Cativo por Pamplona

Por José Antônio Moraes de Oliveira

"Quando Pamplona cativa, é para sempre;"

Provérbio basco.

Existem certas cidades emblemáticas ao redor do mundo que ficam em nossa memória, cobrando urgente retorno. Cada um deve ter uma, gravada na misteriosa memória emocional. A celebrada Gertrude Stein, patrocinadora dos então jovens Ernest Hemingway e Francis Scott Fitzgerald dizia que Paris era sua cidade "dal cuore":

"A América é minha pátria, mas aqui é minha cidade".

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A literatura nos legou relembranças de cidades adotadas por escritores e poetas. Como a Florença consagrada por E. M. Foster no clássico A Room With a View ou a Paris de sempre, que Ernest Hemingway celebrou em A Moveable Feast. O grande novelista deixou suas pegadas por muitos lugares por onde andou e se aventurou, mas não escondia um carinho especial com Pamplona, a cidade sede do antigo Reino de Navarra. 

A Espanha é recorrente nos escritos de Hemingway, mas Pamplona foi um amor intenso e instantâneo. Ele a visitou pela primeira vez em 1923, levando um grupo de amigos da Rive Gauche para as famosas corridas de touros. Existem fotos históricas que mostram o escritor cercado pelos amigos na Plaza de Toros ou posando sorridentes - e talvez um tanto embriagados - no Café Iruña, o elegante bistrot com o fascínio de fin-de-siècle com seus espelhos de cristal e piso de ladrilhos mouriscos. Ele ali voltaria outras vezes, cativado pelos encantos de Espanha, inspiração para seu primeiro grande romance, The Sun Also Rises.

O livro marca época e faz sucesso, retratando com crueza e emotividade os personagens da tal geração perdida de Gertrude Stein. Como a sedutora Lady Duff Twysden, amor parisiense do escritor e seu amigo Harold Loeb, sparring nas lutas de boxe. Hemingway ainda se permite o luxo de criar um retrato auto-biográfico, na figura de Jack Barnes, que na versão para o cinema foi vivido por um Tyrone Power, então no auge da fama.

No entanto, o relacionamento sentimental do romancista com a Espanha não mereceu um final feliz, como aconteceu com a Paris de seus primeiros anos. Em sua derradeira visita a Madrid e Pamplona, Hemingway procura uma Espanha que não existe mais. Adoentado e deprimido, ele vê seus livros serem proibidos pelo regime do General Francisco Franco. Nas livrarias de toda a Espanha, a Guardia Civil confisca os exemplares que encontra de The Sun Also Rises e For whom the Bell tolls.

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Quem hoje visitar Pamplona, ainda encontra umas poucas pegadas do Papa Hemingway. O mítico Café Iruña está fechado, mas diante da Plaza de Toros pode admirar uma escultura em bronze da cabeça do escritor, ainda usando sua malha branca de marinheiro. Pode-se dizer que Ernest Hemingway continua cativo por Pamplona.

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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