IN FORMA

Por Marino Boeira

Os jornais e os jornalistas

Os jornais não nasceram para serem o que são hoje - divulgadores de notícias - nem os jornalistas eram o que são hoje - meros divulgadores dessas notícias e em alguns casos seus comentaristas.

Os jornais nasceram para servir uma causa política, quase sempre contra o status quo, e os jornalistas, os redatores dos discursos em defesa dessa causa.

Karl Marx escreveu muitos dos seus textos na Nova Gazeta Renana, em 1848 e 1849.

Vladimir Lenin, entre 1901 e 1903, escreveu mais de 40 artigos sobre como fazer a revolução no jornal Iskra (centelha em russo)

Émile Zola, escreveu em 1898, a sua famosa defesa do Capitão Dreyfus, no jornal Le Aurore

Euclides da Cunha, em 1902, escreveu as primeiras páginas de 'Os Sertões' como enviado do Estado de São Paulo para cobrir a Guerra dos Canudos.

Samuel Wainer em 1951 criou o jornal Última Hora para defender as políticas do governo de Getúlio Vargas e mais tarde o de João Goulart.

(Meu registro de jornalista profissional, como repórter auxiliar é de 1960 - como empregado da Editora Flan - nome da empresa que editava o jornal Última Hora)

Leonel Brizola, em 1955, fundou e dirigiu Clarim, jornal tabloide  destinado a defender primeiro suas ideais e a partir de 1958 seu governo no Rio Grande do Sul.

Mesmo antes da Segunda Guerra, mas principalmente depois dela os brasileiros importaram o modelo norte-americano de jornalismo aparentemente imparcial, com a imprensa se transformando no principal porta-voz da democracia burguesa.

Para servir de mão de obra a esse novo setor começam a aparecer os jornalistas profissionais se dizendo isentos e imparciais, que vão crescer com a transformação da atividade numa carreira universitária.

A formação de grupos de comunicação, onde os jornais se associaram às emissoras de televisão e rádio, aumentou cada vez mais a caracterização desses veículos como poderosos meios a serviço de todo o tipo de negócios e, em muitos casos, eles mesmo viram grandes negócios.

Um caso típico desse processo é o que ocorre no Rio Grande do Sul, onde o grupo hegemônico da RBS, inicialmente da família Sirotsky é hoje um poderoso instrumento de divulgação e defesa do sistema econômico vigente, em todas suas facetas - o bancário, o comercial, o industrial e o agrário - como também dos negócios da família, principalmente na área dos negócios imobiliários.

O antigo jornalismo anti-sistema desapareceu da grande mídia e se refugiou em pequenos espaços alternativos, fundamentalmente nas redes sociais.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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