Cacalo: Defesa tricolor

O ex-dirigente gremista, que está há quase duas décadas no Grupo RBS, alia a Comunicação ao mundo jurídico

Além de ex-dirigente do Grêmio e colunista do Diário Gaúcho, Cacalo é advogado - Crédito: Camila Domingues

Com o nome composto por cinco palavras, é apenas pelo apelido de Cacalo que Luiz Carlos Pereira Silveira Martins é reconhecido, mais precisamente, pela torcida gremista. Com o pai, Luis Pereira Silveira Martins, dirigente do Grêmio, aos quatro anos, em 1954, tornou-se sócio do clube - mesmo ano em que o Estádio Olímpico Monumental  foi inaugurado. Mais adiante, com 23 anos, passou a integrar o conselho do clube - do qual participa até hoje. A paixão é tamanha que confessa sofrer quando assiste aos jogos do tricolor gaúcho. "Isso não deveria existir mais, pois estou maduro e experiente. Mas, às vezes, não consigo ficar em frente à televisão e vou fazer outra atividade", confessa, ao dizer que só o proporcionou grandes emoções que o fizeram crescer muito.

Foi por meio da profissão escolhida, Direito - que estudou na Ufrgs -, que ficou mais próximo do clube. Ao trabalhar no escritório do então presidente Flávio Obino, sócio do tio, também advogado, Olavo Santos, ingressou na equipe jurídica do Grêmio. Lá, ainda foi diretor social, de Relações Públicas, jurídico, além de vice-presidente jurídico, de administração, de futebol, bem como presidente. "Foram 30 anos lá dentro, passei por tudo onde poderia", fala. Contudo, confessa que há muito desgaste, mesmo em tempos gloriosos - como quando conquistou a Copa do Brasil, em 1997 -, além de outros títulos ao lado do falecido Fábio Koff. Este, inclusive, aparece em uma foto ao lado de Cacalo e de Adílson, conhecido por 'Capitão América', ao levantarem a taça da Copa Sul-Americana, em 1996.

Como uma espécie de voluntariado, sempre trabalhou de forma gratuita, pois nunca aceitaria dinheiro do Grêmio. "Me perguntam por que não me torno diretor-executivo, mas jamais pegaria um centavo, sob hipótese alguma", garante ele, que ressalta não ter interesse em atuar em outro clube, pois é gremista acima de tudo. Sem receber por muitos anos, acabou retornando aos escritórios advocatícios, função que na época aliava junto ao cargo público que exercia no Instituto de Previdência do RS (Ipers) - onde trabalhou desde o tempo em que era recém-graduado, até se aposentar. Apesar das dificuldades, revela que não se queixa,  pois foi algo que escolheu, ou seja, contribuir para o time dentro de suas possibilidades.

Comunicando

Não é só de Grêmio e Direito que a vida de Cacalo é feita. Em 1984, fez o curso de radialista, pois foi convidado para trabalhar em uma rádio, que ficou um ano e meio no ar, chamada 'Sucesso', e falava sobre futebol. Todavia, foi após 16 anos que chegou no meio da Comunicação para ficar. Em 2000, foi convidado para trabalhar na televisão por Flávio Dutra, então diretor de Esportes da RBS TV e da TV Com, no 'Lance Final'. Na época, o programa tinha um formato de debate, o qual durou um ano. Era composto por um âncora e dois debatedores, um colorado, Ibsen Pinheiro, e outro gremista, ele próprio."O Ibsen é um sujeito extremamente generoso e inteligente, que me ensinou muito. Gostava muito da convivência com ele", contou.

Após, o então vice-presidente de Jornais e Rádios do Grupo RBS , Geraldo Corrêa, junto a Antônio Ranzolin, o convidou para integrar o 'Sala de Redação', em  2001, programa no qual ficou por 18 anos. Apesar de não ter sido fácil, pois havia muitas particularidades em trabalhar na área, afirma que foi uma experiência muito legal. Isto porque os colegas, Ruy Carlos Ostermann, Lauro Quadros, Kenny Braga, Wianey Carlet, Ibsen Pinheiro, que considera ícones da Comunicação, o ajudaram muito com a experiência que tinham. "Sinto falta de lá e dos amigos que fiz. Não só daqueles que trabalhavam no microfone, mas também os da produção", confidencia ele que ficou no ar até 2018, e saiu por entender que a vida é feita de ciclos, e o dele havia encerrado no programa.

Cacalo continua no Grupo RBS escrevendo em todas as edições Diário Gaúcho. Ele confidencia que no início também foi difícil escrever a coluna, pois não tem a formação de jornalista, apenas de radialista. Assim sendo, precisou se adaptar e pensar muito produzi-la, além de estudar bastante para fazer como era pedido. "Porém, sempre tive o apoio de todo mundo", conta o autor de a 'Paixão Tricolor'.

No meio jornalístico, viveu muitos momentos marcantes, como entrevistas com presidentes de clubes e personalidades do futebol. Dentre as que mais gostou está a com o atual goleiro do Palmeiras, Fernando Prass. Além disso, teve um debate uma vez que recorda até hoje. O embate foi com o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Francisco Noveletto. Na época, em 2017, o ex-presidente do Grêmio afirmou que o Inter havia sido beneficiado pela FGF, já que o Brasil de Pelotas jogou contra o São José com portões fechados no Passo D'Areia, enquanto os colorados iriam ao Estádio do Vale, em Novo Hamburgo, com permissão para a entrada de torcedores. "Foi desgastante, mas foi um debate que procurei que fosse de alto nível, porque sou amigo dele. Porém, na hora do debate, tudo fugiu do controle", relata ele, ao mencionar que tem muito respeito por Noveletto.

Além do trabalho
Nascido em Porto Alegre, em 27 de agosto de 1950, na metade do século, o filho do falecido advogado Luiz, que trabalhou por anos em mercado de capitais, e da professora de Letras e Comunicação, Dileta Silveira Martins, foi criado no bairro Moinhos de Vento. Cacalo, que tem um irmão mais novo, Marcelo, também advogado, conta que possui muitas lembranças da infância. "Fui uma criança que brincava na rua, como andar de bicicleta e jogar bola", menciona ao apontar que a maior das recordações é a de que podiam andar tranquilamente nas ruas.

O comunicador ainda resgata outra memória importante para ele: as ótimas lembranças que tem do Colégio Anchieta, onde estudou por toda a vida inclusive, nas duas sedes da escola, tanto no antigo prédio, na Duque de Caxias, quanto no atual, na Nilo Peçanha. Os três filhos, Eduardo, advogado; Roberto, estudante de Comércio Exterior; e Rafael, administrador e atuário, também foram anchietanos. Inclusive, o comunicador, que se considera católico praticante, frequentou por muitos anos ao lado dos herdeiros a capela da instituição de ensino.

E é exatamente por causa dos meninos que hoje se sente realizado. Isto porque considera que o trio está encaminhado - além de salientar que são gremistas, claro! Todavia, apesar de estar feliz em vê-los adultos e bem-sucedidos, o coração de pai não falha ao sentir saudades do caçula, a quem se refere como "meu pequeno", pois mora em São Paulo. 

Ao enfatizar que a rotina é basicamente trabalhar, além da coluna no jornal, conta que é coordenador da área Trabalhista no escritório JP Leal, revela que possui o lema de  viver enquanto é possível, "e bem, de preferência". Por isso, quando não está debruçado sobre os processos jurídicos, pode ser encontrado na cadeira que possui na Arena do Grêmio, ou no Jockey Clube. Afinal, acompanhar o turfe - nome dado às corridas de cavalo - é um dos hobbies que possui. Outro gosto especial se refere à culinária: como bom gaúcho, é um apaixonado por churrasco.

Não assiste a muita televisão, pois para na frente da telinha apenas para ver o que, de acordo com ele, é o necessário, como jornais e futebol. Sobre o esporte, conta que gosta de Grêmio e, quando não está passando os jogos do tricolor, acompanha grandes times nacionais. Outros esportes, como vôlei, automobilismo e MMA, além dos jogos Olímpicos, também estão presentes nas programações que segue. Cacalo afirma que, além da academia que frequenta em alguns momentos, é um "assistidor de esportes". No entanto, não foi sempre assim. O ex-dirigente foi atleta profissional de futsal da adolescência até os cerca de 30 anos.

Em relação à Cultura, gosta de ler livros não-ficcionais, como biografias e obras sobre guerras. Entretanto, quando estava no colégio, "devorou" todo o legado de Jorge Amado, que achava extraordinário. Não é muito ligado à música, mas tem o hábito de entrar no carro e ligar na rádio Continental -  com a preferência por música brasileira ao estilo dos cantores Martinho da Vila e Zeca Pagodinho. Ele, que não é mais assíduo em relação a filmes como antes, tem predileção por longas-metragens de ação. Em relação à nova moda, as séries, confessa não sentir muita atração, pois não consegue se prender para dar seguimento aos episódios. Afinal, o que sempre o desperta e o conquista, como dizia o antigo colega, Paulo Sant'Ana: "É o Grêmiooo!".

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