IN FORMA

Por Marino Boeira

A semana começou com um ato político em Brasília apresentado como sendo em defesa do chamado Estado Democrático de Direito. O presidente Lula da Silva, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco; do STF, Luís Roberto Barroso; do TSE, Alexandre de Moraes e da PGR, Paulo Gonet, todos foram unânimes em ressaltar duas coisas: primeiro, em 8 de janeiro de 2023, o Brasil esteve ameaçado por um golpe de estado; e segundo, os autores daquela imensa baderna em Brasília serão punidos com rigor.

Obviamente, fica um pouco difícil acreditar que aquele pessoal que promoveu um enorme quebra-quebra nas sedes dos três poderes em Brasília, estivesse preparando um golpe de estado. A nossa memória mais recente de um golpe de estado foi a de 1964 (há 60 anos). Quem viveu aquela época ou leu sobre o ocorrido naquela ocasião, sabe que o golpe começou a ser preparado há muito tempo antes e se acelerou depois do chamado comício da Central do Brasil, no dia 13 de março, quando as chamadas Reformas de Base foram anunciadas pelo Presidente Goulart, o que motivou a unificação de todas as forças golpistas do país: o segmento militar, a mídia, a Igreja Católica e a embaixada dos Estados Unidos.

No ano passado, além daqueles bagunceiros de Brasília, quem estaria urdindo o golpe? Possivelmente, setores das forças armadas, mas não elas unidas como em 64, mas sim alguns grupos, mais os bolsonaristas derrotados eleitoralmente. Talvez o mais provável fosse a intenção dos denominados golpistas de levar o Presidente Lula a pedir o apoio dos militares através da tão falada GLO (Garantia da Lei e da Ordem) e ficar sob a tutela deles.

Essa semana se soube que quem bateu na mesa e impediu que fosse seguido esse caminho, quando a cúpula do governo estava em Araraquara e não em Brasília, foi a primeira dama Janja da Silva, que acompanhava na ocasião o presidente Lula.

Agora estamos todos comemorando que o Brasil continua sendo um Estado Democrático de Direito e os que atentaram contra ele em 8 de janeiro de 2023 serão severamente punidos. O presidente Lula disse isso em seu discurso, mas quem falou com mais rigor sobre isso foi o ministro Alexandre de Moraes. Fiel ao seu estilo de falar curto e grosso, Xandão pediu uma legislação específica para acabar com o que chamou de "discurso de ódio" - outro chavão que todos repetem - nas redes sociais.  

O difícil se isso acontecer será identificar o que é um discurso de ódio de uma crítica mais dura dirigida às autoridades, talvez até ao Supremo. Certamente, se isso acontecer, será um dos ministros do Supremo que vai assumir a tarefa de identificar o que é discurso de ódio de uma crítica um pouco mais agressiva.

Em todo o caso, terminadas as comemorações e o Estado Democrático de Direito mais uma vez, fica para o governo do Presidente Lula a responsabilidade de começar a fazer alguma coisa para resolver os problemas mais graves do País, depois de um ano perdido em longas e inúteis viagens internacionais.

Aliás, foi ele mesmo quem disse no seu discurso que fica difícil conscientizar os brasileiros sobre a importância da democracia, quando uma boa parte deles vive na miséria e quando os salários dos que conseguem algum trabalho são aviltantes.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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