IN FORMA

Por Marino Boeira

O inconveniente 

Essa coluna aqui em Coletiva.net é o espaço que tenho na mídia.

Fora dele, sobra apenas o Facebook.

Então preciso conservá-lo. Para isso preciso de leitores. Mas, estou me dando conta que, em vez de conquistá-los, estou os perdendo a mancheias.

- Você está ficando inconveniente, falando coisas que as pessoas querem esquecer. - me disse um amigo.

Fiz uma avaliação do que me disse esse amigo e acho que ele tem razão.

Quando estávamos todos juntos (uns mais e outros menos) no #forabolsonaro, meu ibope era dos melhores.

Quando o Bolsonaro se foi embora merecidamente e voltou o Lula, com a sua mediocridade ululante, comecei a perder esses leitores.

Duvido que aquele pessoal que discutia política comigo no Facebook (fiquem tranquilos que não vou dar nomes) esteja aprovando o governo de faz-de-conta do Lula, ainda mais agora com a presença asfixiante da Janja.

Os brasileiros não mereciam ter um Bolsonaro na Presidência, mas já tiveram coisas quase tão ruins, ou alguém já esqueceu os militares da ditadura?

Será que esqueceram o Collor, o Sarney e o deslavado entreguismo do FHC, ainda que com a pompa e circunstância de um gentleman?

Claro que numa comparação com eles, o Lula é muito melhor. Fala banalidades na maior parte das vezes, mas certamente é uma boa pessoa, preocupada com o futuro dos brasileiros. Minha avó também era, mas era só minha avó e não o Presidente.

O Millôr Fernandes disse uma vez que o Lula era um cara engraçado. Já é uma qualidade.

Mas a questão não é o que penso do Lula, mas o que digo dele nas redes sociais.

Entendo que uma boa parte dos meus leitores, aquele pessoal de esquerda que sofreu com a ditadura e que até o ano passado se dizia ameaçado pelas tendências fascistas do Bolsonaro, não queira criticar o Lula por enquanto.

Nada os impede, porém, de defender com bons argumentos, que certamente terão, o que ele está fazendo como Presidente, quando se depararem com minhas críticas.

Em vez disso, optaram pelo silêncio e os poucos que ainda me respondem, acham que estou sendo inconveniente e que com o Bolsonaro era muito pior.

Eu penso que Lula e Bolsonaro são duas pessoas muito diferentes, com qualidades até opostas, mas que servem do mesmo jeito à classe dominante.

É assim também na questão do genocídio sionista em Gaza. Cada vez menos se fala sobre isso.

Os jornais, que no início apoiaram abertamente as ações criminosas do governo de Israel, adotaram agora aquele famoso silêncio obsequioso que a Igreja Católica recomenda aos seus divergentes.

Como me recuso a calar, tanto nas criticas ao governo do Lula, quanto ao genocídio dos palestinos, vou continuar sendo inconveniente... pelo menos enquanto tiver algum espaço aqui.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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