Quadros como capachos

"Todos os lamentos, amarguras e tristezas são esquecidos diante de uma bela pintura". Camille Pissarro. *** Em 1871, Camille Pissarro volta para Louveciennes, uma …

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"Todos os lamentos, amarguras e tristezas são

esquecidos diante de uma bela pintura".

Camille Pissarro.

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Em 1871, Camille Pissarro volta para Louveciennes, uma aldeia próxima a Paris e se depara com as mais de 1.500 pinturas, nas quais trabalhara durante 20 anos, destruídas ou inutilizadas. Sua casa havia sido usada como albergue pelos soldados prussianos e, as telas, usadas como capachos para limpar a lama de suas botas.

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Historiadores de arte dizem que as telas perdidas representavam os primórdios do estilo de pintar que pouco depois marcaria época como o Pré-impressionismo. Camille Pissarro estudara pintura com velhos mestres cosmo Gustave Courbet e Jean-Baptiste-Camille Corot. Já estava com 50 anos, quando adotou e desenvolveu o estilo de Georges Seurat e Paul Signac. Logo, sua figura patriarcal passou a exercer forte influência na Escola de Paris.
O crítico John Rewald escreve que ele era "um guru para os jovens pintores", não apenas por ser o mais velho dos impressionistas em atividade, mas também por sua modéstia, bondade e liderança. Paul Cézanne assim o definiria:

"Pissarro foi como um pai para nós, um homem para se consultar, lembrando a figura do Bom Pastor".
Era considerado por Claude Renoir um revolucionário, por retratar pessoas comuns e cenas simples da natureza sem "os artifícios da grandiosidade". Foi o único artista que participou de todas as oito exposições impressionistas que aconteceram em Paris, de 1874 a 1886 e que mudaram os caminhos da pintura moderna. Seu estilo influenciou grandes post-impressionistas, como Georges Seurat, Paul Cézanne, Vincent van Gogh e Paul Gauguin.

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Depois de pintar camponeses e cenas rurais, o que provocaria de Émile Zola a exclamação: "Ele pinta o cheiro da terra!", Pissarro adota as ruas e avenidas de Paris como tema. Do alto da janela de seu hotel retrata a cidade ao longo do dia, usando diferentes matizes de cores e luz. Exatamente como faria mais tarde Paul Cézanne, em sua casa de Aix-en-Provence, ao pintar o Mont Sainte-Victoire incontáveis vezes, mas nunca da mesma forma e cores.
Jacob-Abraham-Camille Pissarro morreu em Paris, no dia 13 de novembro de 1903. Sua sepultura no Pére Lachaise é discreta e raramente visitada.
Enquanto vivo, ele recebeu reconhecimento e prestígio, mas não conheceu sucesso comercial, vendendo poucas pinturas, apenas para amigos e colecionadores. Em 2011, o Christie"s de New York vendeu uma paisagem sua, pintada no estilo pontilista por US$ 3,5 milhões.

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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