IN FORMA

Por Marino Boeira

Uma nova frente política gaúcha

Semana passada Rosane Oliveira publicou em sua coluna em ZH uma foto de uma reunião de ex-governadores do Estado que continuam vivos. Afora Antônio Britto, que não compareceu, lá estavam pousando para a foto: Jair Soares, Yeda Crusius, Germano Rigotto, Ivo Sartori, Alceu Collares, Pedro Simon, Olívio Dutra e Tarso Genro.

Quem idealizou a foto e convidou os ex-governadores para se postarem diante de um fotógrafo, obviamente pretendia passar um recado ao público, que ZH e sua colunista trataram de disseminar.

Como todos os que aparecem na foto são pessoas de larga vivência na área da política rio grandense, certamente concordaram em que, nesse momento de radicalização no Brasil dos segmentos de direita e da extrema direita, seria preciso superar antigas divergências e passar um recado de unidade política.

A pergunta é: unidade política em torno de qual bandeira? Quem acompanhou os embates no passado, entre os fotografados de hoje, sabe que havia um oceano de ideias separando, principalmente os ex-governadores do PT - Tarso e Olívio - de Jair, de Yeda e também de Simon.

Numa resposta a um comentário que fiz no Facebook, pedindo que os leitores escolhessem uma manchete para anunciar o encontro, Olívio Dutra escolheu a primeira opção - "Uma prova de civilidade" - e se justificou: "Modestamente, penso que, na conjuntura em que vivemos, colocar um X na primeira alternativa indica o significado político civilizado desse encontro entre pessoas diferentes que, nos seus mandatos, procuraram praticar a Democracia como estratégia e não como tática."

Olívio precisaria explicar melhor o que significa para ele praticar a Democracia como estratégia e não como tática. Na falta de uma explicação do autor, me atrevo a pensar que, como estratégia seria pensar a Democracia como um todo, como um objetivo permanente em todas as ações do governo e tática, apenas como componente de um discurso de ocasião.

Há poucos dias, a deputada Luciana Genro anunciou num evento comemorativo aos 50 anos da Revolução dos Cravos que Porto Alegre sediaria nesse mês a 1ª Conferência Internacional Antifascista do país reunindo "políticos, pensadores, militantes e ativistas de movimentos sociais de vários países para debater o enfrentamento à extrema direita e ao fascismo no Brasil e no mundo."

Podemos pensar então que esses ex-governadores de correntes políticas diferentes, estariam hoje unidos nessa luta anunciada pela deputada?

O encontro será em Porto Alegre há poucos meses de uma eleição em que o partido da deputada, o PSOL, dessa vez associado ao PT de Olívio e Tarso, tenta recuperar para a esquerda o governo de capital.

Isso significa que dessa vez, como não aconteceu nas últimas eleições, teremos uma eleição para a prefeitura radicalizada entre candidatos da Direita e Esquerda?

Outra questão: como o fascismo é sempre associada à ameaça da volta de Bolsonaro ou de um indicado seu ao governo em 2026, todo esse movimento de aproximação entre os principais políticos gaúchos, não seria uma maneira de criar uma base suprapartidária de apoio ao governo Lula num momento em que ele enfrenta dificuldades de cumprir, minimamente que seja, suas promessas de melhoria da vida brasileira?

Seria uma fantasia imaginar todos esses ex-governadores da foto -  Tarso, Olívio, Simon, Collares, Jair, Yeda, Rigotto e Sartori - unidos apoiando Lula e seu governo, justo agora que José Dirceu o classificou como de centro-direita ?

Qualquer pessoa minimamente informada sobre a semiótica sabe que ao pousar para a foto, os ex-governadores estavam escolhendo passar para os gaúchos uma imagem de unidade política.

Por mais que se achem no dicionário adjetivos elogiosos para justificar essa unidade, o certo é que ela se faz - ou se fará, se for o caso - com o abandono prévio pelos representantes da esquerda - principalmente Collares, Tarso e Olívio - do discurso que sempre foi seu referencial político: o socialismo revolucionário como objetivo último.

 

Quem viver, viverá.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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