Para Duailibi, mercado publicitário pede por "reformatação"

Publicitário preside o Festival de Publicidade de Gramado, que leva o tema "Ou você muda. Ou mudam você"

Roberto Duailibi | Crédito: Divulgação
Semelhante aos antigos disquetes que, quando inseridos no computador, solicitavam reformatação - assim está o mercado de propaganda, na avaliação do publicitário Roberto Duailibi. Presidente do 20º Festival Mundial de Publicidade de Gramado, que começa nesta quarta-feira, 10, ele afirma que a fase de transição deve ser encarada pelas agências tradicionais, que tendem a se tornar empresas híbridas. "As várias formas de fazer comunicação estão tomando forma, as redes sociais, o mundo está mudando e ganhará quem entender esse novo universo primeiro", defende.
As mudanças são constantes e exigem, cada vez mais, capacidade de adaptação. Todo esse cenário será discutido no Festival de Publicidade, que neste ano traz o tema "Ou você Muda. Ou mudam você".
Confira, abaixo, a íntegra da entrevista concedida pelo presidente do 20º festival.
Qual é a importância da discussão do tema do Festival (Ou você Muda. Ou mudam você)?
Há muito o mundo das comunicações mudou. Há um movimento que é independente de vontades, que de certa forma é incontrolável, que envolve. As mídias estão mudando rapidamente, os meios evoluindo de uma maneira voraz. Até o ponto de não sabermos neste momento qual é o modelo que ficará, o que será definitivo. É como se tivesse havido uma metamorfose e estivéssemos ainda no meio do processo, sem saber que criatura advirá no futuro próximo. É inegável e incontrolável o crescimento dos meios digitais, assim como é incontrolável a queda dos meios impressos. Os meios eletrônicos, notadamente TV e Rádio, parecem ser os menos atingidos. Tudo isso trará profundas mudanças para todos os segmentos da comunicação. É um momento de revolução o que vivemos e temos de ficar atentos a isso. Por isso o recado, de que ou você muda ou mudam você. Não depende das pessoas. Quem não se atualizar, quem não viver profundamente esse novo momento certamente sucumbirá ao mercado.
Qual é a relevância de presidir um evento como o Festival, hoje consagrado como um dos principais no mundo?
É, para mim, muita honra ter sido o escolhido, principalmente por esse momento em que vivemos. Acho que sou um dos poucos que presenciou todas as grandes transformações do nosso mercado, que soube entrar nos momentos certos e sair também de etapas em momentos adequados. É preciso em comunicação estar todo o tempo plugado, antenado, sabendo para onde está indo o mercado. Acho que sou um sobrevivente. Para mim, é importante ter sido chamado para essa missão.
Como o senhor analisa o mercado da publicidade hoje no Brasil? Qual o cenário atual?
O mercado de propaganda está como aqueles disquetes que a gente colocava no computador e vinha a mensagem pedindo a reformatação. Acho que estamos numa fase de transição. Nenhuma agência hoje pode se apresentar como digital, nem como virtual, nem como especialista, pois as cabeças do mercado são resquícios de uma cultura ainda muito forte e arraigada que formou esse mercado. Então estamos falando de agências híbridas, de empresas que estão lutando para se manter em seus status quo, em manter as posições nos rankings, estamos chegando num ponto em que talvez a propaganda tradicional não seja mais o core do negócio. As várias formas de fazer comunicação estão tomando forma, as redes sociais, o mundo está mudando e ganhará quem entender esse novo universo primeiro. Temo muito por várias agências mais tradicionais que não se deram conta disso ainda. Isso acontecerá e está acontecendo também nos clientes. Já se questionam os formatos convencionais e os resultados que as mídias tradicionais apresentam. É um momento de transformação.
Qual é a importância de participar de um evento como o Festival de Gramado tanto para um estudante quanto para um profissional?
Acho que pelo momento que estamos passando todo o foco do evento se dará sobre esses temas e quem estiver inserido neles, estiver discutindo e ouvindo as várias opiniões tem chance de fazer um bom filtro e tirar talvez um pouco de como o mercado está reagindo às modificações, como se adaptará à nova realidade.
Na sua opinião, qual o papel da propaganda e suas responsabilidades com a sociedade?
A propaganda sempre teve um papel primordial na sociedade e, mais que nunca, está presenciando mudanças culturais e de hábitos igualmente significativas e importantes. A sociedade está passando por uma transformação veloz e que está tornando as coisas absolutamente diferentes em relação ao que eram há pouco tempo. A propaganda tem o papel de ser esse marcador do tempo, das mudanças. Temos de saber dosar o produto, o nosso produto, e apresentar à sociedade as coisas que atendam e supram suas expectativas. A propaganda que se fazia há um ano, dois, 10 não vale mais, tudo precisa ser revisto, conceitos, perfis, públicos, formas de apresentar o trabalho.
Quais são as tendências da área?
A área tende a se atualizar todos os dias, todo momento. Quem tiver esse fôlego e esse perfil camaleônico estará à frente dos demais. Será uma tarefa fácil? Tenho certeza que não. Ainda veremos muitos mitos serem derrubados, muitos conceitos caírem por terra. Vivemos um momento em que nada é definitivo, nem homens, nem agências, nem conceitos, nem clientes. Tudo está para ser modificado, adaptado, transformado. Estamos diante de uma década de mudança, rápida e inevitável.
Qual é a sua expectativa com relação ao Festival?
Minha expectativa é a melhor possível. Acho que quem vem ao Festival espera por respostas e é obrigação dos participantes estarem atentos a isso. Será um grande fórum transformador, que pode significar o marco de um novo tempo da propaganda.

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