Letícia Duarte fala sobre cobertura do SXSW para Coletiva.net

Jornalista acompanhou movimentação de um dos maiores eventos de inovação do mundo e compartilhou experiência com o portal

Letícia Duarte - Divulgação/Coletiva.net

- Quem é a jornalista Letícia Duarte?

Sou uma repórter apaixonada, obstinada e inconformada. Acredito no papel social do Jornalismo e procuro me dedicar ao máximo para que cada reportagem seja a melhor possível dentro das condições existentes, para levar aos leitores informação de qualidade. Também gosto de me reinventar, pois acho que o jornalista precisa estar sempre aprendendo. Depois de 13 anos trabalhando no jornal Zero Hora, onde fui repórter especial, agora estou em uma temporada de estudos nos Estados Unidos, para onde me mudei no ano passado, depois de ganhar uma bolsa do programa Jornalista de Visão, do Instituto Ling. Fui aprovada para os três programas de mestrado para os quais me inscrevi (nas universidades de Columbia, Berkeley e London School of Economics and Political Science), e estou na fase de definições de para onde eu vou.

- Como foi estar presente no SXSW, um dos maiores eventos de inovação do mundo?

Foi uma experiência muito inspiradora. O festival tem uma energia vibrante, reunindo mais de 400 mil participantes ao longo da programação, que abrange temas como Tecnologia, Comunicação, Comportamento, Música e Cinema, sempre com esse olhar sobre o futuro de todas as coisas. A sensação é de que voltei de Austin, mas o SXSW continua acontecendo na minha cabeça, em um processo de reflexão para processar tudo o que vi por lá. Difícil era escolher entre tanta coisa boa, com mais de duas mil palestras sobre os mais variados temas. Então, fica aquela sensação de quero mais, que também faz parte da mística do festival e ajuda a explicar por que todo mundo que vai uma vez quer voltar.

- E como foi a experiência de realizar uma cobertura em tempo real do evento?

O desafio era imenso, por causa dessa característica do festival, com muitas programações sobrepostas. Durante o dia chegavam a ter cerca de 50 palestras acontecendo ao mesmo tempo, em dezenas de hotéis espalhados pelo centro da cidade. Então, era preciso fazer algumas apostas, selecionando na programação ao que assistir, e correr para tentar garantir lugar. Por causa da grandiosidade do festival, a credencial de imprensa não dava acesso garantido às palestras. Era preciso entrar na fila, às vezes chegando meia hora antes, para assegurar vaga na plateia. E aí, em alguns momentos, eu tinha de escolher: parar para escrever e enviar o material ou correr para a próxima palestra. Eu também nunca tinha feito lives no Facebook, tive que aprender fazendo.

- Quais são os principais pontos que você destaca da cobertura para Coletiva.net?

Quando fui pautada para fazer esta cobertura, a Márcia Christofoli disse que minha missão era ser os olhos dos leitores no SXSW. Então, trabalhei com isso em mente, para tentar transmitir o clima do evento, e, ao mesmo tempo, compartilhando conteúdo mais relevante das discussões que acompanhei, especialmente na área de Comunicação. Então, a cobertura mesclou as matérias para o portal com vídeos ao vivo no Facebook e stories no Instagram. Publicamos uma média de quatro a cinco matérias diárias sobre o evento, além do conteúdo interativo nas redes. Acredito que o objetivo foi alcançado.

- O que você traz de mais interessante vivenciado no SXSW?

As duas palestras que me surpreenderam foram de dois futuristas: a Amy Webb, fundadora do Future Today Institute, e o diretor de Engenharia do Google, Ray Kurzweil. Ela previu que 2018 será o início do fim dos smartphones, o que vai impactar radicalmente a forma como utilizamos a internet e, também, como consumimos notícias. A tendência é que, na próxima década, a gente cada vez mais 'vista a tecnologia', usando dispositivos de voz e tato, em vez de ficar limitado à tela do celular. Assim, a notícia será cada vez mais uma experiência, transportando o leitor para o centro dos fatos com recursos de inteligência artificial, realidade virtual e aumentada. Kurzweil, por sua vez, previu que, em 2029, as máquinas vão alcançar a inteligência humana, e, em 2045, vão ultrapassá-la. Tudo aquilo que a gente via em filmes de ficção científica está sendo previsto para se popularizar nestas próximas décadas, como carros voadores e robôs que regeneram nossos órgãos, com possibilidade crescente de 'editar' o nosso DNA. O debate suscita uma série de questões éticas, mas o recado é que tudo dependerá do uso que nós, humanos, fizermos da tecnologia. Como jornalistas, precisamos estar atentos e sintonizados com os avanços tecnológicos. Não só para reportá-los, mas, também, para aprender a tirar proveito deles, produzindo reportagens que mantenham qualidade e relevância social nos novos tempos. Nos painéis jornalísticos, a preocupação com a proliferação das fake news segue em alta, e um dado alarmante: 60% dos leitores compartilham links de notícia sem ler. Mais do que nunca, será crucial produzir jornalismo de qualidade e educar o público para reconhecê-lo.

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