Sou pai

Por Iraguassú Farias, para Coletiva.net

Iraguassu Farias

O texto a seguir nada tem a ver com o título, a não ser pelo fato de ser o que me resta por não ter escrito um livro, nem plantado uma árvore na vida.

Ainda não escrevi livro, mas nos últimos sete anos adquiri o gosto pela escrita aprendendo com o Coletiva.net. Não estudei Jornalismo por falta de dinheiro e o mercado se livrou de mais um pobre. Aliás, o ganho se resume a isto, porque o objetivo no portal - o de ficar rico - não vai ser atingido mesmo.

A arte de vender não é atributo de muitos. A maioria o faz por necessidade. Já se dizia, no início das carreiras profissionais, que o vendedor era aquele amigo da turma que não quis estudar.

E nesta tentativa de vender para sobreviver, tenho ajuntado muitas observações, muitas reflexões, muitas situações. Tantas, que resolvi falar sobre elas. São empíricas, são forçadamente pitorescas e, certamente, não estariam em um best seller de técnicas de vendas. Portanto, servem apenas para descontrair.

Nesta prática árdua, deparei-me muitas vezes com os tipos que vou descrever. É muito, muito difícil vender para a área da Comunicação. Os veículos, no meu entender, acham que bastam seus canais próprios para ascenderem na escala de reconhecimento do público e mesmo do faturamento. Não precisam anunciar seus atributos, seu Ibope e seus diferenciais. Eles são eles. As agências, por sua vez, talvez mal acostumadas com um passado de fulgor, ainda acham que não precisam anunciar. A menos que ganhem o espaço pelo que levam de negócios aos veículos, ou mediante promissora promessa.  Minha opinião. Sujeita a críticas, óbvio.

Mas no que resultaram minhas observações? Não raras vezes, neste mercado, a decisão de compra é do dono. Pode ser de colaborador, de comprador, óbvio, mas não é a tônica. Então, vou chamar a todos de empresário da comunicação.

O "CEGO CONVENIENTE" - aquele que vive de vender aos seus clientes sua alta capacidade de fazê-lo vender mais através de boa comunicação, recebendo para isto, mas jamais investe em sua própria marca. Vê apenas um lado da moeda.

O "FODÃO" - é tão bom, mas tão bom, que sabe fazer muito bem sua clientela vender mais, ganhar prêmios, estar sempre na mídia, que não precisa investir em sua própria marca. Afinal, clientes fazem fila em sua porta.

O "MAU OLHADO" - fica quietinho, de canto, não quer que ninguém saiba da sua boa performance e quanto menos souberem dele, melhor. Assim, não atrai olhos agourentos ou invejosos, e tampouco vão fazer fila para lhe vender. 

O "BONZINHO" - paga quanto quer, quando quer, da forma que quer, e acha que está lhe fazendo um grande favor comprando seu produto.

O "8 OU 80" - no caso, 8 é ele e 80 é você. Quer sempre pagar o mínimo e obter a máxima entrega. Quer relatórios e métricas a todo instante, e se deixar, te arranca mais vantagens pelo mesmo valor.

O "LOW PROFILE" - tímido por natureza e avesso à mídia, entende que é um valor tremendo não aparecer, não divulgar, pois isto o diferencia dos que vendem o que não tem. Mas acaba ele próprio enterrado em seus domínios.

O "MOITA" - tá sempre reclamando que os negócios estão muito ruins, mas não é bem assim. Também pode ser chamado de "empresário quero-quero", se é que me entendem. Esconde o jogo e jura que tá mal das pernas pra não te comprar nada.

O "CONTABILISTA" - vive enterrado em planilhas, balancetes, balanços, EBITDA, e só se preocupa com a última linha da planilha. Vive tentando entender a diferença entre despesa e investimento, e detesta comprar.

O "VAMOS VER" - está sempre à espera do melhor momento. Engaveta propostas, empilha oportunidades, enrola vendedor, e, de contrapeso, está sempre culpando o governo e à espera da melhora na economia.

O "OLHA EU AQUI" - este adora estar presente na mídia. Manda mensagens, diz que tem uma exclusiva ou uma pauta interessante, que é "só pra ti", e quando tu queres visitá-lo, nunca tem tempo pra ti. Menos ainda interesse em te comprar.

Espero que meus clientes não se magoem, porque é uma tentativa descontraída, como já disse. E não há inverdades aí, pois é assim que o mercado se delineia. Oportunamente, volto para falar dos empresários em um olhar mais positivo. Prometo.

E nem vou falar do empresário caranguejo, como costumam rotular a nós, os gaúchos, porque todos conhecem este adjetivo, assim como conhecem a velha história da carrocinha de cachorro quente, que muito vendia com o pai, mas que faliu nas mãos do filho estudado no exterior.

Iraguassú Farias é diretor Comercial de Coletiva.net.

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