O outro Colin

"Depois de dois dry martinis, as pessoas começam a ficar interessantes." (Ernest Hemingway) Ele tem o mesmo nome e demonstrava ter as mesmas competências …

Sem título"Depois de dois dry martinis, as pessoas

começam a ficar interessantes."

(Ernest Hemingway)
Ele tem o mesmo nome e demonstrava ter as mesmas competências que seu homônimo famoso, Colin Field - o celebrado barman do Bar Hemingway, de Paris. No entanto, Colin Prewitt não figura no "Who? s Who" francês e não tem uma foto emoldurada nas paredes de carvalho do "Beaufort Bar", no Savoy Hotel de Londres. Mas tudo isso habitava seus sonhos, enquanto lavava copos em bares de segunda no Meio-Oeste americano. Até conseguir emprego no mais emblemático hotel de Chicago, o "Palmers House".

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O nosso Colin começou servindo mesas no lobby do Palmers. O conto de fadas virou verdade quando o head bartender quebrou o pulso e ele foi convocado para ajudar no exclusivo Potters Lounge, famoso por seus sofisticados cocktails e seus clientes ilustres.
As grandes poltronas de couro negro deste men?s club às margens do Lago Michigan acolheram traseiros de muita gente famosa, como Oscar Wilde, Charles Dickens e Frank Sinatra, sem citar a longa lista de presidentes dos Estados Unidos. Era a chance que Colin C. Prewitt há muito esperava. Ele passou a oferecer aos clientes do Potters Lounge as receitas dos mixed drinks que fizeram a fama do Ritz e de seu barman.

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Em pouco tempo, o Very Dry Martini que ele prepara é o best seller da casa. Um colunista do Chicago Tribune compara o Dry Martini de Chicago com o do Harry"s Bar de Veneza. Foi o suficiente para que viajantes e executivos se acotovelassem no balcão do Potters para ver Colin Prewitt manejar suas coqueteleiras de prata. Dizia-se que seu grande ato era preparar dois cocktails ao mesmo tempo - de um lado, um Very Dry Martini, e, do outro, sua versão do Serendipity, com calvados, suco de maçãs verdes, champagne brut e folhas de hortelã.
No entanto, a fama às vezes pode ser traiçoeira - chegou um ponto em que os cocktails de Colin atraiam mais clientes para o Potters Lounge do que para o Lockwood, o restaurante cinco estrelas do Palmer. Instalado na cobertura do hotel, era celebrado por suas suntuosas refeições, assinadas por chefs franceses. Colin foi então aconselhado a servir cocktails apenas aos clientes do Lockwood. Mas os frequentadores não estavam interessados na French Cusine e sim em Very Dry Martinis. Criado o impasse, Colin C. Prewitt junta suas coqueteleiras e muda-se para downtown, instalando-se no Bernard"s, o bar do Waldorf Astoria Hotel.
Não demorou para que os bebedores de martinis o seguissem no novo endereço. Os cocktails de Colin passam a ser uma das atrações do hotel - e os preços acompanhando o sucesso. Enquanto um cocktail na cidade custava em média US$ 7, o Very Dry Martini de Colin subiu para US$ 18.
Eufórico com a volta aos brilhos da fama, ele se inscreve em um concurso para bartenders, promovido pelo The Connaught Hotel, de Londres. Quando lê que um dos jurados era Colin Field, ele não hesita - paga os US$ 500 de inscrição e viaja para Londres com suas coqueteleiras de prata. A premiação para o bartender vencedor era tentadora: US$ 10 mil e um contrato de um ano no Connaught Bar, célebre pela adega de vinhos do Porto e por seus mixed drinks.

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Mas em Londres a Fortuna não sorriu para Colin C. Prewitt como o fizera em Chicago. Suas coqueteleiras de prata foram recusadas - era "de rigueur " usar o modelo do British Club of Bartenders. Para finalizar, não se classificou entre os finalistas e, quando apresentado ao seu homônimo famoso, ouviu um desanimador comentário sobre o uso excessivo de Noilly Pratt. Aquela noite truncou uma carreira de sucessos. Colin volta arrasado para Chicago e, desde então, seu Very Dry Martini nunca mais foi o mesmo.

Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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