IN FORMA

Por Marino Boeira

O Efeito Orloff: a Argentina é o Brasil amanhã ?

Em 1985, uma campanha publicitária da Vodka Orloff alcançou tanta repercussão que o seu bordão - Eu Sou Você Amanhã - serviu para as comparações mais diversas.

Uma que fez sucesso e está viva até hoje é a comparação dos eventos políticos e militares no Brasil e na Argentina.

O hoje no Brasil pode ser o amanhã na Argentina ou vice-versa, sempre servindo de pano de fundo para a velha rivalidade que separa brasileiros e argentinos.

Algumas vezes essas diferenças levaram os dois países à guerra, um contra o outro, como na chamada Guerra da Cisplatina entre 1825 e 1828, que terminou com a perda pelo Brasil da chamada Província Cisplatina e a criação do Uruguai.

De 1864 a 1870, Brasil e Argentina estiveram juntos na Guerra contra o Paraguai, quando fizeram o trabalho sujo a serviço da Inglaterra para derrubar o governo de Solano Lopes.

Quando estiveram vivendo ao mesmo tempo sob ditaduras militares, Argentina e Brasil, mais o Chile e Uruguai estiveram unidos na chamada Operação Condor de repressão aos movimentos de esquerda no Sul do Continente.

Na paz ou na guerra, brasileiros e argentinos sempre estiveram em disputa, principalmente no futebol, mas também na Literatura e no Cinema.

Rio ou Buenos Aires?

Getúlio Dorneles Vargas ou Juan Domingo Peron?

Quem foi o maior, Pelé ou Maradona? Houvesse uma arbitragem internacional, o brasileiro ganharia fácil. Já numa disputa entre Messi e Neymar, a vitória seria dos hermanos e de goleada.

José Luis Borges ou Carlos Drummond de Andrade?

Elis Regina ou Mercedes Sosa?

'Martin Fierro', de Jose Hernandez ou 'Os Sertões', de Euclides da Cunha?

'História Oficial', de Luis Puenzo com Norma Aleandro ou 'Vidas Secas', de Nelson Pereira dos Santos, com Átila Iorio?

Ricardo Darin ou Wagner Moura?

A eleição no final de semana de Javier Milei para Presidente da Argentina seria mais uma confirmação do Efeito Orloff?  

Milei vai ser na Argentina, o que Bolsonaro foi no Brasil?

A levar em conta o que ele disse na campanha eleitoral, tudo indica que sim.

Ou esse tal de Efeito Orloff não passa de um tema que se esgota na publicidade e devemos olhar de outra maneira essa eleição?

Bolsonaro, afora seus arreganhos fascistas, pouco mudou na correlação de forças no Brasil. A burguesia, tanto a urbana como a agrária continuou mandando. Com a saída dele e o retorno do Lula, no fundamental continua tudo igual.

Se a chegada ao poder de Milei é uma triste notícia, a saída de Fernandez não merece ser lamentada. Milei, afora seus arreganhos fascistas, no essencial, vai fazer o mesmo que Fernandez e a burguesia, tanto a urbana quanto a agrária, continuará mandando na Argentina.

E quem sabe o Fernandez possa voltar na próxima eleição, para comprovar que o velho refrão - Eu (a Argentina) sou você (o Brasil) amanhã - continua válido.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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