Comunicação Impressa: Não parem as máquinas

Há 40 anos no mercado, a gráfica abriu as portas na era do fotolito e, hoje, acompanha a evolução tecnológica da área

Ao contrário do bordão 'Parem as máquinas!', aqui é melhor iniciar a frase com a negativa, a exemplo do título. Isso porque a Comunicação Impressa funciona praticamente 24 horas por dia para conseguir dar conta da quantidade, da qualidade e, especialmente, dos prazos exigidos por seus clientes. Há 40 anos no mercado, a gráfica abriu as portas na era do fotolito, em uma garagem alugada na Avenida Cristóvão Colombo, sem dinheiro, crédito, clientes e nem máquinas; sem nada no banco muito menos no bolso. "Mas o entusiasmo era semelhante ao dos imigrantes italianos, que partiram das suas terras cheios de boa vontade, em busca de uma vida nova", compara o hoje único dono, José Mazarollo, ou Maza, como é chamado pelos funcionários mais antigos.

Com as condições desfavoráveis, não demorou para que o quadro societário, no princípio formado por quatro pessoas, virasse uma dupla e, mais adiante,  deixasse Mazarollo sozinho no comando. Ao conversar com a equipe de Coletiva.net, o empresário lembrou que, antes de aceitar o desafio de empreender, ao final da década de 1970, tinha recém-passado em um concurso público da Petrobras. Enquanto aguardava para ser chamado, decidiu se aventurar na ideia de abrir uma gráfica. Quis o destino, porém, que a psicóloga responsável por uma das entrevistas não o aceitasse na vaga. "Se a encontrasse hoje na rua, agradeceria por isso, ainda que na época tenha ficado muito brabo", conta, aos risos.

Ainda na primeira década de atuação, chegou para operar as máquinas Odilon Lemes, aposentado há 25 anos e há 34 trabalhando ao lado de Mazarollo. Ele começou trabalhando com fotolito e passou por todos os setores de produção e impressão. Ou seja, é visível o orgulho que sente ao afirmar que todo tipo de produto oferecido pela Comunicação Impressa já passou por sua mão. "Sou oriundo de jornal, trabalhei na extinta Caldas Jr. (hoje, Grupo Record RS), e muita coisa mudou desde lá, muita coisa nem existe mais. Lembro de secar material na calçada da primeira sede, para pegar sol", recorda, sem esconder a felicidade de quem nunca parou de se atualizar. Hoje, Odilon está em outro ritmo, indo para empresa apenas duas vezes por semana. Parar de vez? "O homem não deixa", brinca ele com o fato de ter a total confiança do sócio-proprietário.

Sozinho nunca

Ainda que a solidão empresarial possa ser entendida por muitos como algo ruim, essa não é a visão de Mazarollo, que admite ser difícil em alguns momentos, sim. Também pudera, são cerca de 50 funcionários e 5 mil metros quadrados de sede própria, localizada há 22 anos na Rua Voluntários da Pátria, número 1260. O empresário prefere acreditar que ser o único dono facilita a tomada de decisões, pois essas são mais ágeis e definidas sem a interferência de opiniões e nem intermediários. Além disso, entre revistas, livros, relatórios, catálogos e todo tipo de produtos gráficos, há também uma equipe da qual se orgulha muito e a relação com os clientes, com a qual compara a um matrimônio. "Temos uma particularidade: a rotatividade é bem pequena dos públicos interno e externo. E o que mantém uma estrutura de empresa, hoje, é a fidelidade deles. Tenho clientes há 40 anos e funcionários há mais de 30. É um casamento", reflete.

A mesma opinião tem Luiz Mário Senhori, há quase 20 anos ao lado de Mazarollo. Na opinião dele, um dos grandes diferenciais da Comunicação Impressa é o ambiente. "O próprio Maza faz questão de dizer que a empresa não é dele, mas de todos", elogia o responsável pelo setor de orçamentos, que completa: "O vínculo que criamos aqui é muito importante, uma amizade de muitos anos. É uma grande família mesmo". E quando se fala em laços familiares, não é apenas uma comparação: o filho de Luiz Mário já trabalhou na gráfica, assim como os três herdeiros do dono o fazem hoje. Aliás, no dia da visita do portal, o neto Davi, de um ano e sete meses, passeava pelos pavilhões de colo em colo, absolutamente adaptado até mesmo ao barulho das máquinas em pleno funcionamento.

Paulo André é o filho mais novo, com 22 anos (exatamente o mesmo tempo em que a empresa opera na atual sede). "Frequento este lugar desde que nasci, literalmente", pontua o caçula, estudante de Direito - o primogênito, José Lucas, é graduado em Administração, enquanto Paula, a mãe de Davi, tem formação em Recursos Humanos, isso para que "cada um dominasse uma área diferente" do patrimônio do pai. Para Paulo André, trabalhar em família tem vantagens e poucas desvantagens. Se, por um lado, é bom ter acesso às informações mais rapidamente e mais liberdade pra questionar decisões, por outro, sabe que é mais cobrado e exigido do que os demais.

O segredo do negócio

Ao caminhar pela Comunicação Impressa, é possível fazer exatamente o mesmo fluxo de um produto. Para isso, passa-se pelo setor de recepção, orçamentos e vendas, pré-impressão, fechamento de arquivo, impressão, acabamento e logística. Sem contar os dois ambientes ao fundo do terreno: o almoxarifado, que comporta um grande estoque; e o refeitório bastante espaçoso, que recebe colaboradores para almoço, lanches e janta, além de confraternizações da equipe (no dia da visita de Coletiva.net, a organização de um churrasco logo mais à noite começou bem cedo).

De acordo com Mazarollo, um dos segredos que permite à empresa ficar de pé é referente aos processos internos, os quais diz ser bem customizados, "porém, qualquer descuido pode ser fatal", segundo pondera. Luiz Mário já foi gerente de produção, quando teve a oportunidade de implantar algumas melhorias. Conhecedor da área e de todos os produtos da casa, sempre teve seu envolvimento mais voltado à gestão, além do contato direto com os clientes. "E é importante dizer que, aqui, todas as áreas conversam entre si. O entendimento é de que um setor é cliente do outro. Não adianta pensar que, ao entregar um trabalho para a próxima etapa, ele está encerrado. É preciso acompanhar todo o caminho do nosso produto. Então, o departamento anterior é o meu fornecedor e o próximo, meu cliente", explica.

Rotina intensa

Como é comum nesse ramo, impressão e produção são áreas dominadas, na sua maioria, por homens. Porém, quando se chega ao acabamento, elas é que dominam. Mariza de Oliveira é uma das representantes femininas e opina que isso acontece porque as mulheres tendem a serem mais cuidadosas, exigentes e com maior capacidade de concentração. Trabalhando há 40 anos em gráficas, é a típica apaixonada pelo que faz e, aposentada há muitos anos, até tentou parar, mas não conseguiu ficar muito tempo longe do que gosta. "Trabalhei dois anos aqui no passado e saí para morar fora do Rio Grande do Sul. Quando voltei, Mazarollo me chamou de volta pra um trabalho pontual e não saí mais", recorda.

Ela chega para trabalhar às 7h e tem costume de sair depois das 20h. Isso porque, se tem demanda, não quer ir embora. "Gosto mesmo é de estarmos tomados de serviço. Quando começo um trabalho, não quero ir embora até que termine. No dia seguinte, já tem algo diferente pra fazer", explica, dizendo ainda que prefere não ter rotina. Na opinião de Mariza, o mais interessante na empresa é a liberdade que tem com colegas e gestores: "Acho que o nome é bem propício: comunicação. É o que mais fazemos aqui", elogia.

Ainda que a rotina intensa seja característica do meio, não dá para negar que a tecnologia ajudou um bocado. Por outro lado, o mercado ficou proporcionalmente mais exigente em termos de prazos e qualidade. "No fim das contas, nem facilitou tanto", brinca Mazarollo. Ele conta que, hoje em dia, clientes mandam o arquivo de uma revista num dia, e a querem pronta no outro, mas esquecem que ainda há etapas manuais e percalços normais, como colagem, dobras, secagem e etc. Para um melhor aproveitamento das 24 horas, o empresário explica que o dia é dedicado a atendimento, planejamento e produção. Durante a noite e a madrugada, as máquinas intensificam as impressões, mesmo com portões fechados e apenas 20% da equipe.

Lembram da afirmação de que "qualquer erro pode ser fatal"? Ele é recordado quando Mazarollo argumenta que a tecnologia fez quase tudo mudar no ramo, mas a sutileza humana é o que faz toda diferença. Assim como a tradicional frase "o olho do dono é que engorda o boi", não é raro vê-lo transitando por todos os pavilhões, questionando o andamento de algum trabalho, orientando soluções ou retirando do caminho o excesso de papel (são produzidas toneladas deles e despachados para reciclagem duas vezes por semana, pelo menos). Para explicar todo esse cuidado, ele ensina: "Fazemos muitos catálogos, por exemplo, de roupas e calçados. E, se uma cor mínima sair diferente, é um problema muito grande para o cliente. Ou seja, nem o bonito serve, tem que ser perfeito".

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