Quem não gosta de cachorro, bom sujeito não é!

Se você acha muito desagradável entrar em uma casa ou apartamento e ter sua roupa, recém saída da lavanderia ou da prateleira de uma …

Se você acha muito desagradável entrar em uma casa ou apartamento e ter sua roupa, recém saída da lavanderia ou da prateleira de uma loja de grife, imediatamente ficar colorida por pelos de bichanos, fuja do meu endereço. Se você considera desrespeitoso dividir o sofá da sala do local visitado com cachorros que se comportam como verdadeiros donos do pedaço, não chegue perto da minha humilde residência. Pois, no meu apartamento, convivemos, há quase sete anos, eu, a minha filha adolescente/adulta Gabriela, e o cão mais amado deste planeta e que manda e desmanda nas duas.
Dalai, meu neto canino shih tzu, completa sete anos em dezembro (assim como a Gabriela, ele é sagitariano e tem todas as qualidades e defeitos deste signo). Mas ele é um ser animal totalmente diferente de qualquer dos mais de 10 cachorros que eu já tive. É especial, único, carinhoso, amoroso, e como eu li em algum lugar (não sei aonde), um shih tzu jamais deixa explícito o seu amor mais profundo. Não espere ver o Dalai encurralado tendo que escolher entre as suas duas donas (sim, embora na hora da briga eu sempre diga que o cusco é da Gabriela).
Dentro das minhas posições radicais, tenho uma nova teoria (eu e mais vários seguidores, conhecidos e amigos no facebook). Não confio em pessoas que não gostam de cachorros. Mas confio totalmente num cachorro quando ele não gosta de uma pessoa. Simples e verdadeiro. Principalmente se o cachorro for da raça shih tzu. Não haverá engano. Como um canino dócil, carinhoso, que adora um colo e a companhia de crianças e é manso, como um shih tzu, irá se enganar em relação a algum ser humano? Impossível. Dalai conhece o bem e o mal só pelo jeito do passo que a pessoa/visitante faz quando caminha no corredor em direção à porta do meu apartamento.
Por isso, se um humano ignorar aquela bola de pelos pulando feito uma pipoca na panela, esperando o seu carinho, e isto não lhe comover, bom sujeito com certeza esta pessoa não é. Por isso, só um humano com um coração de pedra não se encanta ao ver um cachorro demonstrando o seu mais puro amor, amizade, lealdade e fidelidade.
Tive uns 15 dias de férias e não realizei nenhum grande tour turístico. Fiquei uns dias em Butiá, na casa de meu irmão curtindo as travessuras do Lucas, o meu afilhado menor, e uns dois dias em Nova Petrópolis, na companhia de uma super amiga da Saudosa Maloca. Preciso confessar, é claro, a imensa saudade da minha filha, que mesmo crescida, na faculdade, fazendo estágio, com namorado, e as brigas familiares que, às vezes, nos afastam, é e sempre será a minha maior razão de vida e a minha necessidade de tentar ser melhor todo o novo dia.
Mas falar com ela ao telefone ajudava, um pouco, a diminuir a saudade. Mas com o Dalai esta saudade não tinha jeito de ser atenuada. Ficava imaginando se a orelhinha dele estava levantada, se ele já tinha comido a sua ração, se ele já estava se preparando para dormir sobre o cobertor que deixo no sofá para se aquecer no inverno. E até, quando os ponteiros do relógio marcavam 19h, eu imaginava a cena tradicional dele esperando eu girar a chave da porta de entrada, para num ritual que precede qualquer atitude compulsiva que eu possa ter, encher o meu peludo de carinho.
E os motivos para gostar de cachorros são tantos que iria me perder aqui. Mas a explicação que me satisfaz mais e é do filme Marley & Eu: "para um cão, você não precisa de carrões, de grandes casas ou roupas de marca. Símbolos de status não significavam nada para ele. Um graveto já está ótimo. Um cachorro não se importa se você é rico ou pobre, inteligente ou idiota, esperto ou burro. Um cão não julga os outros por sua cor, credo ou classe, mas por quem são por dentro. Dê seu coração a ele, e ele lhe dará o dele. É realmente muito simples, mas, mesmo assim, nós humanos, tão mais sábios e sofisticados, sempre tivemos problemas para descobrir o que realmente importa ou não. De quantas pessoas você pode falar isso? Quantas pessoas fazem você se sentir raro, puro e especial? Quantas pessoas fazem você se sentir extraordinário?".
Este texto foi publicado originalmente em 20 de agosto de 2014.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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