IN FORMA

Por Marino Boeira

É assombroso que Zero Hora - dessa vez vou escrever seu nome com todas as letras em vez de nominar apenas como "aquele jornal" - em pleno genocídio praticado por Israel contra os palestinos de Gaza, tenha publicado um editorial defendendo essa prática criminosa e não tenha havido nenhuma reação.

Aqui mesmo em Coletiva.net, que é um portal voltado para acompanhar o que acontece no mundo das comunicações, nenhum comentário. Esperava uma posição da Associação Riograndense de Imprensa ou do Sindicato dos Jornalistas. Nenhum comentário.

Na Câmara de Vereadores e na Assembleia Legislativa, silêncio total sobre o tema.

Será que ninguém se revoltou que um jornal de grande circulação no Estado tenha usado suas páginas para defender a tentativa de eliminação de um povo inteiro?

Seria a comprovação daquela máxima de quem cala consente?

O jornal atacou diretamente o presidente Lula pelo apoio que deu à iniciativa da África do Sul de pedir ao Tribunal Internacional de Haia que examine se o que Israel está fazendo em Gaza não se constitui na prática de genocídio.

É apenas um pedido que se examine o que ocorre na Palestina e não uma condenação específica ao governo de Israel. Lula fez o mínimo que se pode esperar de um presidente. E olhe que ele, em outubro havia chamado de terrorismo, como o governo de Israel gosta de classificar, a ação armada do Hamas em território sionista, quando, a bem da verdade, foi apenas uma reação de um povo oprimido há décadas, contra o seu opressor.

Depois de ter publicado, logo que começou a guerra de extermínio de Israel contra os palestinos, um "a pedido" assinado por grandes empresários, a alguns intelectuais de pouca expressão e seus diretores, justificando as ações de Israel, Zero Hora assumiu a defesa clara e ostensiva do genocídio. Mais adiante mandou um repórter ao Oriente Médio para dar a versão única de Israel para o que estava acontecendo em Gaza e na Cisjordânia.

Quando o mundo inteiro, incluindo o Papa e o Secretário Geral da ONU, começou a pedir o fim da agressão sionista contra todo um povo, Zero Hora fez de conta que o genocídio tinha acabado e deixou de cobrir os acontecimentos.

Os grandes protestos, reunindo milhares de pessoas, na Europa, nos Estados Unidos e mesmo aqui em Porto Alegre, em defesa da Palestina, jamais mereceram uma linha sequer em Zero Hora.

Tudo é notícia para o jornal, desde uma unha encravada de um jogador do grêmio ou do Internacional, até a essa grande bobagem nacional que é o BBB 24, menos a morte de milhares de pessoas, a maioria crianças e mulheres na Palestina.

Faltou inclusive a solidariedade dos petistas ao seu presidente. Lula foi atacado diretamente no editorial da Zero Hora pelo seu apoio ao pedido da África do Sul e nenhum parlamentar do PT ou mesmo um simpatizante do partido se manifestou.

Quem deve estar feliz com o jornal são os partidários de Bolsonaro que sempre estiveram ao lado de Israel e que costumam carregar a bandeira daquele país em suas manifestações públicas.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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