A "pedalada" que motiva o impeachment assusta o eleitor

A maior parte do eleitorado gaúcho "sabe" que impeachment significa "cassar o Presidente". Dentre a população com menor grau de educação formal, a contextualização …

A maior parte do eleitorado gaúcho "sabe" que impeachment significa "cassar o Presidente". Dentre a população com menor grau de educação formal, a contextualização do conceito de impeachment é realizada pelos mais velhos, relatando o episódio que culminou com a renúncia do ex-presidente Collor de Mello antes da cassação de seus direitos políticos.
O impeachment é um processo instaurado com base em denúncia de crime de responsabilidade contra alta autoridade do poder executivo cuja sentença é da alçada do poder legislativo. O pedido de impedimento que transita contra a presidente Dilma Rousseff está baseado no crime de responsabilidade fiscal, em função das denominadas "Pedaladas Fiscais" que se configura na utilização de recursos de bancos públicos no subsidio de programas sociais.
O eleitor que tem "noção" do conceito de impeachment, não tem "noção" do conceito de "Pedalada Fiscal" ou o que significa "crime de responsabilidade fiscal". O eleitor relembra que o ex-presidente Collor foi impedido por um comportamento pessoal irregular, onde houve beneficio próprio, mas ainda está confuso quanto à acusação que atinge a Presidente Dilma.
É importante relembrar que o ano de 2015 foi ímpar na quantidade de denúncias de corrupção, em especial, a operação "Lava Jato". Estas denúncias, somadas ao aumento do combustível e do custo da energia elétrica, aumentaram a perplexidade do eleitor. Este conclui que os aumentos estão associados ao esquema de corrupção que envolviam a Petrobras; para os eleitores, é corrente a ideia de que "eles roubam e nós pagamos".
Esta perplexidade do eleitor foi se transformando em certo "temor" ao se deparar com a revisão e alteração de direitos dos trabalhadores, diminuição de programas sociais e aumento do custo de vida, acompanhado da precarização de serviços públicos como saúde e segurança e a estagnação de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
E o eleitor temeroso e descrente "está sendo avisado" de que há um pedido de impedimento contra a Presidente por crime de "reponsabilidade fiscal" e se os índices de avaliação da Presidente contemplassem pelo menos um terço de avaliação positiva a retórica de defesa utilizada poderia fazer analogia com uma ação "Robin Hood", que explicaria que "tirou dos bancos para pagar programas sociais como "Bolsa Família", "Minha Casa Minha Vida" ou "Minha Casa Melhor", com possibilidade de garantir o apoio popular".
Contudo, os índices de aprovação que não são favoráveis à defesa da Presidente e de seus aliados também não são favoráveis aos ataques do Presidente da Câmara e de seus aliados. Os eleitores desejam "que se vire a página o mais rápido possível", acreditam que o perdedor desta disputa será a população, o Brasil. Afirmam que "não aguentam mais tanta corrupção, acusação e serviços públicos mal feitos" e o "aperto no bolso". Se comportam como filhos que observam os "pais brigando sem saber quem tem razão" e desejam construir a sua história longe desta briga.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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