Alright Media: É obrigatório testar e aprender

Um hub de conexão de tecnologias de mídia que valoriza, acima de tudo, pessoas transformadoras

O primeiro ponto a ser destacado aqui é que pouca gente entende o que a Alright Media faz. E entre os sócios - Cesar Paz, Domingos Secco Júnior e Fabiano Goldoni - parece que ninguém tem a intenção de definir como algo único para que não se corra o risco de "encaixotar" demais uma empresa que tem no seu DNA a constante mudança. Há três anos, durante uma conversa sobre o mercado publicitário, Fabiano e Secco passaram a fazer o chamado exercício de futurologia e, ao entenderem alguns caminhos, decretaram: dentro do cenário da Comunicação, não existe transformação sem uma disrupção total do passado. "Trabalhamos em um modelo eternamente em beta", resume Fabiano.

Essa nova postura é visível para o visitante que chega à sede da empresa e se depara com um modelo compartilhado, que é pouco usual. Com diversos ambientes de uso comum entre as seis empresas que ali habitam, ao fundo do local, há uma separação. Enquanto a Alright ocupa o lado esquerdo do térreo, o inverso fica com a Eyxo (vídeos). No mezanino, é possível encontrar ainda: Mosh (influenciadores), Zeeng (data analytics), Dex01 (design e usabilidade) e Nasc (desenvolvimento). Um dos destaques desse ecossistema de empresas independentes, e que conversam entre si, é a sala Education, onde ocorrem aulas, cursos e palestras. Há, também, um grande espaço bastante adaptável para receber eventos de porte maior.

Ainda que entendam que cada empresa tem seu olhar sobre a transformação digital, eles explicam que o da Alright se dá por meio da tecnologia de mídia, sendo um elo entre veículos, agências e anunciantes. Para que a entrega ao mercado não se limitasse à mídia programática pura e simplesmente, em 2017, foi criado um braço dedicado a ser uma rede de publishers da Região Sul do Brasil. A Alright Network reúne sites de notícias e entretenimento, além de portais especializados em agro, auto, tecnologia e negócios, conectando uma audiência de mais de 12 milhões de usuários únicos.

Agentes secretos

Passar algumas horas dentro da Alright, como fez a equipe de Coletiva.net, é perceber que o discurso entre todos os integrantes da equipe é bastante homogêneo. Tudo começou com dois sócios e, logo, uma funcionária. Hoje, três anos depois, o quadro funcional soma cerca de 20 colaboradores, todos chamados de 'secret agent'. O 'cargo', que começou como uma brincadeira no momento de definir o que escrever no cartão de visita, atualmente, faz muito sentido. "Todo mundo já viu um filme de agente secreto. Fazemos conexões por baixo do radar, trazemos algo que ninguém estava vendo. Claro que, na carteira de trabalho, colocamos o cargo tradicional, mas nos cartões de visita todos têm essa denominação", conta Fabiano.

Ao falar sobre o time, ele revela uma cultura disseminada desde o início: se não está feito, faça. Isso acontece porque buscam uma gestão aberta, baseada em mentorias e com muita autonomia concedida a cada um. Mesmo que todos sejam considerados agentes secretos, na prática, a empresa é dividida por setores bem definidos, sendo dois núcleos comerciais - um que está diariamente em contato com as agências, e outro dedicado aos veículos, além de operacional, marketing e planejamento. "Nesse último, está claro que não queremos concorrer com as agências, pois sabemos da importância delas no nosso mercado. Somos realmente parceiros", esclarece Fabiano, que completa: "A nossa rotina é essa loucura vertiginosa, onde nunca se para de aprender".

Para estimular a incessante busca por conhecimento, há, inclusive, uma biblioteca virtual, com diversas bibliografias disponíveis para aprimoramento. Outra iniciativa que experimentaram foi proporcionar o que chamaram de 'nano aulas', que consistiam em compartilhar conteúdos técnicos com a equipe, diariamente, das 8h30 às 9h30. E essas iniciativas só acontecem porque os gestores perceberam o quanto seus colaboradores compram a ideia de investir na mudança de mindset para aprender sempre. Na opinião de Fabiano, a liberdade permitida e incentivada na Alright é rara no mercado, e isso pode ser absorvido pelos profissionais, ou não. No segundo caso, garante que há uma seleção natural e essas pessoas deixam a equipe sem demora.

Encontrar os profissionais certos para determinadas funções é um trabalho também diferenciado, uma vez que a contratação se dá muito mais com base na história de vida e no perfil do candidato, do que por conta de suas experiências de ofício. Nem mesmo para integrar o comercial é necessário ser especialista em mídia digital, desde que tenha espírito empreendedor, seja autodidata e tenha iniciativa. Fabiano ratifica o pensamento quando defende que tem certeza de que as pessoas a quem contratam têm a mesma capacidade dos que planejaram, um dia, pisar na lua, afinal, o feito foi conquistado por seres humanos normais, determinados a aprender e empreender por aquilo.

Uma equipe, vários personagens

Ainda que três anos sejam considerados o princípio de qualquer negócio que esteja se consolidando, é tempo suficiente para que surjam alguns personagens especiais na trajetória. É o caso de Cesar Paz, por exemplo, que se integrou à sociedade para exercer um papel de mentor, de guru, muito mais do que apenas um investidor. Luciano Terres, que dirige a Network, também é citado quando se trata de alguém motivado a desafios, já que "ele aceitou uma missão suicida de empreender sem nenhuma garantia". O discurso para a equipe é simples: a Alright cresce quando cada um cresce. Ou seja, se houver alguém que não esteja em ascensão, este está impedindo a empresa de ir para frente também. "Para estar aqui dentro, é obrigatório crescer", resume Fabiano.

Com orgulho, o nome de Anne Cardon surge na conversa, como sendo a primeira funcionária contratada, ao deixar a estável área de Marketing de uma empresa tradicional. Hoje, após ter exercido todas as funções possíveis na Alright, responde pelo mesmo setor de sua origem. E, para o sócio, o fato de ela aceitar o que, na época, era só um desejo de duas pessoas, mostrou que estava disposta a buscar algo diferente na carreira. "Foi bem desafiador, é verdade, mas optei por algo no qual eu pudesse aprender bem mais. E é isso que tem acontecido desde então", garante ela, satisfeita em poder acompanhar aonde a empresa chegou. Estar em um ambiente que permite tantos testes é outra característica que a agrada, pois é dinâmico e interessante, "é uma construção de novas oportunidades e possibilidades todos os dias".

Ainda sobre alguns personagens que marcam a história da Alright, Adriano Terres, irmão de Luciano, é apontado como um empreendedor nato. A analogia feita com frequência é que, para desbravar novas terras, é preciso entrar no mato com facão. E esse colaborador, em especial, "tem um facão em cada mão e uma motosserra amarrada no pé". Ao deixar para trás a vida de autônomo que programava sites e mal sabia o que era um PI (pedido de inserção, documento utilizado para veiculação de mídia), ele garante que é movido a desafios. Nunca quis ou pediu que alguém facilitasse o caminho, mas admite que os gestores proporcionaram todas as ferramentas para seu sucesso. Depois de perceber que as pessoas que lá trabalhavam não falavam outra língua, cresceu por conta própria e se tornou referência dentro da empresa.

Sem certezas

Nessa missão de conectar o triângulo amoroso formado por anunciante, agência e veículo, quem comanda a Alright tem dúvidas, anseios e uma única certeza: é preciso testar sempre. "Somos muito profundos no que fazemos e entregamos essa profundidade aos nossos clientes", garante Luciano. Segundo ele, a empresa já errou muito - até site e aplicativo entregaram por assumirem as dores dos clientes e parceiros, mas perceberam que esta atividade nada tinha a ver com o seu negócio; sabiam, apenas, que precisavam experimentar para entender que esse não era um campo a ser explorado. Além disso, sabem como ninguém o papel de evangelização que cumprem no mercado, quando afirmam, orgulhosos, que mídia programática ganha, cada vez mais, orçamento quase obrigatório das marcas.

Revisitar a história da organização e falar dos projetos ou da visão de futuro do mercado faz Domingos Secco Junior garantir que tudo isso faz parte de uma grande construção, que precisa ser trabalhada todos os dias. Para ele, isso tem uma visão, um propósito, mas não vem pronto. É preciso testar o tempo inteiro, entender, a cada minuto, o que o mercado está precisando e alinhar todas as questões de momento com o futuro. "Todas essas iniciativas precisam ter algum resultado, e, por isso, precisamos errar rápido", elucida o sócio, que denomina, por exemplo, a experiência da Network como "um case de sucesso recheado de fracassos". São essas permanentes mudanças que vêm os caracterizando-os.

Como não poderia ser diferente, tudo tem um lado legal e instigador, porém, acompanhado de muitas dificuldades. Por conta desse entendimento, embora seja uma empresa voltada à tecnologia, o valor maior está nas pessoas, essas que decidem se transformar, adaptar-se e construir. Dentro destes cenários, talvez um dos maiores desafios seja formatar tudo isso em processos internos, indicadores, limites - questões que norteiam os caminhos de qualquer empresa. Ou seja, tornar formal todas essas inovações. "São coisas tão doidas, que não temos a pretensão de resolver. Até porque estamos na mesma 'doidera'. Qualquer um que tenha muitas certezas está muito errado."

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