Melissa, a caçadora

“Se é imoral matar um leão, não seria igualmente imoral matar bois, porcos, ovelhas, galinhas e perus para comer seus filés, toucinhos, salsichas, ovos, presuntos e patês? …

sem titulo"Se é imoral matar um leão, não seria igualmente imoral matar bois, porcos, ovelhas, galinhas e perus para comer seus filés, toucinhos, salsichas, ovos, presuntos e patês?

Melissa Bachman.
Em novembro de 2013, uma conhecida apresentadora de TV dos Estados Unidos disparou seu rifle de alta potência e matou um grande leão macho em uma reserva de caça, na África do Sul.   Não satisfeita, postou sua foto na Internet, ao lado do leão abatido, se declarando feliz por sua aventura na selva. Em poucas horas, Melissa Bachman se transformou em viral nas redes sociais, com 485.000 posts no Facebook e no Twitter, xingada desde "pobre ser humano" até "demônio de batom". Associações e ONGs lideraram um boicote ao seu programa, sugerindo que ela fosse proibida de voltar à África.

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Quando voltou ao programa na TV, Melissa Bachman viu que sua audiência duplicara. Apesar das reações negativas, muita gente queria conhecer a mulher que desafiara o politicamente correto,   posando sorridente junto a um leão morto. Não sem antes retocar  o batom e o penteado, para merecer seus 15 minutos de fama global. Mesmo assim, não conseguiu um lugar no hall da fama dos grandes caçadores, alguns deles aclamados como heróis.
A galeria destes caçadores revela figuras estranhas e, ao mesmo tempo, fascinantes. Pertenceram a um tempo onde inexistiam as atuais preocupações com a natureza e preservação de espécies selvagens. Caçadores profissionais eram aventureiros mercenários, contratados para eliminar os predadores que ameaçavam o avanço do progresso.
Uma destas figuras de lenda foi Jim Corbett, coronel do exército inglês na India e destacado para matar tigres devoradores de homens. Quando se aposentou em 1938, Jim Corbett tinha em sua conta 19 tigres e 14 leopardos. Ficou famoso quando matou o grande tigre Champawat, que diziam ter devorado nada menos do que 436 pessoas. Por isso, Jim Corbett era chamado de Sadhu, a palavra para Homem-santo.

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No legendário do Far-West, William Cody foi um herói popular, que se apresentava em feiras e circos, com o nome de Buffalo Bill. Contratado como caçador pela Kansas Pacific Railroad, alcançou o impressionante recorde de 4.280 búfalos, abatidos com sua Winchester de repetição. Também serviu como boy scout da 5ª Cavalaria, ganhando em 1872 a Medalha de Honra do Congresso.

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O irlandês John Pondoro Taylor fez sua primeira incursão de caça na África em 1904. Planejava ficar por 30 dias, mas se encantou com as savanas e por lá permaneceu por 30 anos.
Usava rifles de alto calibre e tinha uma pontaria extraordinária.   Em sua autobiografia, alegou ter abatido milhares de diferentes animais selvagens e nada menos de 1.000 elefantes. Escreveu livros sobre caça, com grande sucesso de vendas.

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Já o norte-americano Chuck Adams é um caçador diferente - aos 50 anos, é considerado o melhor arqueiro profissional em atividade. Diz que nunca usou arma de fogo contra animais selvagens. Se dedica a caçar - com arco e flecha - grandes ursos cinzentos nas florestas dos Estados Unidos e Canadá. Já abateu 100 deles e possui todos os troféus de arqueria existentes.

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Outro personagem curioso nesta galeria: Jedediah Strong Smith, um pastor que viveu de 1799 a 1831. Metodista convicto, não praguejava e nunca tomou uma gota de álcool. Era conhecido por sua determinação e absoluta falta de humor. Mesmo assim, os registros o descrevem como um dos grandes exploradores e caçadores do Novo Mundo - foi o primeiro homem branco a atravessar a Sierra Nevada e liderou uma caravana de carroções do Oregon até a Califórnia. Sobreviveu ao ataque de um grande urso cinzento e matou quase 300 deles.

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Para desmentir o mito que apenas os malvados homens brancos matam animais selvagens na África, o caçador indiano W.D.M.Bell
Karamojo foi o maior caçador de elefantes de seu tempo. Seu território eram as selvas de Uganda, onde estudou a anatomia dos grandes paquidermes e desenvolveu uma técnica do tiro diagonal, diretamente no cérebro do animal, que matava instantaneamente. Não movido por piedade, mas por simples eficiência. O recorde de Bell Karamojo, morto em 1951: mais de 1.000 elefantes.

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Tudo isso considerado e sem mencionar outros célebres atiradores, com o calibre de David Crockett, Daniel Boone, Teddy Roosevelt e Ernest Hemingway, a charmosa Melissa Bachman não passa de uma simples amadora.

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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