IN FORMA

Por Marino Boeira

Pobre Jornalismo

Na minha primeira carteira de trabalho tem uma anotação do ano de 1962 dizendo que sou jornalista profissional. Há muito que não sou mais, mas continuo sendo um leitor voraz de tudo que se escreve na imprensa e agora com espaço em Coletiva.net, um crítico de jornais e jornalistas.

Como leio diariamente a Zero Hora (aquele jornal) tenho material em abundância para criticar o jornal e seus jornalistas, mesmo levando em conta que ela é um exagero em matéria de informações tendenciosas e na escolha sempre do pior lado na política, como estamos vendo agora com o seu apoio ao genocídio sionista contra os palestinos.

Para não ficar sozinho nessas críticas fui me socorrer no que disseram alguns pensadores sobre a atividade jornalística e me dei conta que muito do que escreveram no passado diz respeito diretamente ao jornal hoje.

Para começar uma frase de Millôr Fernandes que se aplica diretamente ao jornal da família Sirotsky:  

"Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados".

Quem passar os olhos pelo jornal em qualquer dia da semana e ler as jornalistas (coincidentemente todas mulheres) de economia vai se dar conta que, de acordo com George Orwell, elas não fazem jornalismo e sim publicidade, porque "Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade".

E nem o título de jornalistas de economia elas merecem, de acordo com o ex-ministro Delfim Neto: "Jornalismo de Economia não é uma coisa nem outra".

A cobertura de guerras e revoluções tornaram alguns jornalistas famosos e lhe forneceram histórias para se tornarem depois escritores famosos, casos de Ernest Hemingway que escreveu sobre a Guerra Civil Espanhola e publicou depois seu livro Por Quem Os Sinos Dobram que tem como fundo o que acontecia na Espanha e John Reed, que ao cobrir a Revolução de 1917, encontrou elementos para seu livro Os Dez Dias Que Abalaram o mundo.

Zero Hora mandou o seu jornalista Rodrigo Lopes especializado em pautas internacionais para cobrir o ataque de Israel contra os palestinos em Gaza.

Claro que não se pode comparar jornalistas como Hemingway e Reed com Lopes, mas o que ele enviou como notícias e comentários de Israel foi lamentável, mesmo para o baixo padrão do seu jornal.

Ele fez apenas uma crônica mundana da vida em Israel porque nunca chegou nem próximo dos campos de batalha. O exército de Israel nunca permitiria que ele testemunhasse o genocídio que pratica contra os palestinos em Gaza.

Por tudo isso seria importante que as pessoas se dessem conta do perigo que se expõem lendo e acreditando na nossa imprensa.

"A imprensa pode causar mais danos que a bomba atômica. E deixar cicatrizes no cérebro", disse uma vez Noam Chomsky

Uma frase do jornalista Paulo Francis sobre a origem da profissão: "É a segunda mais antiga profissão."  

A primeira, acho que todo mundo sabe qual é.

Enfim, o jornal é feito por jornalistas, que no Brasil, segundo Mino Carta, têm uma característica: "São os únicos no mundo que chamam o patrão de colega."

 

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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