Desculpa pela ansiedade

Por Luan Pires

Eu estou vendo. "Ver" talvez seja força de linguagem. Mas, estou com você percebendo esse eco de pensamentos intrusivos forçando sua cabeça de dentro para fora. Eu respiro junto com você esse peso de ferro que parece comprimir seus pulmões. Eu sinto as cordas de aço amarrarem seu coração toda vez que você pensa no que vai vir e no que vai acontecer. É por isso que você não levanta. O peso do futuro misturado com a probabilidade da tragédia pesam no seu corpo e você não consegue sair de cima da cama. Mais ou menos como se, do nada, seu quarto virasse Júpiter com sua hipergravidade e agora a sensação é de viver numa aceleração sem fim digna de uma descida de montanha-russa. Os ossos, os tecidos se deformando, o cérebro recebendo cada vez menos sangue até deixar de funcionar... Você está parado sob sua cama por causa da ansiedade. 

Ansiedade não é criação minha, mas faz parte do encontro do pensar humano com os acontecimentos de um ciclo que tem fim. Eu entendo como é impossível pedir para vocês humanos não ficarem ansiosos porque eu não carrego o peso da mortalidade. Eu não tenho um corpo físico, num mundo físico, precisando reagir de maneira física quando conexões cerebrais formulam sentimentos que dizem para vocês deitarem na cama e ficarem em posição fetal. Ansiedade é a necessidade de controle que te controla. Vocês e seus cérebros tentando imaginar as milhões de variáveis e pensando em alternativas para evitar essas variáveis. Ansiedade é viver no pior cenário. É cruel. Por isso, peço desculpas a vocês ofertando os pequenos acontecimentos do agora. Se lembram deles? 

A lembrança de que vocês são tão pequenos em escala universal e que na verdade, nada disso realmente importa. Vocês, humanos, é que podem dizer o quanto importa. Eu ofereço a brisa que sacode o cabelo inesperadamente para você lembrar que existe um mundo lá fora. Ofereço seu gatinho ronronando no seu colo para te lembrar que amores incondicionais são reais. Ofereço um cheirinho de comida de mamãe para te dizer que você é a melhor pessoa do mundo para as pessoas do mundo que realmente você precisa se preocupar. Ofereço aquele olhar de cumplicidade de duas pessoas que mesmo em silêncio se entendem e se cuidam. O café recém passado chegando aromático e quente nas suas narinas, o calor da xícara num dia de inverno esquentando suas mãos. Ofereço a chance de desligar do computador e sair daquela reunião fingindo que nada daquilo importa mais do que aquela graminha gelada nos seus calcanhares, ou do que o sol quentinho batendo no seu rosto pela janela de um prédio cinza. 

Ofereço o presente. Desculpa pela ansiedade.

Com Amor, Vida.

Autor
Luan Nascimento Pires é jornalista e pós-graduado em Comunicação Digital. Tem especialização em diversidade e inclusão, escrita criativa e antropologia digital, bem como em estratégia, estudos geracionais e comportamentos do consumidor. Trabalha com planejamento estratégico e pesquisa em Publicidade e Endomarketing, atuando com marcas como Unimed, Sicredi, Corsan, Coca-Cola, Auxiliadora Predial, Deezer, Feira do Livro, Museu do Festival de Cinema em Gramado, entre outras. Articulista e responsável pelo espaço de diversidade e inclusão na Coletiva.net, com projetos de grupos inclusivos em agências e ações afirmativas no mercado de Comunicação. E-mail para contato: [email protected]

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