Márcio Callage: Mente criativa e apaixonada

Na infância, os bastidores da agência DCS serviram de palco para suas brincadeiras e descobertas

O porto-alegrense Márcio Kremer Callage cresceu dentro do universo da propaganda: na infância, quando os bastidores e corredores da agência gaúcha DCS serviram de palco para suas brincadeiras e descobertas. Filho do diretor de Criação e sócio da DCS, Roberto Callage, era o próprio pai quem se encarregava de levar o menino - então com apenas sete anos - para a agência, onde costumava brincar, correr e importunar os profissionais. "As pessoas queriam trabalhar e eu só os incomodava. Mas, bem ou mal, essa convivência foi me trazendo uma familiaridade incrível com o meio publicitário", conta.


Filho de pais separados, nos finais de semana que ficava na casa de seu pai também freqüentava set de filmagens e estúdios de produção de áudio. Com menos de dez anos, já havia gravado alguns spots e assinado sua primeira criação: uma ilustração de um cartão de Natal para a Pettenati, um dos clientes da DCS na época. Principal admirador do trabalho do pai, Márcio nunca teve dúvidas sobre a profissão que gostaria de seguir. Filho de criativo, criativo tornou-se?


Nascido em 28 de dezembro de 1978, com 16 anos morou nos Estados Unidos, onde fez um intercâmbio. Mesmo em outro continente, não se desvinculou da publicidade, pois sempre que podia acompanhava as filmagens dos comerciais feitos pela DCS para a Olympikus em território americano. "Quando eu comecei a entender que as coisas que eu gostava, como música, cinema, exposições e museus, eram o estudo do meu trabalho, comecei a me identificar mais ainda com a profissão", afirma.


Márcio revela que nunca foi um grande estudioso na escola, sempre pegava recuperação e fazia parte da "turma do fundão". Dos tempos de Colégio Anchieta, lembra de um episódio inusitado: para eleger sua chapa para o Grêmio Estudantil, prometeu trazer uma grande banda para tocar na instituição. A chapa foi eleita e teve que cumprir a promessa, contratando o Kid Abelha, o que quase levou a agremiação à falência.


Filho de peixe?


Com 18 anos começou a cursar Publicidade e Propaganda, na PUC, e na primeira semana de aula já estava trabalhando na área. "Meu pai tinha uma agência, uma grande agência, e não tinha por que eu não aproveitar isso! Não ia me esconder atrás de uma oportunidade que eu tinha?" Sendo assim, foi trabalhar nela como estagiário de Atendimento. Logo, assumiu o cargo de assistente de Atendimento e, depois de uma ano, já atendia a algumas contas da agência.


Foi nesta época que descobriu que sua grande paixão era a Criação e resolveu trabalhar nesse departamento. Passou a atuar como redator, e sua maior preocupação no início de carreira era não ser visto apenas como alguém "à sombra do pai". O tempo encarregou-se de mostrar que o jovem inquieto possuía talento: ainda nos tempos de faculdade foi finalista do Prêmio Apple de Criatividade, na categoria profissional. "Isso me motivou e, de certa forma, mostrou que eu servia para a coisa", brinca.


Desde 2000, sempre provocado e patrocinado por seu pai - como o próprio Márcio diz - acompanha o Festival Internacional de Publicidade de Cannes, realizado na cidade de Cannes, na Riviera Francesa. Numa das viagens, ficou um mês em Londres e estagiou na BBH - Bartle Bogle Hegarty. "Foi um curto período, mas foi bárbaro porque consegui aprender muita coisa. Eu fui lá com o objetivo de "sugar" o máximo do conhecimento deles. Os profissionais da agência saíam às 17h30 do trabalho e eu ficava até às 21h, vendo arquivos, apresentações e concorrências. Aproveitei porque sabia que era uma empresa que admirava muito. É uma das cinco maiores de mundo", registra.


Depois de trabalhar oito anos na DCS, em 2005, assumiu a gerência de Marketing da Olympikus. Movido por um instinto empreendedor, há um ano resolveu montar a Perestroika Criative School, juntamente com Felipe Anghinoni (diretor de Criação da LiveAd), Tiago Mattos (redator da DCS) e Rafael Bohrer (diretor de Arte da DCS). A escola promete cursos diferentes dos realizados nas universidades e escolas de criação: uma mistura de cursinho, palestra e aula particular. Ao final do curso, os melhores estudantes são indicados para estágio nas principais agências do Estado.


Junto com ex-colegas de faculdade ainda lançou a marca Vulgo, que conta com uma loja na rua Padre Chagas, no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. "Começamos a fazer camisetas para amigos e o negócio acabou dando certo. A marca continua com a mesma atitude de antes, ou seja, impactar."


Uma vida de paixões


Em função das viagens e reuniões de trabalho, as poucas horas vagas disponíveis são aproveitadas em casa ao lado da esposa, Renata, e dos cachorros John Lennon e Maria, ambos da raça West Highland Terrier. O relacionamento de oito anos com a relações-públicas, carinhosamente chamada de "Rê", foi oficializado no último dia 17 de maio em uma cerimônia diferenciada: o casal escolheu as músicas e definiu a cerimônia, a qual não contou com padre e sim com uma pessoa que apenas falou sobre os valores do casamento. O ritual incluiu o plantio de uma árvore.


Gremista fanático, um dos grandes prazeres do publicitário é ir ao Estádio Olímpico Monumental acompanhar os jogos do time do coração. Márcio não só acompanha as partidas de futebol como também gosta de praticar o esporte pelo menos uma vez por semana. "Jogo na frente, sou atacante." Quando questionado sobre suas habilidades, ele não faz rodeios: "Se eu disser que jogo bem, sei que vou receber muitos e-mails de reclamações depois, mas posso dizer que jogo "direitinho"."


O gosto pela música também é uma herança do pai. "Ele tem uma coleção de mais de 10 mil cds! Na minha época de piá, ia todos os sábados com ele para o 5ª Avenida Center, numa loja chamada King Discos, onde ficávamos umas três horas escolhendo discos e eu sempre podia escolher um para mim. Era um programa bacana que nós tínhamos e, assim, fui montando minha coleção de cds. Também ouvia muita música em casa e o gosto musical foi despertado desta forma."


Criatividade hereditária


Além da influência genética, Márcio credita a origem de seu potencial criativo à educação recebida na infância. Na época da escola, teve aulas de música, artes, flauta doce, artesanato, xilogravura e francês. "Isso acabou me gerando um conhecimento extra, então, sabia ler partituras e tocava violão - inclusive tinha uma banda que participava de festivais nos colégios, mas tocava tri mal. Todo esse aprendizado me fez pensar diferente e hoje vejo que cada uma dessas coisas foi como uma espécie de tijolinho que depois faria sentido na minha vida."


O publicitário também se define como um ser fascinado por imagens: é um eclético apaixonado por cinema e televisão. "Adoro ir ao cinema ou assistir TV e sou daqueles que chora assistindo novela", revela, acrescentando ser fã dos seriados americanos, como Heroes, Lost e Friends. Tão fã que baixa os episódios da Internet logo após serem exibidos nos EUA.


A leitura não é seu forte: "Gosto de ler, mas li muito menos do que já assisti na vida. Estou sempre lendo um livro e mais de um livro por vez. Mas a maioria eu não acabo de ler, paro na metade e começo a fazer outra coisa, pois logo surge outra paixão. Sou um cara que vive de paixões!". E complementa: "É muito mais fácil descobrir quais são as coisas que eu não gosto. Acho que tudo tem seu valor e seu momento".


A cozinha é outro ambiente onde Márcio costuma usar sua criatividade. Ele afirma que sempre gostou de cozinhar, mas que antes não dominava a arte. O interesse pela culinária surgiu através dos anúncios e peças criadas para a Tramontina. Foi quando decidiu fazer um curso para se especializar. "Vou muito mais para a cozinha do que a Rê, minha esposa. Mas ela sabe arrumar a casa como ninguém. Eu sou superbagunceiro e ela tem o talento de deixar a casa em ordem. Depois do curso de culinária, passei a dominar as carnes e, agora, estou aprendendo sobre o universo dos molhos."


Prestes a completar 30 anos, ao olhar para trás e ver o caminho já percorrido, Márcio diz não se arrepender de suas escolhas. "Sou uma pessoa muito feliz e busco seguir sempre a minha felicidade. Acredito nos meus valores e me ouço muito. Isso é o que me permite mudar. Na vida, não existe certo ou errado: tudo depende do momento e as coisas desse jeito têm dado certo para mim", diz. E ainda completa: "Por mais que eu tenha muita coisa para fazer, faço tudo isso me divertindo. Sou feliz, e é difícil de me ver para baixo. Sou absolutamente otimista e acredito muito em mim."

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