O silêncio que nos envergonha
Por Marino Boeira
Mais uma semana do genocídio promovido por Israel na Faixa de Gaza e o governo do presidente Lula, os partidos políticos, boa parte dos nossos intelectuais e a grande mídia continuam apenas torcendo para que tudo acabe logo - possivelmente com a limpeza étnica dos palestinos completada - para que todos possam voltar às coisas realmente importantes para eles, como a disputa de cargos no governo do Lula pelo Centrão, o papel da Dona Janja no governo e as rodadas finais do Brasileirão.
Sábado à tarde houve uma manifestação de solidariedade ao povo palestino no centro de Porto Alegre, com a ausência quase completa dos políticos de esquerda e praticamente nenhuma cobertura da nossa mídia. O jornal da Casa dos Sirotsky abriu espaço para o psicanalista Abrão Slavutzky escrever sobre "A Crueldade Humana", que segundo ele está ameaçando o nosso futuro, sem uma palavra de condenação ao governo de Israel, mas não ouviu ninguém que falasse em defesa dos palestinos.
Antes disso, o jornal já havia, nos primeiros dias de outubro, publicado um manifesto em favor de Israel, assinado por seus diretores, grandes empresários e alguns artistas mais ou menos conhecidos. Depois, enviou um jornalista à Israel para dar a visão sionista do conflito.
Estou escrevendo no espaço de um portal sobre comunicação e não vi aqui também uma abertura para que historiadores, políticos e jornalistas contem a verdade do que ocorre na Palestina, desde que Lord Balfour, negociou com o banqueiro Barão de Rothschild a criação de um estado judeu em meio a uma população quase que absolutamente árabe, em troca do financiamento ao Reino Unido, em guerra com o Império Otomano.
Qual seria a razão desse silêncio quase geral? As imagens de Gaza lembram as da Segunda Grande Guerra. Stalingrado, Leningrado, Dresden e Hiroshima estão de volta em Gaza. Hospitais e escolas foram destruídos. O cerco de Gaza lembra o Gueto de Varsóvia. Milhares de mortos, a maioria crianças e mulheres e um psicanalista fala genericamente em crueldade humana.
Uma das regras básicas do bom jornalismo é buscar a verdade e informar sem tentar agradar os poderosos da hora. E são poucos os jornalistas hoje dispostos a cumprir essa "cláusula pétrea" da profissão.
Breno Altman, filho de pais judeus, é uma presença quase solitária ouvindo em seu canal Opera Mundi, vozes que contam uma história muito diferente do que a chamada Grande Mídia tenta fazer passar como verdade.
E o que dizer do nosso governo, mendigando apoio dos Estados Unidos para que use sua influência e convença Israel a liberar os brasileiros retidos na Faixa de Gaza?
Onde fica aquele discurso do Presidente Lula de que o Brasil retomaria sua importância no cenário internacional e faria ouvir a sua voz em defesa da paz?
Na hora da verdade é que se conhecem os heróis e os covardes.