Para a geração Z, é possível ser autêntico usando cópias

Por Maicon Dias, para Coletiva.net

Maicon Dias - Crédito: Divulgação

Há algum tempo, o legal era ostentar produtos de marca. O tênis da moda, a bolsa, a pulseira. Usar alternativas mais acessíveis era quase impensável. Atualmente, a narrativa mudou radicalmente, dando as boas-vindas aos "dupes".

O termo "Dupe" é uma abreviação da palavra "duplicate", duplicar ou reproduzir. Na indústria da moda e no varejo, um dupe é um produto criado para ser muito semelhante em design e funcionalidade a um item de uma marca renomada - mas com um preço bem mais em conta.

Importante ressaltar que, ao contrário das falsificações, os dupes não tentam ser réplicas exatas, não ostentam logotipos falsos e marcas registradas. Porém, a cultura dos dupes está ganhando destaque especialmente entre a geração Z, sob o argumento da democratização do consumo de artigos de luxo, demandando por produtos de moda populares e de alta qualidade, por preços mais baixos.

Sim, a tendência pode parecer contraditória, já que as gerações mais novas também estão muito ligadas a questões de sustentabilidade e transparência. Mesmo assim, a busca pelo "bom o suficiente inspirado em original de grife", com valores menores, está se tornando uma norma social. Se antigamente as pessoas escondiam a origem incerta dos produtos que usavam, hoje é motivo de orgulho promover um praticamente idêntico por uma fração do preço original. Os dupes são reflexo de um movimento que não se preocupa com a ostentação da marca e sim com o sentimento de pertencimento a um determinado grupo social.

Podemos ver isso - e muito - nas redes sociais. A hashtag #dupe tem milhões de visualizações e é amplamente utilizada em canais virtuais diversos. Novos perfis com "achadinhos" surgem e se popularizam a cada dia. Além disso, os mecanismos de busca tornaram mais fácil encontrar produtos similares a preços mais baixos.

Diante desse cenário, as marcas estão se adaptando de diversas maneiras. Uma loja conhecida por suas roupas esportivas, realizou um evento em Los Angeles, onde os consumidores podiam trocar leggings falsas por produtos autênticos da empresa. O acontecimento atraiu milhares de participantes, muitos dos quais eram novos clientes. Já outra marca, lançou uma versão 'falsificada' de seus próprios cosméticos para ironizar cópias. A estratégia gerou interesse e questionou até que ponto os clientes estão dispostos a acreditar em réplicas. 

É claro que marcas fortes e desejadas continuarão a ter sucesso, mesmo diante da disponibilidade de réplicas. Porém, a cultura dos dupes ilustra como as percepções dos consumidores estão mudando. O que era considerado tabu no passado agora é aceito e até mesmo celebrado. A geração Z atualmente cria tendências que muitos millennials seguem. Cabe às marcas, um olhar atento para não ficar de fora e entender como montar boas estratégias a partir do comportamento dos consumidores.

Maicon Dias é publicitário especializado em Neurociência e CEO da agência Gampi Casa Criativa

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