IN FORMA

Por Marino Boeira

Escolhendo o seu lado

Pela primeira vez desde a Segunda Guerra mundial, um acontecimento da política internacional está obrigando a todas as pessoas, razoavelmente informadas sobre o que acontece no mundo, a tomar uma posição.

Aquele velho discurso de isenção, de que temos que examinar a razão dos dois lados, perdeu o sentido. A guerra na Ucrânia já continha um pouco dessa exigência, mas refletindo as posições públicas do presidente Lula foi possível para muita gente ficar mais um algum tempo em cima do muro.

O genocídio da população palestina pelo governo de Israel, mesmo envolvido por questões raciais e religiosas, impede qualquer tipo de neutralidade. Historicamente tem o mesmo significado que a guerra movida pelos nazistas no Leste Europeu; que a guerra de Franco e os fascistas contra a Espanha Republicana e a invasão de mercenários financiados pelos Estados Unidos contra Cuba. Em todos esses momentos, as pessoas escolheram seu lado e vieram a público justificar suas escolhas.

A grande mídia brasileira, tendo à frente a Rede Globo, tomou partido a favor de Israel, tentando transformar um povo que foi oprimido durante dezenas de anos e reagiu, num ato quase desesperado - os palestinos - em culpados. E os opressores, que realizam uma política de apartheid, que um grande linguista e filósofo judeu, Noam Chomsky disse que é pior do que os brancos fizeram com os negros na África do Sul, durante décadas - os judeus - em vítimas.

Os fatos históricos estão todos documentados e quem quiser saber a verdade basta consultá-los. Desde a chamada Declaração Balfour de 1917, passando pelos acordos de Sykes-Picot e depois de Sevres, pelas conferências sionistas patrocinadas por Theodor Herzl, até chegar à recente presença de Benjamin Netanyahu na ONU, apresentando uma projeção futura da Grande Israel, que simplesmente apaga os palestinos do mapa do Oriente Médio, o projeto de Israel foi sempre de eliminação do povo palestino.

Israel nasceu para ser um estado teocrático judeu e as justificativas de sua existência não são políticas, são religiosas.

É dentro dessas perspectivas, que as pessoas bem informadas devem fazer suas escolhas.

Já que estou escrevendo num veículo independente da mídia, não posso deixar de registrar que ele é quase um caso único em Porto Alegre. O nosso principal jornal mandou um jornalista a Israel para apresentar diariamente a versão que interessa aos seus patrões e diga-se de passagem, fazendo isso de uma forma quase amadora.

O dirigente maior da empresa que edita esse jornal e que leva o sobrenome do seu fundador, assina um "a pedido" junto com grandes empresários locais e algumas figuras do meio artístico, defendendo Israel.

Um teatro de propriedade do Estado, o São Pedro, é palco essa semana de um ato, que disfarçado por um apelo de solidariedade religiosa, com a presença do governador do Estado e do prefeito da Capital e comandado por um conhecido jornalista ligado à comunidade sionista de Porto Alegre, mais uma vez assume publicamente a defesa do Estado de Israel.

Eles estão optando por um lado e têm todo o direito de fazer isso, ainda que não apresentem argumentos reais em defesa de suas posições.  

Afinal, como diz sempre o presidente Lula, vivemos num Estado Democrático de Direito onde todos podem se manifestar livremente.

Então, concordando inteiramente com essa posição do nosso presidente, denuncio a agressão de Israel em Gaza, sua política de apartheid e limpeza étnica e defendo o direito dos palestinos ao seu estado nacional erigido em suas terras originais, a Palestina Histórica.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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