está agora dedicada a trabalhar para restaurar e revigorar o Clube Náutico Sava, de Porto Alegre.

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