Inovações brasileiras para o combate às mudanças climáticas e o papel da comunicação internacional na COP28

Por Letícia Palma, para Coletiva.net

Participei da mais recente edição da Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (COP 28) ocorrida em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em dezembro. O evento, que reúne representantes de governos, empresas, organizações não governamentais e sociedade civil do mundo todo para discutir políticas e soluções para mitigar o aquecimento do planeta, é uma grande vitrine para divulgar inovações e dar visibilidade a negócios sustentáveis. 

Durante os dez dias que estive da COP28, pude conhecer diversas iniciativas sustentáveis inovadoras que podem contribuir para o combate às mudanças climáticas. Políticas públicas de vários países e soluções tecnológicas apresentadas durante o evento mostram que é possível conciliar a redução de emissões, manter a economia mundial em crescimento e aumentar o bem-estar do planeta. 

O Brasil tem um papel fundamental nestas discussões e tem se tornado um provedor de soluções inovadoras para as mudanças climáticas. As empresas brasileiras também têm se posicionado de maneira mais assertiva e mostrado soluções interessantes para o combate às mudanças climáticas. Durante a COP, trabalhei na implementação da estratégia de promoção, reputação e imagem de uma empresa brasileira de combustíveis renováveis, que utiliza como matéria-prima uma planta brasileira nativa chamada macaúba (Acrocomia aculeata). 

A macaúba é uma planta com alta produtividade de óleo por hectare e altamente competitiva em relação a outras culturas na produção de biodiesel. É mais produtiva que as matérias-primas tradicionais como soja, dendê, milho e girassol. Outra vantagem é que a planta já é adaptada ao clima brasileiro, crescendo nos biomas Cerrado e Caatinga e, ainda, oferece maior eficiência no uso da água e nutrientes. Ou seja, a macaúba produz mais óleo com menor custo, comparativamente a outras matérias-primas utilizadas na produção de combustíveis renováveis.

Como espécie perene nativa, os bosques de macaúba geram uma gama de serviços ambientais, como captura de carbono, produção de água, equilíbrio do clima, conservação ou até mesmo a recuperação da biodiversidade à medida que áreas degradadas são substituídas por sistemas agroflorestais. A cobertura vegetal com a macaúba contribui para a recuperação de mananciais de água e serve ainda de fonte de alimento para a pecuária.

Durante a COP28, meu trabalho como jornalista e assessora de imprensa foi coordenar e executar o plano de divulgação junto à imprensa internacional desta inovação brasileira para o desenvolvimento de biocombustíveis avançados como o diesel renovável e o SAF (Combustível Sustentável de Aviação). A produção do combustível, utilizando o óleo da semente de macaúba como matéria-prima, possibilita reduzir em até 80% as emissões de gases de efeitos estufa nos transportes terrestres e aéreos comparativamente ao uso de combustíveis fósseis, e pode colocar o Brasil na vanguarda da produção de combustíveis renováveis avançados em escala mundial.

Participamos de sete seminários, durante a Conferência, com especialistas renomados sobre combustíveis renováveis para potencializar a divulgação da inovação. Realizamos também um evento de lançamento mundial do projeto no belíssimo Museu do Futuro de Dubai com a participação de diversas autoridades brasileiras e estrangeiras.  

O resultado do trabalho durante a COP foi fantástico! Emplacamos mais de 450 matérias sobre o assunto em veículos de comunicação em mais de 30 países, entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro de 2023. Foram publicadas matérias em veículos internacionais de comunicação de primeira linha como The Guardian, Político e CNN, que atingiram 250 milhões de visualizações. Diversas outras reportagens internacionais sobre o tema foram publicadas posteriormente e o assunto realmente tornou-se recorrente nas mídias internacional e nacional.

Para tanto, foi necessário um planejamento preliminar para identificar veículos e jornalistas estratégicos no exterior e enviar material em diversos idiomas sobre o projeto. Também, foi necessária a realização de reuniões presenciais e virtuais para apresentar o projeto e seus impactos. Durante a COP28, na sala de imprensa, foram realizados contatos com jornalistas e formadores de opinião para divulgar a macaúba e o seu potencial como matéria-prima para a produção de combustíveis renováveis.

O Brasil é gigante, tem uma das maiores áreas de preservação de florestas, assim como uma das matrizes de energia mais limpas do mundo e sua biodiversidade é um laboratório de inovações que podem beneficiar todo o planeta. 

Neste sentido, o trabalho de construção da reputação e imagem positiva da macaúba como matéria-prima inovadora para a produção de combustíveis renováveis através da assessoria de imprensa internacional foi fundamental para potencializar a divulgação dessa inovação e abrir os olhos do mundo para o potencial de investir no Brasil com o objetivo de criar soluções sustentáveis para a descarbonização do transporte. 

É gratificante conhecer iniciativas brasileiras ousadas como a produção de combustíveis renováveis, que usam plantas nativas como matéria-prima. Há demanda e interesse no exterior por soluções inovadoras do Brasil que contribuam para um futuro mais sustentável. E uma estratégia de comunicação acertada pode trazer a visibilidade necessária para alavancar negócios, atrair investimentos e abrir mercados para produtos brasileiros com grande apelo sustentável no exterior.

Leticia Dorfman Palma é CEO da Lumine e diretora de Comunicação e Relações Governamentais da BGlobal ([email protected])

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