Cinco perguntas para Rodrigo Rodembusch

Após cinco anos na Alemanha, jornalista fala dos planos ao retornar para o Brasil

1. Quem é você, de onde veio e o que faz?
Santamariense de nascimento, camaquense de criação e porto-alegrense de coração. Cresci incentivado pela leitura. Lembro da forma que minha mãe tinha para que não entrássemos, meu irmão gêmeo e eu, na tradicional piscina de plástico "antes do tempo" no verão: ela dava uma enciclopédia para cada um passar o tempo. Foi o que precisei para despertar a curiosidade para o mundo, as coisas, as culturas e, acima de tudo, as pessoas. Minha mãe não sabia, mas estava plantando em mim a semente do Jornalismo: a curiosidade.
Sou um apaixonado pelo lado humano do Jornalismo, pela força que a profissão tem de mudar uma realidade para melhor. Não consigo compreender o fazer jornalístico como um simples ato. É preciso haver mais. É preciso a noção de que a Comunicação vai além de uma definição de dicionário. E quando isso tudo é direcionado para o empoderamento do povo, não acredito que haja melhor sensação de "dever cumprido". Depois de ter crescido profissionalmente na Rádio Guaíba, decidi alçar outros voos e estudar fora para trilhar outra carreira que almejo, que é a de professor.
Atualmente, aguardo a revalidação do meu título de mestre pela Deutsche Welle, na Alemanha, país que me acolheu e me ensinou uma outra forma de se pensar o Jornalismo. Daí, parto para a próxima etapa que é o doutorado.
2. Qual o sentimento em retornar para Porto Alegre após tantos anos na Alemanha?
Minha história com a Alemanha tem exatos 15 anos. Neste tempo todo, nunca esqueci de Porto Alegre ou da minha própria realidade como brasileiro. Nenhum lugar no mundo é 100% melhor  do que outro. A diferença está em querer voltar para casa e pôr em prática aquilo que pode ser usado para melhorar a sua realidade. Não tinha um dia em que eu não olhasse para o céu e pensasse: "Meu céu é mais azul." Isso te dá noção de onde tu vens e que o chão que tu estás pisando não é o teu.
Eu poderia ter ficado na Alemanha para o doutorado, mas o coração dizia que era hora de voltar para casa. Infelizmente, Porto Alegre não evoluiu da maneira que eu esperava e, estando mais tempo afastado da minha cultura, voltei percebendo que nós, gaúchos, precisamos crescer em muitas coisas. O Rio Grande do Sul não é o umbigo do mundo. O Jornalismo que fazemos ainda tem a cultura de quem ganha é quem dá o "furo", quem informa primeiro. E nessa competição acirrada, outros aspectos importantes são deixados de lado.
3. Quais são os planos para os próximos cinco anos?
Quem me conhece sabe que eu sou uma pessoa de planos e de metas. Em cinco anos estarei ensinando o que eu aprendi na teoria e na prática. Desejo muito poder passar todo o conhecimento que adquiri na minha trajetória profissional para futuros comunicadores. Quero que o profissional tenha esta visão de como se faz Jornalismo fora dos limites do Rio Grande do Sul e do Brasil.
4. O que todo jornalista precisa saber?
Todo jornalista precisa saber que não sabe tudo. Todo jornalista precisa ter a humildade de compreender que existem limites, que a atualização e o estudo são fundamentais para um texto melhor, uma abordagem melhor. É preciso saber que o Jornalismo é feito de diferentes formas ao redor do planeta e que conhecê-las pode ajudar no processo de autocrítica. Todo jornalista precisa saber falar outros idiomas. A nossa essência profissional é comunicar. Se não temos outro código além do português ficamos restritos a poucas versões de um mesmo fato. O jornalista precisa buscar a informação na fonte e nem sempre ela está disponível na nossa língua.
5. O que tens a dizer sobre a experiência de trabalhar no exterior?
Minhas incursões profissionais no exterior foram todas na Alemanha, um país que tem um ritmo diferente e um leitor/ouvinte/telespectador mais exigente. Antes disso, já havia feito coberturas internacionais para a Rádio Guaíba e o jornal Correio do Povo, mas sempre em uma perspectiva de "gaúcho no mundo".
Ir para a Alemanha como morador muda tudo. Os temas abordados em reuniões de pauta giram em torno dos acontecimentos políticos nacionais e internacionais, repercussões de acontecimentos ao redor do mundo que sejam relevantes para a Europa e para Alemanha, e isso te exige uma carga de conhecimento muito grande. Não se opina em reunião de pauta sem conhecimento de causa, sem um raciocínio que tenha início, meio e fim.
Como a Deutsche Welle (meu "empregador" em três momentos diferentes - 2005, 2008 e 2009/2011) é o international broadcaster da Alemanha para o exterior, tudo o que é produzido precisa refletir o país, uma vez que o público consumidor deseja este tipo de informação. Nessa minha jornada fora de casa, aprendi o papel da Comunicação em regiões absolutamente miseráveis, sem democracia, com governos opressores como Etiópia, Butão e Irã, e como o jornalista pode ser um agente transformador. Trabalhar no exterior me mostrou que existe um Jornalismo que também pode ser fundamental na resolução de conflitos, por exemplo. Olhar de fora para o que produzimos aqui é outro ponto positivo dessa experiência. Se eu voltaria para a Alemanha? Com a garantia de que a passagem fosse de ida e volta, com certeza!
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