Vicente Romano: Um cara simples

Com 30 anos de carreira, e toda ela feita na Assembleia Legislativa do Estado, Vicente Romano se sente realizado na profissão

Por Márcia Farias - 01/02/2013
O cenário escolhido é o Solar dos Câmara, embaixo de uma árvore muito grande e centenária. É ali que Vicente Romano se sente à vontade para descansar um pouco enquanto recorda a trajetória profissional. Aos 52 anos, o novo superintendente de Comunicação da Assembleia Legislativa do Estado sente-se realizado e mostra-se pouco ambicioso. Um homem simples e despojado, a bem da verdade. "Faço o que gosto, que é aliar comunicação com política. Então, não preciso de mais nada", resume, com tranquilidade. Nem lhe falta algo no campo profissional, já que a indicação para a superintendência foi recebida como um enorme reconhecimento. Para o futuro também não almeja nada de especial, quer manter tudo como está: "Não me imagino em nada diferente", diz.
Formado na turma de 1982 da Fabico, Romano construiu sua carreira basicamente na Assembleia. Com 30 anos de casa, ele sente orgulho desse tempo e do conhecimento que adquiriu sobre todo o seu funcionamento. "Já teve quem me dissesse que eu conheço mais do Legislativo do que muitos deputados daqui", contou - o que é bem provável, considerando as três décadas de atuação. Dedicado, ele tem certeza que é: quando gosta de fazer algo, se atira de cabeça. "O pessoal daqui já se acostumou a me ver das 8h às 20h, por exemplo." Aliás, essa entrega é tamanha que ele optou por morar no centro da cidade, para que a locomoção fosse facilitada. Até porque seus deslocamentos são feitos a pé ou de táxi, pois não dirige e nunca sentiu vontade de aprender.
A decisão de atuar na política vem de muito tempo. Na época da faculdade, por exemplo, era representante dos alunos desde o segundo semestre de curso. Durante a vida acadêmica, esteve sempre envolvido com atividades de liderança. Apesar da veia política, garante que sua praia é apenas de bastidores, ou seja, nada de se lançar a candidato de nada. "No tempo de estudante, era apenas para fazer barulho, com a intenção de 'arrumar a casa', no sentido de melhorar. Só isso", enfatiza.
Pelo trabalho
Voltando um pouco antes de se formar jornalista, não dá para dizer que a Assembleia foi a única experiência profissional, apenas a mais longa, mais intensa e a preferida. Enquanto universitário, Romano foi revisor na Cooperativa dos Jornalistas (Coojornal), assessor de imprensa do Badesul e repórter freelancer da Zero Hora, na campanha eleitoral de 1978. A chance de entrar para o Legislativo surgiu após um estágio e por convite do seu professor Carlos Salzano. Isso era 1982 e, depois dali, a estrada foi longa e variada. Começou no gabinete do deputado Luiz Fernando Staub, com quem diz ter aprendido muito e a quem considera uma de suas referências profissionais.
Passou ainda pela coordenação da assessoria de imprensa da bancada do então PDS (hoje, PP), foi assessor de plenária e das comissões especiais de Educação, Saúde, Tributação e Segurança Pública. O maior desafio, momento em que diz ter trabalhado mais do que em toda sua carreira, foi quando atuou na CPI da Propina, ocorrida na época do governo Alceu Collares. "Foi um trabalho muito grande, que durou cerca de oito meses, feito junto com a Rejane Lempek. Talvez tenha sido a maior cobertura de CPIs até hoje. Uma atividade árdua, pois necessitava de muito contato com a imprensa. Lembro que andávamos com dois rádios, para acompanhar todas as emissoras possíveis."
Com todo este tempo de Assembleia, as referências profissionais são muitas, mas, antes de citar qualquer uma delas, destaca quem considera a maior de todas, o pai, Estevam, que foi radialista e publicitário. Abaixo dele, surgem diversos ídolos, como Armando Burd, Carlos Bastos, José Barrionuevo, Luiz Rache Vitelo Filho, Marcelo Villas-Bôas e Paulo Gerson Antunes de Oliveira.
Pelos livros
O motivo de ter cursado Jornalismo é atribuído ao gosto pela leitura, incentivado pelos pais, Estevam e Maria da Conceição, desde pequeno. Ler, escrever e dar opinião sobre tudo eram atividades tão presentes, que nunca cogitou outra faculdade. Sem falar, é claro, na influência do pai: "Cresci ouvindo meu pai no rádio, sendo repórter, locutor e comentarista de esporte", conta.
A paixão pelos livros sempre foi grande, tanto que, mesmo depois de graduado, voltou para a faculdade, em 1985. Dessa vez para o curso de História. A demanda de trabalho e os anos eleitorais não permitiram, porém, que Romano conseguisse concluir. "Nunca esqueço de um dia de prova, que saí atrasado da Assembleia, rumo ao campus da Agronomia. Peguei um táxi e mandei ele correr tanto que o vidro do carro estourou. Cheguei na aula com sangue no rosto e foi o que fez o professor me permitir fazer a tal prova, mesmo chegando atrasado", recorda, destacando que não estava acostumado com tamanha rigidez.
O hábito de ler permanece até hoje. E começa cedo. Romano acorda às 6h e inicia o dia lendo todos os jornais, de preferência pela internet. O caminho para o trabalho é feito ouvindo rádio, mania que herdou do pai. Para leituras de lazer, prefere obras de História, mas também se diz eclético. Prefere salientar o que não gosta: livros de autoajuda e algumas biografias.
Maior orgulho
No quesito lazer, as melhores opções são esporte, música e cinema. Um dos programas favoritos é jogo do Internacional, e nada de assistir pela televisão, ele faz questão de ir ao estádio. Isso só não acontece se estiver fora de Porto Alegre, trabalhando ou por impedimento de saúde. A melhor companhia para torcer é o filho Rodrigo, de 17 anos. "Ele é o meu grande parceiro de futebol e vai comigo ao Beira-Rio desde que tinha seis anos. É um dos nossos grandes momentos juntos", conta, referindo-se ao fato de não morarem juntos.
A escolha pelo Colorado foi herdada do pai, mas tem limite. Seu Estevam se diz um esportista, apesar de colorado. Não admite injustiça e, muito menos, o fanatismo. "Passei o mesmo para o Rodrigo. Sempre digo a ele que esporte deve ser algo bom na nossa vida e não uma guerra", ensina. Esporte talvez seja a palavra mais presente na adolescência de Romano, pois quando era estudante praticava diversas modalidades. Nas Olimpíadas escolares, por exemplo, fazia atletismo em duas modalidades (800 e 1500 metros), saltava, jogava futebol de campo e de salão (hoje futsal), basquete, handebol e, ainda, exercitava a mente jogando xadrez. Mal dá para acreditar que o jornalista usou bota ortopédica por três anos. Como se pode ver, o artefato não o impediu de gostar de esporte. "Sempre fui muito magro e, portanto, muito veloz, o que me ajudava a ser goleador", brinca, explicando que não pratica mais nada em função de uma lesão na cervical.
Falar do herdeiro é algo que enche Romano de emoção. Ele chega a se ajeitar no banco, quase como quem estufa o peito, e diz: "Rodrigo é grande, um cara maravilhoso. Diferente de mim, é na dele, tranquilo, não gosta de conflito, não é expansivo, mas cativante e com o dom de fazer as pessoas gostarem dele", elogia. Uma cena que deixou o pai muito orgulhoso ocorreu quando Rodrigo ainda era criança. Foi durante uma confraternização da escola, quando uma mãe chegou perto e parabenizou o jornalista pelo filho que tinha, dizendo que ele era muito amigo do dela. "Não sabia de quem se tratava, mas agradeci. Depois, descobri que o filho dela era especial e que Rodrigo era uma espécie de assistente dele", conta o pai-coruja, que completa: "Quando me perguntam quem eu sou, respondo: o pai do Rodrigo".
Mudanças
Romano faz aniversário em 21 de março, mesma data que Ayrton Senna, como gosta de salientar. A coincidência gera uma brincadeira: "As diferenças que nós temos são poucas: ele namorou a Galisteu (Adriane) e a Xuxa, foi rico e dirigia, mas eu estou vivo". Na família, o jornalista é o recheio do sanduíche: tem um irmão mais velho, o geólogo Roberto, e uma mais nova, a bibliotecária Antonieta. As lembranças de infância remetem ao bairro IAPI, onde cresceu tendo muitos lugares para brincar, e jogar futebol, claro. Outra recordação remete a um objeto pequeno, mas de muita importância: o óculos. Portador de hipermetropia, usava desde os seis anos e achava isso um peso. Há poucos dias, passou por um procedimento cirúrgico nos olhos e, finalmente, se livrou do que tanto o incomodou. Mudança grande, sim, mas não para por aí. Nos últimos tempos, Romano ainda perdeu 13 quilos e tirou a barba, o que foi sua marca registrada por longos anos. "Tem gente que passa por mim e nem me reconhece", revela.
Entre as atividades que ele faz com prazer estão viajar, ouvir música, comer e ir ao cinema. O destino preferido para passeios é a Bahia, em especial um município chamado Buraquinho. O Rio de Janeiro também é especial, ainda mais quando do se trata de Parati ou Petrópolis. Na sétima arte, não gosta de nada pesado, pois este é um momento de descanso e lazer, portanto não se presta a ver o que chama de besteirol. Prefere o gênero drama, "pois é ali que está a vida". Dos 35 filmes que estão em cartaz em Porto Alegre, nesta semana, ele selecionou 12 e já assistiu 10, de tanto que gosta de ir ao cinema. Na lista de preferidos, figuram clássicos como a trilogia de 'O poderoso chefão' e 'A lista de Schindler'.
Mais conhecimento


Quando o assunto é gastronomia, ele pode ser considerado bom de garfo, pois gosta de todo tipo de comida, sendo a única regra "comer bem". No comando do fogão não se arrisca muito, mas "não passa fome". A especialidade culinária fica longe do fogão, pois gosta mesmo é de pilotar a churrasqueira. Uma das histórias mais legais sobre a iguaria gaúcha dá conta da experiência de ter feito churrasco para baiano. Sem estrutura alguma e nem carnes típicas, o resultado foi assar filé mignon em espetos minúsculos e em um forno de pão. "Demorou umas três horas, mas, pelo menos, todo mundo gostou", brinca. Na música, vai da ópera ao samba com muita facilidade, e ainda passa pelo MPB e pelo rock.
Organizado com tudo na vida, admite que algumas pessoas acham que ele tem TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), mas garante que gosta do planejamento apenas pelo resultado que proporciona. "Sou metódico pelo aproveitamento que isso me dá. Só isso", resume. Ao citar a característica, ele se define ainda mais: "Romano é alguém que está sempre em busca de mais conhecimento".
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