Além da emoção: uma nova perspectiva sobre inclusão e diversidade em eventos

Por Christian Jung, para Coletiva.net

No universo dos eventos, a diversidade e a inclusão têm sido temas recorrentes. No entanto, a forma como esses temas são abordados frequentemente carece de profundidade e pragmatismo. Guilherme Bara, consultor de diversidade e inclusão, destaca uma prática preocupante: o uso excessivamente emocional de pessoas com deficiência (PCDs) em eventos corporativos. Cego desde os 15 anos, ex-atleta paralímpico e voz influente no combate ao preconceito, Bara diz que ao invés de promover a inclusão verdadeira, essa abordagem tende a transformar os PCDs em meros "personagens" de suas próprias histórias de superação: 

"Ainda hoje eu percebo várias empresas trabalhando o tema da pessoa com deficiência com a abordagem excessivamente emocional. As pessoas ainda medem o sucesso do evento pelo quanto os colaboradores choram no final. E aí acabam chamando um palestrante que é atleta paralímpico que conta uma história de superação, chamam uma banda onde um dos integrantes tem algum tipo de deficiência e estão ali pra emocionar a plateia... No meu ponto de vista, se o seu objetivo é promover a inclusão profissional, você está indo no caminho contrário porque provavelmente sua empresa não contrata nem atleta nem músico e quando você faz esse tipo de atividade você está reforçando um lugar de personagem para as pessoas com deficiência."

Essa reflexão traz à tona um ponto crucial: estamos realmente promovendo a inclusão, ou apenas repetindo padrões antigos sob o disfarce de progresso? Como Mestre de Cerimônias em diversos eventos, tenho observado essa tendência de perto. Há uma prática comum de substituir apresentadores com base no tema do evento - mulheres liderando eventos sobre feminismo, pessoas negras em eventos sobre negritude, e assim por diante. Embora essa escolha possa parecer inclusiva, ela muitas vezes limita a representação a uma narrativa única e estereotipada. Não estou argumentando que tais substituições sejam sempre inadequadas, mas sim que devemos refletir sobre o impacto dessas escolhas. Em eventos oficiais e solenes, por exemplo, a dinâmica é delicada. A condução desses eventos exige não apenas conhecimento técnico, mas também uma compreensão do público e do contexto. Será que estamos realmente sendo inclusivos se limitamos as oportunidades com base em identidades específicas? 

É mais efetivo e inclusivo criar espaços onde profissionais, independentemente de sua condição, possam se capacitar para suas funções pretendidas. Ou será que pessoas com deficiência, mulheres e negros só têm o direito de fala nos eventos sobre diversidade?

Precisamos, como afirma Guilherme Bara, "romantizar menos e ser mais pragmáticos". A inclusão não deve ser apenas uma questão de representação visual, mas também de oferecer oportunidades reais e igualitárias a todos, independentemente de raça, gênero ou deficiência.

A diversidade e a inclusão devem ser mais do que temas de eventos; devem ser princípios orientadores em todas as nossas ações. Somos universais em nossas diferenças, e é nosso dever garantir que cada voz seja ouvida, cada história seja contada, e cada pessoa seja vista - não como um personagem de uma narrativa pré-definida, mas como um indivíduo integral e valioso.

Minha identidade - ser branco, de olhos claros, e trabalhar com autoridades - não me define integralmente, nem limita minha capacidade de apoiar todas as lutas pela igualdade e representação. Ser pai de uma jovem com deficiência, tema que já abordei em eventos públicos, também não. No final das contas, a inclusão verdadeira transcende essas categorias, reconhecendo e valorizando a singularidade de cada indivíduo.

Sou o Mestre de Cerimônias e o meu dever é sempre o de passar a palavra a quem tem direito!

Christian Jung é publicitário, locutor e mestre de cerimônias ([email protected])

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