Edward Snowden na Web Summit: "Nós legalizamos o abuso"

Ex-analista da CIA e da NSA, que revelou programa de espionagem americano, disse que as gigantes tecnológicas 'fizeram um pacto com o diabo'

Ex-analista da CIA e da NSA, Edward Snowden - Crédito: Divulgação/Coletiva.net

Seguindo a tradição dos anos anteriores, a edição 2019 da Web Summit foi aberta oficialmente nesta segunda-feira, 4, em Lisboa (Portugal), com uma presença ilustre, embora virtual: Edward Snowden, ex-analista de sistemas da CIA e da Agência de Segurança Nacional (NSA). Ele se tornou o inimigo número um dos Estados Unidos ao denunciar práticas de espionagem de autoridades e cidadãos comuns. Em uma das falas mais aguardadas da cerimônia, Snowden alertou que as leis atualmente permitem que empresas como a Amazon, Google e Facebook quebrem a privacidade. "Nós legalizamos o abuso, e esse é o problema. Temos um sistema embrenhado que torna a população vulnerável para o benefício dos privilegiados", alertou, destacando ainda que as gigantes tecnológicas "fizeram um pacto com o diabo".

Exilado na Rússia desde 2013, o norte-americano falou em transmissão ao vivo direto de Moscou, em um painel conduzido pelo jornalista James Ball, que ganhou um Pulitzer com a série de reportagens publicada pelo The Guardian com os documentos vazados por Snowden. A mensagem do norte-americano foi clara: "os dados não são inofensivos, não são abstratos quando se trata de pessoas. Não são os dados que estão a ser manipulados, são as pessoas". Segundo ele, a lei e a tecnologia não são capazes de proteger os cidadãos, contudo "nós podemos nos proteger". 

Ao ser questionado sobre os motivos que o levaram a denunciar a prática de espionagem e, dessa forma, ir contra as leis do seu país, Snowden disse que acreditava na importância delas, mas que percebeu que havia uma "conspiração gigante" que violava o juramento à Constituição americana, que havia feito ao ingressar na CIA.  "Quando temos obrigações contraditórias, onde devemos nossa lealdade? Para mim, a resposta era clara. Acho que o público tem direito de saber", disse.

Sobre a vigilância massiva feita pelo governo americano, o ex-analista explicou que, diferentemente do passado, quando o monitoramento poderia ser feito porque alguém era suspeito de ter cometido alguma ilegalidade, se começou a cuidar todo mundo porque poderia ser útil.  "Começamos a vigiar as pessoas antes de elas infringirem a lei. É o que chamo de criação de registro permanente. (...) E isso nos leva a problemas na democracia. O que se faz quando as instituições mais poderosas da nossa sociedade se tornaram as menos confiáveis? É uma pergunta que nossa geração tem que responder".

Palco principal da Web Summit, a Altice Arena, com capacidade para 20 mil pessoas, estava praticamente lotada para a cerimônia de abertura. Outra intervenção bastante aguardada foi a do presidente da Huawei, Guo Ping, que falou sobre "5G, o futuro das telecomunicações que vai mudar o cenário geopolítico e tecnológico". De acordo com ele, a tecnologia irá mudar as indústrias. "No futuro, o 5G vai criar oportunidades únicas para empreendedores. Serão alterações históricas, da mesma forma que a eletricidade aumentou a produtividade em inúmeras indústrias."

CEO da Web Summit, Paddy Cosgrave também subiu ao palco e destacou que a conferência sobre tecnologia e empreendedorismo é, acima de tudo, sobre pessoas. "Nos próximos três dias e noites vocês vão encontrar pessoas do mundo inteiro", disse.

A cobertura da Web Summit, com o apoio da BriviaDez, é realizada pela jornalista e correspondente de Coletiva.net, Cleidi Pereira. Há três anos o portal traz o que acontece no evento, diretamente de Lisboa, por meio de textos, fotos e vídeos.

Comentários