IN FORMA

Por Marino Boeira

Tempos de pobreza política

Nunca como nos dias de hoje, vivemos tempos de tanta pobreza política no Brasil. E não é exclusividade dos agentes políticos, de Lula da Silva ao mais modesto vereador de Espumoso, Travesseiro ou Anta Gorda, mas também das pessoas em geral.

O monopólio do debate político, até alguns anos atrás limitado aos parlamentos, aos jornais, à televisão e ao rádio, se espraiou pelas redes sociais. Cada um de nós tem a possibilidade de dizer o que pensa e criticar o pensamento dos outros. É uma grande abertura democrática, infelizmente desprezada pela maioria das pessoas.

Tomo minha participação no Facebook como um exemplo. Uso esse espaço diariamente para propor discussões sobre cinema, literatura e fundamentalmente política.

Quando critico as posições, mais do que conciliadoras do Presidente Lula com os setores representativos da grande burguesia brasileira, hoje praticamente uma entrega total, recebo de volta o silêncio da maioria e as agressões verbais de alguns.

Pessoas que se dizem de esquerda não têm o mínimo pudor em endeusar o Lula, chamado de gênio por alguns, adjetivando seu nome como faziam no passado os bolsonaristas que se referiam ao seu líder como mito.

O debate político nas redes sociais é quase sempre rebaixado à uma conversa de botequim cheia de agressões verbais. Quem apontar Lula como um agente dos interesses do imperialismo americano, mesmo que involuntário, é taxado de bolsonarista, o que serve para encerrar qualquer debate um pouco mais inteligente. Pessoas sem qualquer noção da História, classificam o governo de Bolsonaro de fascista e apresentam Lula e seus aliados, inclusive Alckmin, como defensores da democracia ameaçada, sem se darem conta que pouco mudou na vida do Brasil com o novo governo.

O PT, como partido político de esquerda, desapareceu. Hoje é apenas mais uma sigla eleitoral, totalmente diferente daquele partido que empolgou as pessoas após 21 anos de ditadura com a promessa de que um "outro mundo era possível" e com a eleição de Olívio Dutra para prefeito de Porto Alegre e depois Governador do Rio Grande do Sul.

Na política brasileira dos dias atuais, a única novidade é o surgimento do movimento pela Revolução Brasileira, sob a liderança  do professor de Economia Nildo Ouriques, da Universidade Federal de Santa Catarina e Presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos - IELA/UFSC,  com a recuperação dos debates sobre grandes figuras políticas do Brasil, como Getúlio Vargas, Luiz Carlos Prestes, João Goulart e Leonel Brizola e pensadores como Jacob Gorender, Álvaro Vieira Pinto, Ruy Mauro Marini, Alberto Guerreiro Ramos, Theotônio dos Santos, Vânia Bambirra e Darcy Ribeiro.

 

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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