Apoiar manifestações sim, participar não!

O Brasil vive uma crise econômica, política e social. A crise social pode ser classificada como uma crise de ética e de credibilidade. O …

O Brasil vive uma crise econômica, política e social. A crise social pode ser classificada como uma crise de ética e de credibilidade. O "jeitinho brasileiro" que sempre rodeou as relações sociais e "disfarçou" o conceito de corrupção está sendo questionado pela população!
A indignação da população é percebida nos mais variados campos das relações sociais, transcendendo o mundo da política. O eleitor indignado é o mesmo consumidor que se sente ultrajado. O consumidor ultrajado é o mesmo cidadão desrespeitado, o mesmo cidadão desrespeitado é o mesmo chefe de família frustrado.
O IPO - Instituto Pesquisas de Opinião durante o ano de 2015 manteve investigações sobre a percepção da população em relação às manifestações populares.
Os gaúchos são favoráveis às manifestações populares, sendo que 74,1% consideram importantes as manifestações e afirmam que "as pessoas devem ir para as ruas". Esta percepção está ancorada em três lógicas de argumentos:
- o maior motivador das manifestações está associado ao combate à corrupção e à impunidade, fomentando um sentimento de "moralidade", sendo que 64% dos gaúchos acreditam que a corrupção no Brasil é antiga e independe dos partidos que estão no poder.
- o segundo motivador está associado ao descontentamento com o governo da presidente Dilma Rousseff. Esta insatisfação está associada à diminuição dos programas sociais, mudança nos direitos dos trabalhadores e ao aumento do custo de vida. Os eleitores "suspeitam" que a diminuição dos direitos e benefício e o aumento da inflação sejam resultados do aumento da corrupção.
- o terceiro fator está associado à precarização dos serviços públicos, à necessidade de que os serviços básicos sejam priorizados pelas políticas públicas.
Os mesmos gaúchos que declaram apoiar as manifestações populares afirmam, em sua maioria, não ter interesse de participar de manifestações pelo receio de violência, depredações ou pela apropriação indevida das manifestações por partidos políticos.
A grande maioria da população gaúcha (88%) não participa de nenhum tipo de instituição associativista ou partido político e delega a outrem a responsabilidade de lhe representar em debates que não lhe são caros ou desconhecidos.
Diante destes indicadores da cultura política brasileira verifica-se que a tendência do gaúcho é de não participação em manifestações políticas, independentemente de ser contra ou a favor do governo. O momento inspirador de junho de 2013, em que um pequeno percentual da população participou de manifestações de rua em várias cidades do RS, foi "sufocado" pelos "oportunistas da violência", que utilizaram a massa para praticar vandalismo ou até mesmo crimes.
A inexistência de uma grande massa de manifestantes nas ruas das principais cidades do RS não expressa apoio ou desapoio a determinada tese. A ausência de um grande contingente nas manifestações demostra a cultura política de não participação, fomentada pelo receio com a violência.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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