Idadismo: como é ser jovem no mercado de comunicação

Por Luan Pires

O Idadismo não atinge apenas os mais velhos, embora esse grupo tenha sofrido mais com a prática. O que não é desculpa para não enxergarmos o outro lado da moeda: também existe preconceito com as pessoas mais jovens na comunicação.

Segundo a Pan-Americana da Saúde, responsável por relatórios sobre o Idadismo no mundo, a definição mais correta do termo seria quando "a idade é usada para categorizar e dividir as pessoas de maneira a causar prejuízos, desvantagens e injustiças". Esse ponto é importante porque - embora a população 60+ sofra o peso desse preconceito com mais força - é algo que pode atingir também os mais novos. Ainda, segundo o relatório mundial, durante o curso da vida, o idadismo assume diferentes formas. Por exemplo, um jovem pode ser descredibilizado por se manifestar sobre um assunto por não ter experiência; ou então, pessoas mais velhas como mais novas podem não ser chamadas para uma vaga de trabalho em função da idade que têm. Idadismo é um preconceito que acomete todas as idades em diferentes contextos. 

De uma maneira geral, se refere a estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade que têm. Na minha trajetória como comunicador, onde me tornei coordenador de área muito cedo, sabia que a minha idade seria um problema. Não porque eu achava que sabia de tudo e as pessoas não iam me ouvir. Pelo contrário, como qualquer líder de núcleo, eu sabia que tinha muito o que aprender e que ser sincero sobre isso seria parte essencial da minha conexão com meu time. Mas, ao mesmo tempo, abria uma brecha para ser questionado: você não deveria saber de tudo? E eu sempre respondi mentalmente: Qual líder sabe de tudo? Lembro que nessa época, deixei a barba crescer justamente para diminuir a imagem de "menino". Minha experiência foi maravilhosa, mas chegou um momento que precisava estar em um lugar em que poderia aprender mais, queria crescer como profissional e como líder. 

Um comportamento que levei comigo em todos os locais que trabalhei foi o de me colocar no lugar das pessoas, criar um vínculo afetivo, porque isso permite que você possa ser mais crítico e objetivo sem que ela leve para o pessoal. Passei por chefes que confundiam objetividade com grosseria, eu não queria fazer o mesmo. Claro, que eles podiam ser assim porque eles eram mais velhos (embora não tivessem o mesmo conhecimento de área que eu tinha). Mas, quando eu precisava ser um pouco mais pragmático, diziam que era porque eu queria me impor. Outra experiência foi quando voltei a liderar um time e me posicionei como responsável por uma área em crescimento. Eu propus a organização da pauta, defendi que se algo urgente entra, o que não é urgente deve sair. Defendi a corresponsabilização de diversos setores e mandei e-mails gigantes com propostas e soluções que foram vistas como um jovem que queria chamar atenção. Na verdade, o que eu queria era dar pra minha equipe uma coisa que não tive: o sentimento de poder escolher quando pode ficar além do horário e quando não pode. Ouvi que muitos gostariam de estar nos nossos lugares e que por sermos jovens, precisávamos abraçar todas as oportunidades. Mas, a custo de que? Nossa saúde mental? Nossa confiança no que fazíamos? Nossas horas de lazer? Embora, naquela idade, não tinha uma casa própria para sustentar, ou filhos, ou outras tarefas de alguém com mais idade, eu tinha uma vida além do trabalho. Flexibilidade quando imposta não é flexibilidade, é abuso disfarçado de "sua vida fora daqui vale menos do que a dos outros". 

Claro que com o tempo fui amadurecendo e hoje aos 34 anos aprendi a lidar melhor com isso. Nem todos os locais que passei tive que enfrentar o idadismo tão recorrente e descarado. Alguns, me deram oportunidades que sou grato até hoje, entenderam minha curva de ascensão e o que eu poderia entregar dentro da minha esfera geracional. Em alguns lugares senti minha voz ouvida e pude ter debates francos com pessoas acima de mim na hierarquia, sempre respeitando, mas sempre sendo respeitado.

Mas, conversando com meus iguais, principalmente em agências de comunicação, sinto ainda que a idade às vezes vale mais que a experiência. Além disso, esse sentimento de que "devemos ser gratos" mesmo quando nossas ideias são incorporadas por outras pessoas porque, no fim das contas, ajudou o trabalho, é uma experiência amarga. Mesmo ajudando o time, todos querem crédito por suas ideias. Eu realmente acredito na força da experiência, acredito que os mais velhos têm muito o que ensinar, não só sobre trabalho, histórico e questões relacionais, mas como enxergar o dia a dia de maneira menos ansiosa. Mas, precisa haver uma contrapartida. 

Que a gente não precise se impor, que a nossa voz não precise ser endossada por alguém mais velho para ser ouvida. Num mercado de trabalho em que temos quatro gerações trabalhando juntas, não basta ter diversidade geracional na mesa da reunião, é preciso que todas as vozes sejam ouvidas através da inclusão, não só com o ouvido aberto, mas com a mente preparada para ver o que há de melhor ali. 

Com amor, Luan

 

Autor
Luan Nascimento Pires é jornalista e pós-graduado em Comunicação Digital. Tem especialização em diversidade e inclusão, escrita criativa e antropologia digital, bem como em estratégia, estudos geracionais e comportamentos do consumidor. Trabalha com planejamento estratégico e pesquisa em Publicidade e Endomarketing, atuando com marcas como Unimed, Sicredi, Corsan, Coca-Cola, Auxiliadora Predial, Deezer, Feira do Livro, Museu do Festival de Cinema em Gramado, entre outras. Articulista e responsável pelo espaço de diversidade e inclusão na Coletiva.net, com projetos de grupos inclusivos em agências e ações afirmativas no mercado de Comunicação. E-mail para contato: [email protected]

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