Do auge ao declínio: o que faz uma rede social continuar a ser popular?

A queda do X, antigo Twitter, no Brasil, colocou à prova a própria plataforma e outras redes. Quais são os limites de uma rede diante de seu público?

Em 30 de agosto de 2024, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou a suspensão do X, antigo Twitter, no Brasil. A medida veio após o descumprimento de decisões judiciais pela rede social, que naquele momento, não tinha apontado um representante legal no País, como manda o Marco Civil da Internet. A partir de então, outras redes sociais ganharam espaço, como o Bluesky, que tem um esqueleto parecido com o do X, e o Threads, um anexo do Instagram e que também funciona como um microblog.

Se estas redes vão permanecer em destaque, não se sabe. O que pôde ser verificado, no entanto, foi um rápido crescimento no número de usuários delas, que captaram órfãos do X e, nelas, reproduziram comportamentos antes desempenhados nessa plataforma. Mas a pergunta é: elas continuarão existindo?

O ciclo das redes

Um levantamento do Datareportal aponta que o mundo possuia 5,4 bilhões de usuários ativos nas redes sociais em 2024. No Brasil, são 144 milhões de pessoas, o que significa 66,3% da população geral. A pesquisa indica, ainda, um aumento de dois milhões de usuários em relação ao ano de 2023.

Uma rede social, sobretudo, é uma ferramenta que gera valor para seus usuários. E sua relevância está diretamente ligada a esta capacidade de gerar valor para quem a utiliza. É o que aponta Raquel Recuero, professora do programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. "As pessoas encontram outras ferramentas que têm mais valor social, informacional ou de entretenimento, por exemplo. Para que as pessoas usem uma ferramenta, ela precisa gerar valor para a rede de atores", explica.

Redes sociais têm ciclos claros: nascimento, popularização, maturidade e declínio. Recuero explica que "a velocidade de inovação é menor que a capacidade de apropriação pelos grupos sociais". O declínio ocorre quando uma rede falha em acompanhar as expectativas do público, como aconteceu com o Orkut em 2014.

Francine Pairet, estrategista digital e social media, ressalta que inovação é crucial: "O Instagram enfrentou o TikTok com atualizações frequentes e formatos de conteúdo que atraem públicos variados". Já plataformas como o Facebook, embora em declínio como rede social pessoal, permanecem relevantes para negócios por meio de ferramentas como o Meta Business.

Estas dinâmicas mostram que redes sociais que não evoluem podem perder espaço para concorrentes mais ágeis. Mesmo assim, o valor percebido por usuários em nichos específicos pode prolongar a utilidade de algumas ferramentas.

 

Moderação nas redes sociais: um debate central para o futuro digital

O papel da moderação nas redes sociais está no centro das discussões sobre o futuro dessas plataformas. O desafio é equilibrar a liberdade de expressão com a necessidade de criar espaços seguros e livres de discurso de ódio, fake news e outros conteúdos prejudiciais.

Plataformas como o X enfrentam críticas por falta de controle, enquanto outras, como o TikTok, investem em sistemas automatizados e equipes humanas para moderar o conteúdo. A suspensão de redes no Brasil, como ocorreu com o X em 2024, destaca a importância de regulamentações mais robustas.

Este debate também impacta a confiança dos usuários. Segundo um relatório da We Are Social, ambientes hostis fazem com que 35% dos usuários considerem abandonar plataformas. Redes que investem em moderação eficaz podem se destacar, atraindo anunciantes e mantendo suas bases ativas.

No futuro, espera-se que a moderação seja um diferencial competitivo, com avanços em inteligência artificial e regulamentações globais moldando as interações online. A discussão não é apenas sobre tecnologia, mas sobre os valores que desejamos preservar no ambiente digital.

Segundo o professor Felipe Oliveira, da UFRGS, há quem defenda que as redes digitais, por essência, não promovem sociabilidade. "Ao invés de fomentar interações presenciais, essenciais para a troca de energia, reações e expressões corporais, essas redes muitas vezes as restringem ou eliminam", aponta.

No entanto, existe a possibilidade de essas plataformas desempenharem um papel social positivo, dependendo de seu uso. Estudos sugerem que, apesar de as redes digitais serem frequentemente associadas à individualização, elas podem ser ferramentas úteis para promover sociabilidade e cidadania. Protestos virtuais, ciber-acontecimentos e memes são exemplos de conteúdos que podem fomentar engajamento social e participação cidadã.

As redes e sua popularidade

A perda de relevância de plataformas ao longo do tempo está associada à capacidade de compreender e se adaptar à lógica de funcionamento das redes. Oliveira menciona que estratégias defasadas, como insistir em fórmulas ultrapassadas, podem tornar redes ou figuras públicas obsoletas. Ele também destaca como certos grupos, ao explorar algoritmos e disseminar informações, conseguem mobilizar pessoas rapidamente, mas podem perder credibilidade quando expostos ou desmentidos.

Outro fator relevante é a rápida ascensão e queda de tendências digitais. Movimentos como o desafio do balde de gelo alcançaram grande visibilidade, mas tiveram um impacto efêmero, o que demonstra a necessidade de adaptação constante para a manutenção da relevância.

O crescimento do BlueSky, mesmo com a volta do X (antigo Twitter), é atribuído à sua capacidade de atrair um público específico. A plataforma se destacou entre usuários progressistas, comprometidos com direitos humanos e liberdades democráticas, que tendem a manter sua presença, mesmo que permaneçam em outras redes. Porém, um dos principais desafios do BlueSky é expandir seu alcance além desse público específico. Ampliar a base de usuários será fundamental para assegurar sua relevância a longo prazo.

O futuro das redes sociais: tendências e transições

O futuro aponta para mais personalização, novos formatos de engajamento e foco em comunidades específicas. Dados da RD Station destacam o crescimento de redes como o TikTok, com usuários passando em média 95 minutos diários na plataforma, e a ascensão de novas plataformas como o Threads e o Bluesky.

A previsão para os próximos anos das redes sociais é avaliada como segura em termos de continuidade. Plataformas como Instagram, Spotify e YouTube desempenham papéis importantes tanto na economia quanto na vida social, conectando pessoas por meio de gostos e interesses compartilhados. As redes sociais também são utilizadas para fins comerciais, como promoção de serviços e produtos em setores variados.

Francine observa que transições geracionais moldam o cenário: "Millennials preferem o Threads por seu apelo textual, enquanto a geração Z domina o TikTok". Raquel Recuero acrescenta que o grafo social continuará a guiar a relevância, garantindo que as redes mantenham seu papel de conexão humana.

Além disso, a busca por segurança e moderação se torna cada vez mais importante. Após a suspensão do X no Brasil, muitas pessoas migraram para alternativas como o Bluesky, que atraem por sua interface intuitiva e menos propensão a conteúdos problemáticos.

A relevância de uma rede social está no equilíbrio entre inovação, engajamento e valor para os usuários. Ferramentas que evoluem para atender às necessidades sociais e emocionais dos públicos têm maior chance de sobreviver ao tempo e às mudanças tecnológicas.

Recuero ressalta que o valor de uma rede social está diretamente ligado à quantidade e à qualidade dos usuários e do conteúdo gerado por eles. Se o Bluesky continuar a crescer e atrair os usuários-chave que se afastaram do X, a tendência é que essa nova plataforma preencha o vazio deixado, tornando-se uma alternativa viável no mercado.

Plataformas como TikTok e Threads mostram como o futuro das redes sociais é dinâmico, com foco em personalização, adaptação às gerações e uma conexão emocional profunda com os usuários. Assim, o ciclo continua: inovação e apropriação garantem não só a relevância, mas a longevidade no disputado espaço digital.

O futuro das redes sociais depende de sua capacidade de adaptação e inovação. Com bilhões de usuários globais, essas plataformas enfrentam um ambiente competitivo, em que relevância é sinônimo de sobrevivência. Redes como TikTok, Threads e Bluesky exemplificam tendências futuras, mostrando como personalização e experiências significativas moldam a experiência digital.

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