TVs e rádios públicas com mais qualidade

Foi-se o tempo  em que a imprensa oficial era pejorativamente denominada de "chapa  branca", em uma alusão ao seu foco meramente oficialesco, puramente registrativo …

Foi-se o tempo  em que a imprensa oficial era pejorativamente denominada de "chapa  branca", em uma alusão ao seu foco meramente oficialesco, puramente registrativo e sem conteúdo jornalístico confiável. Há tempos venho acompanhando a programação dos principais veículos de comunicação oficial do Estado e alguns da União, justamente para saber como se comportam e qual o retorno que prestam ao público em função das estruturas montadas e dos investimentos realizados.
Ultimamente tenho me surpreendido com a evolução desse processo. Talvez fosse interessante para um estudante de comunicação tratar deste tema em sua monografia de conclusão do curso. Não sei se foi feito algum trabalho de fôlego e grande abrangência, e não de apenas um veículo. Quando registro minha surpresa é pelo lado positivo. Vou concentrar minhas observações na programação das emissoras de televisão, na Rádio Cultura local e em alguns sites, destacando apenas o da Fundação Padre Anchieta/Rádio e TV Cultura de São Paulo, que tenho visitado ultimamente e considero muito bem feito. Ah! e a Voz do Brasil.
Durante a semana o tempo não me permite acompanhar tão de perto a programação das TVs da União (TV Brasil e NBr), do Senado, da Câmara Federal, da Assembleia Legislativa do RS/Câmara  Municipal de Porto Alegre, UniTV e TV Ulbra e TV Justiça -  às vezes dedico um pouco mais de tempo à nossa TV Educativa, que tem uma programação que, de certa forma, concorre com a das TVs abertas.
Durante a semana, as emissoras da União, Senado, Câmara, Assembleia RS/Câmara Municipal e Justiça exibem preferencialmente as ações do dia-a-dia, as sessões plenárias, discursos e votações. Esse é um registro necessário, mas sobra espaço para o noticiário jornalístico de bom nível. Seria interessante os coordenadores de produção (antigos pauteiros ou chefes de reportagem) dispensarem alguma atenção a estes canais, pois podem render boas pautas.
Alguém pode se perguntar: mas esse cara não trabalha, pois parece que tem tempo para ver tantos programas em tantos veículos diferentes? Como já "pendurei as chuteiras" em relação aos compromissos de um jornalista de veículo diário e que mantém alguma atividade de consultoria por amor ao jornalismo, tenho sim, algum tempo disponível. E é possível sim, avaliar a  programação de diversos veículos.
Como ressaltei no início, foi-se o tempo do sistema "chapa branca". Temos bons profissionais no setor público, muitos dos quais carregando a experiência de anos de atividade na iniciativa privada. Assim, conseguem implantar um sistema e um ritmo adequado ao perfil da mídia em questão e dentro das prioridades do "patrão" institucional.
No item "rádio",  tenho escutado com mais frequência a Voz do Brasil, porque se o rádio já estava ligado, não desligo às 19 horas e ouço quase todo - minha esposa também tinha esse hábito, mas quando usava o carro para trabalhar e na volta, a sintonia ficava na Voz do Brasil. Esta emissora também mudou, em parte para melhor, mas ainda não tem o foco ideal. A maior mudança foi no sentido de partilhar o espaço que antes era predominantemente dedicado ao Poder Executivo, com os outros, agregando - com equipes de produção e apresentação próprias - boletins do Senado, da Câmara Federal e do Poder Judiciário. É um apanhado geral, mas que também rende boas pautas para quem quer estar informado do que ocorre no "coração de Brasília". A nossa Rádio Cultura local também tem uma boa programação, mas confesso que preciso escutar mais para pode avaliar com justiça seu conteúdo. Fica para uma próxima ocasião. Quero comentar sobre as TVs.
Nos finais de semana a programação da TV Senado, TV Câmara, TV Assembleia que divide canal e o espaço com a TV Câmara de Porto Alegre, UniTV e TV Ulbra apresentam uma programação variada. Além de notícias pertinentes a seus segmentos, dedicam espaços generosos para as áreas de cultura, com entrevistas, concertos, apresentação de shows de música, debates etc. A TV Brasil, por exemplo, chega a transmitir até o futebol da Série C do Brasileirão. Assim, é uma boa opção para quem concorda que a programação das TVs abertas anda de dar dó, raiva e sono.
Há uma semana acompanhei o espaço da TV Câmara de Porto Alegre e em pouco tempo duas boas reportagens, uma sobre os Bancos Sociais mantidos pela FIERGS - eu só sabia do Banco de Alimentos. São vários outros, de marcenaria a informática, passando por têxtil etc.  A outra tratava de um tema importante: a desatualização sobre as placas de sinalização das ruas da Capital.  Ontem, alertado pelo meu amigo Orestes Andrade Júnior, da Secom do Estado, fui conferir algumas reportagens da TVE, em estilo mais leve, porém, de importância como aquela que abordava o trabalho das mulheres na construção civil em Balneário Pinhal.
Também assisto de vez em quando a programas da UniTV e da TV Ulbra. A primeira é mais focada na questão da educação, do ensino, com entrevistas, debates, notícias. Já a TV Ulbra é um mix de programação educativa, com espaços cedidos a terceiros e também filmes antigos. Porém, cada uma vem evoluindo no seu processo de integração com a sociedade. Podem melhorar? Sim, e tenho certeza que isso vai acontecer de forma rápida, como o público exige. Por isso quero dar meus parabéns aos diretores destas emissoras que, mesmo recebendo críticas de alguns puristas, estão buscando melhorar a sua comunicação. Cabe a nós opinar, sugerir, criticar, pois se ficarmos mudos não vamos ajudar em nada.

Autor
Júlio Sortica é jornalista formado pela Ufrgs. Foi repórter do Diário de Notícias, Zero Hora, Folha da Tarde, Jornal do Comércio, Correio do Povo, Revista Consumidor, editor da Plástico Sul, diretor de O Sul e coordenador de Comunicação da Secretaria de Planejamento do Estado do RS. Fez várias coberturas internacionais, editou publicações segmentadas.

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