Currículo afetivo

Eduardo Consentino  da Cunha: Como será que passará à História esse equívoco genético que o País pariu no Rio de Janeiro em ? 20 …

Eduardo Consentino  da Cunha:

Como será que passará à História

esse equívoco genético que o País

pariu no Rio de Janeiro em ? 20 de

setembro de 1958?
O francês Rousseau divulgou o pensamento de que o homem é produto do seu meio e, depois, diversos filósofos trataram dessa relação do homem com o seu meio ambiente, além de outras abordagens do tema na antiguidade.
Outro dia, pensando sobre racismo e machismo, duas características sobre as quais nossa sociedade vive sendo agredida e das quais cheguei aos 84 anos casto desses pecados, lembrei-me de Rousseau e fui às minhas origens. Sou filho de um casal branco, da classe média paulista, com títulos universitários e até com um momento hilário na formação de minha mãe: entrou na Faculdade de Farmácia e Química de São Paulo com 14 anos e ganhou de presente, dos colegas, uma boneca!
Minha mãe nasceu em Capivari (SP) e meu pai, em Campinas (SP), onde nasceram minhas irmãs Célia, 1928, e Rachel, 1929. Em 1931, nasceu aquele que seria o bebê prêmio de robustez do ano, eu. Eduardo, meu irmão, nasceu em 1936 e, de acordo com a crônica familiar, não foi premiado por excesso de peso. Era robusto demais.
Mas o grande acontecimento na década de 1930, na família Almeida, foi a chegada da negra Francisca - Chica -, com 17 anos, quando eu tinha ainda dias de vida.
Chica ajudou minha mãe a criar seus quatro filhos, depois ajudou minha irmã Célia a criar seus também 4 filhos, em Ribeirão Preto, onde morreu bem velhinha.
Já escrevi que eu devia ser mulato, graças à Chica, minha mãe preta. Sexta-feira agora foi feriado no Rio, Dia da Consciência Negra.
Além da Chica, tive e tenho amigos, colegas e servidores negros e negras.
Peço licença aos leitores e aproveito a data para mandar um beijo para Mara, ex-babá das minhas filhas, e para Alice, ex-guardiã das piscinas do Clube daqui, onde minhas filhas nadaram por mais de 10 anos e sempre me recebia com um grande sorriso. A marca registrada da Alice é a gargalhada e, hoje, aposentada, mora numa casa cheia de flores, conforme foto que me mostrou.
Como deveria ser mulato, não poderia ser racista. Também não sou machista e na próxima coluna explicarei o motivo. Amo as mulheres nos mais amplos e abrangentes sentidos. Não sou feminista, acho óbvio demais para uma postura que deveria ser compulsória.
Boa semana!
Inté.

Autor
Mario de Almeida é jornalista, publicitário e escritor.

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