Thamara da Costa: A rainha do clube

Sempre de bem com a vida, ela se engaja no movimento e garante: "Não consigo ficar parada"

Thamara da Costa Pereira - Crédito: Alina Souza

Em 5 de agosto de 1973, entrava no ar, pela primeira vez, o Fantástico na Rede Globo. A estreia do, à época, inovador programa de televisão atraiu a atenção da jovem Thamara da Costa, com, então, 14 anos de idade. Encantada e impactada com a atração, decidiu, ali, na sala de casa, que seria jornalista. Naquele tempo, porém, entendia que a decisão era um sonho distante e que seria uma missão árdua realizá-lo.

A personalidade inquieta não só lhe garantiu a faculdade de Jornalismo, como também a de Relações Públicas, ambas na PUC. "Não consigo ficar parada. É preciso fazer a roda girar", sentencia, ao tentar explicar sua trajetória. A escolha pelo futuro profissional já dava o ar da graça ainda na escola, quando, nas atividades livres em sala de aula, sua brincadeira preferida era inventar telejornais, baseados, claro, no jornalístico dominical da Globo.

A primeira experiência em redação foi em 1990, no Correio do Povo, por onde passou duas vezes. A primeira foi breve, não mais do que três meses. A segunda, por outro lado, já dura mais de 20 anos. "Era o que eu queria desde sempre", comenta, visivelmente realizada. Também dividiu as idas à redação da rua Caldas Júnior com a Petroquímica Triunfo, onde trabalhou de 1996 a 1998, no setor de Comunicação. Por ter dois trabalhos, não conseguia sair para a rua para fazer reportagem, o que a motivou deixar a outra empresa e se dedicar exclusivamente ao CP.

O caminho inverso

O desejo de se tornar jornalista de fato foi realizado após uma longa experiência como profissional de Relações Públicas, na antiga Companhia Riograndense de Turismo (CRTur), na qual ingressou com 19 anos por influência da mãe, Jurema, que trabalhava na Administração. Foi para a área de RP, pois, quando começou na empresa, não havia vaga de jornalista.

Com a troca de governo, no entanto, os quatro profissionais que ocupavam os cargos foram demitidos. "Era a minha chance", lembra, ao contar que, por isso, voltou à Famecos para cursar o tão sonhado Jornalismo. "Era tudo o que eu queria. Consegui me tornar jornalista antes dos 30 anos", brinca. Ainda como relações-públicas, atuou brevemente na Secretaria da Indústria e do Comércio, nas décadas de 1980 e 1990, à qual a CRTur era vinculada.

Ficou na instituição pelos 16 anos seguintes, quando, em 1996, foi extinta. "Só ficou quem tinha bacharel em Turismo. Dei graças a Deus que eu não era, pois foi a oportunidade para sair sem culpa. O salário era muito bom", confessa. Antes de seguir para o Jornalismo, passou quatro meses na Inglaterra, onde fez um curso intensivo de Inglês. Na volta, foi direto para o CP, de onde não mais saiu. Não esquece, ainda, da época em que trabalhou no Diário Oficial de Porto Alegre, o Dopa, do qual acompanhou toda a transição da edição impressa para a digital. "Foi uma grande evolução", recorda.

Clubes, gastronomia e ARI

Logo que chegou no CP, tornou-se interina do então colunista Eduardo Conill durante suas férias, experiência que lhe garantiu o espaço quando o colega Cesar Krob, que assinada a coluna de Clubes, deixou a empresa, em 2002. Desde 1998, também já estava responsável por matérias especiais de Gastronomia, que ainda assina. E, como uma ação leva à outra, Thamara foi escalada para encarar definitivamente toda a página de Clubes. "No início, pensei que seria chato, sempre a mesma coisa, mas me deparei com um universo fantástico", admite, ao mencionar a importância que essas instituições têm para a comunidade.

Sente-se realizada profissionalmente, pois, quando olha para trás, "tu vês tudo o que fez", e garante que, hoje, embora o assunto seja Clubes, trata de temas variados, como economia, esporte e social. Sobre as inúmeras e incansáveis festas, declara que, no começo, não perdia uma, mas, agora, seleciona as que julga mais importantes, como aniversários das entidades, Bailes de Debutante e Carnaval.

Somado a todas essas atividades, não satisfeita, passou a fazer parte da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), em 2015. Foi chamada pelo então presidente, João Batista Filho, depois de apresentar um projeto para o aniversário de 80 anos da entidade. "Ele gostou e me chamou para trabalhar lá. Fui." Recentemente nomeada superintendente administrativa, vai todas as tardes para a sede da instituição.

Há cerca de cinco anos, finalmente, colocou em prática aquela vontade que nasceu quando viu o Fantástico pela primeira vez. Na televisão desde 2013, faz comentários sobre clubes. Começou na TVU e na Poa TV e, há um ano, apresenta um quadro no qual cobre eventos no Canal Bah. "É muito divertido", comenta.

Quem acredita sempre alcança

Da mãe, falecida, só carrega boas lembranças. E emociona-se ao falar daquela que considera seu maior exemplo. "Dei o azar de ter tido uma baita mãe." Lembra que sua morte foi um choque, visto que ela veio a falecer dois dias depois do nascimento da filha, Mariana, hoje com 14 anos. Sem esconder a emoção, Thamara lembra que a avó chegou a pegar a neta no colo ainda no hospital. E foi ainda nas dependências da casa de saúde que a jornalista soube do ocorrido. "Ao ver todos no quarto do hospital, cheguei a pensar que era alguma coisa com a Mariana, alguma doença. Quando contaram da mãe, ao mesmo tempo em que deu alívio por não ser nada com a Mari, senti uma dor imensa."

O primeiro pensamento sobre a filha tem fundamento, pois a pequena foi muito desejada por Thamara, que foi mãe aos 42 anos de idade. "Pensei que nem ia mais ter um filho, mas eu queria muito e ela veio. Por isso ela é maravilhosa", derrete-se. Antes de Mari, porém, chegou a perder três bebês, barra que enfrentou ao lado do companheiro, o também jornalista e ator Antônio Czamanski, que trabalha na TV da Assembleia Legislativa e a quem conheceu em um trabalho temporário na rádio Guaíba.

O casal pensou em adoção e chegou a ver as possibilidades na Justiça, mas Thamara confessa que não queria esperar pela burocracia. No último fio de esperança, antes de Czamanski viajar, ela engravidou. Quando recebeu a notícia, evidentemente que o pensamento da perda a assombrou, tanto que só revelou a gravidez para os amigos quando não conseguiu mais esconder a barriga.

Para ela, a fé foi uma grande aliada neste processo. Católica de criação, adora os rituais como a novena. "A do Divino Espírito Santo é linda." Mas, antes de engravidar de Mariana, buscou orientações religiosas que a desestimularam. "Primeiro, um padre me disse que, com minha idade avançada, eu não poderia mais engravidar. Em um Centro Espírita, falaram para eu abraçar o Daniel como filho [fruto de um relacionamento anterior de Czamanski], mas ele tem a própria mãe. Não é a mesma coisa."

Já desanimada, foi na igreja Seicho No Ie, onde, finalmente, encontrou o consolo que precisava: "Me disseram que, se eu queria ter um filho, eu teria. Isso me fez acreditar e o resultado está aí." A partir de então, passou a admirar a filosofia de origem japonesa. "É uma terapia pensar que o que acontece conosco é um resultado das nossas próprias ações."

Fazendo a roda girar

É dentro de um avião que encontra a verdadeira realização pessoal. "Não tem coisa que mais me dê energia do que viajar. É o dinheiro mais bem investido", assegura e, pelo menos uma vez ao ano, arruma as malas e 'se manda'. Dos diversos carimbos no passaporte, lista Paris, Peru e Cancun, onde passou as últimas férias ao lado de Mari, que, inclusive, a acompanha sempre que possível. Acredita que o espírito livre herdou do pai, Walter Pereira, também falecido. "Ele viveu do jeito que quis. Se eu pudesse escolher uma vida que não fosse a minha, seria a dele."

Em virtude das viagens, gastronomia não é um problema. Ou melhor, para ela é, pois lamenta, aos risos, comer de tudo. "Esse é meu defeito." Tudo é bom, doces, cozinha francesa e italiana com seus molhos. Além de se deliciar nos pratos, é assertiva ao dizer que prepara uma lasanha de berinjela imbatível. Lembra que aprendeu a cozinhar ainda na juventude, durante uma viagem com as amigas para a praia da Pinheira, em Santa Catarina. O motivo: não queria lavar a louça para tanta gente. Também conta que, quando morava sozinha, "montava um prato bem bonito, botava a mesa e me servia de vinho. Eu mereço, ué? Não tenho problema com solidão", afirma.

A irmã mais nova de Tânia e Tanise é viciada em notícia, tanto que, na TV, não tem muito espaço para filmes ou séries. O negócio é jornalismo. Por isso, costuma zapear entre os canais Globo News, Record News e Band News, e, sempre que chega em casa, liga o rádio. Pelo dispositivo, além de informação, gosta de ouvir MPB e revela-se uma fã incondicional de Chico Buarque. Não costuma tietar, mas lembra que não resistiu quando o encontrou em um restaurante no Rio de Janeiro. "Fiquei simplesmente encantada e pedi um autógrafo."

É gremista por influência da família, mas não costuma assistir aos jogos por ter pena dos goleiros. No quesito esporte, no entanto, o que realmente ganha sua atenção é o Basquete, e, na adolescência, chegou a integrar o time do Petrópole Tênis Clube. Tanto é que, se não fosse comunicadora, gostaria de ter sido uma grande jogadora da modalidade. Hoje, porém, admite que não faz mais nada de atividade física.

Explica seu jeito de ser por ser virginiana com ascendente em Sagitário: "Virginiano é chato e sagitariano é legal. Soma isso com a Lua em Leão, que é festivo. Essa sou eu". Coloca na lista das características, também, o otimismo e reflete: "A gente veio aqui para ser feliz. Temos que reconhecer nossos erros e fazer de novo para aprender. Temos que fazer o certo e escolher o melhor caminho. Sei que sou importante para uma grande estrutura, mas não preciso ser protagonista".

Comentários