Rodrigo Pesavento: Tudo pela não-rotina

Jovem, bem disposto e com a mente transbordando de novas idéias, o publicitário vive um momento de realização profissional

Quanto mais absurdo parece ser um trabalho, mais desafiador e menos monótono se torna o dia-a-dia. Assim é a não-rotina do publicitário Rodrigo Pesavento, 36 anos, diretor de cena da Zeppelin Filmes, onde atua desde 1994 e se tornou sócio no ano passado. "Ao mesmo tempo em que tu estás trazendo estas coisas contigo, tudo isso vai refletir no teu trabalho. Quanto mais tu viveres, mais ricas serão as tuas referências e uma pessoa mais interessante tu te tornas", acredita. Jovem, bem disposto e com a mente transbordando de novas idéias, seu momento é de satisfação e realização pessoal e profissional.


"O que eu acho mais bacana é a minha rotina. Uma semana eu estou no campo atolado no barro e na bosta fazendo um filme de trator; na outra semana estou fazendo um comercial de comida pra cachorro, com uns cachorros lambões; e na outra semana eu estou com um atleta, corredor de olimpíadas, fazendo um filme de tênis esportivo. Então, é uma rotina que é uma não-rotina", define. Graças a esta "rotina", Europa, Egito e África são alguns dos lugares onde esteve. "E essas ?fugidas?, quanto mais absurdas, mais legais são?".


Rodrigo acredita que o segredo para que tudo isso funcione sempre bem também é a amizade e o companheirismo que existe no ambiente de trabalho. Em 14 anos de Zeppelin, a equipe é praticamente a mesma. "Somos mais que colegas, somos uma grande família", afirma. Tanto que tiram férias e passam finais de semana juntos, além de muitos serem compadres. Até mesmo as horas de folga e os momentos de lazer são desfrutados neste clima bem familiar. "Quando terminamos um trabalho, não interessa a hora que é: a gente pára, senta num bar e dá risada de tudo", conta.


Nascido em 21 de abril de 1972, em Porto Alegre , sempre estudou no colégio Rosário. Já na infância, o gosto pela comunicação era evidente. Olhando pra trás, Rodrigo avalia que a facilidade técnica existente nos anos 80 foi um dos fatores determinantes para o interesse precoce pela área e a futura escolha profissional. "Eu brincava com o meu 3 em 1 e fazia paródias de programas de rádio; com uma câmera de vídeo de um amigo, em qualquer oportunidade, a gente fazia um vídeo pra trabalhos no colégio; com uma máquina fotográfica, eu brincava de fotografar? Então, tudo isso caiu na minha mão e, naturalmente, eu fui conduzido pra esse caminho".


Dia-a-dia com prazer


Jovem, gosta de skate - tem sete!  - e surf - tem oito pranchas. "Infelizmente, o tempo tá cada vez mais curto e eu não tenho ido à praia tanto quanto gostaria", lamenta. A produtora, inclusive, tem uma sala de Criação equipada com televisão, Playstation e skates, além dos instrumentos de trabalho necessários. "Eu acabei trazendo as coisas que eu gosto pra dentro da Zeppelin. E é engraçado porque até quem não andava de skate, agora arrisca algumas manobras. É um lugar pra tu se sentir à vontade. É um trabalho que não pode virar uma rotina chata", enfatiza. Por conta do clima de descontração e a alternância entre trabalho, prazer e diversão, muitas vezes a equipe acaba se reunindo até mesmo no sábado de manhã "sem que isto seja uma coisa sofrida".


Nos últimos 18 meses, Rodrigo tem dedicado boa parte do seu tempo a Nina, a filhota de um ano e meio, fruto do casamento de três anos com a também publicitária Letícia Barcellos, diretora de Arte da Zeppelin. A paixão pela família é tão grande que tem tatuado no braço direito, em cirílico, o nome da pequena, que significa flor pequena e delicada. Nina também é o nome de uma combatente russa que atuou como franco-atiradora para o Exército Vermelho soviético durante a Segunda Guerra Mundial. Ele não abre mão de ser um pai bastante presente: procura sempre almoçar em casa e, nas viagens a São Paulo, "é um bate e volta bem mais freqüente. Vou na segunda e volto na terça, vou na quinta e volto na sexta-feira. Tudo pra poder ficar um pouco mais com ela", explica, já que, em função do trabalho, vive na ponte aérea.


Gosta de comprar livros de arte e de fotografia, além de ter um acervo de mais de 300 DVDs. Coleciona bonequinhos de comics ou de filmes, que vai desde o Jason até alguns mais raros de toy art, e pôsters de cinema. Na televisão, aprecia observar os comerciais que estão sendo apresentados. Pensa que se não atuasse nesta área, seria fotógrafo ou arquiteto. Sobre realização e maneira de encarar a vida, costuma usar, em tom de brincadeira, sempre a mesma frase, que aprendeu com amigos cariocas na beira da praia: "Tá tudo aí pra nós? é só saber chegar". "Ou seja, as oportunidades estão a cada esquina, tu encontras uma ou perdes uma. É só saber dobrar a esquina certa?", reflete.


Almejando a direção


Em 1990, ingressou no curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. No ano seguinte, surgiu a oportunidade de realizar o primeiro estágio na área. Foi na Zero 512. Rodrigo lembra que, nesta época, o mercado de filmes estava crescendo e começando a conquistar clientes de São Paulo. Antes disso, fez alguns trabalhos de produção e assistência de direção na Casa de Cinema de Porto Alegre, tendo atuado com profissionais como Jorge Furtado, Werner Schunemann, Beto Souza e Marta Biavaschi, em início de carreira. Em 1993, teve sua primeira experiência em direção na 30 Segundos.


Ao longo da faculdade, Rodrigo sempre fez projetos próprios, como videoclipes e trabalhos das disciplinas do curso. "Eu aproveitava e fazia alguns curta-metragens que acabaram me rendendo oportunidades", lembrando que, na verdade, o primeiro trabalho publicitário que dirigiu foi ainda como estudante. Foi um comercial de 30 segundos que abordava um tema social. "Um ano depois, o trabalho foi usado pelo Comitê da Cidadania contra a Fome e a Miséria", conta.


Apesar de ter praticamente concluído a grade curricular em 1993, só foi se formar em 2000, pois deixara para trás o trabalho de conclusão, sobre as novas tecnologias na linguagem de cinema publicitário. "Eu falei sobre como o digital estava funcionando a serviço da criação? e acabei usando como exemplo trabalhos que eu tinha feito. Então, pra mim, foi tranqüilo, pois já era corriqueiro."


Embarcando na Zeppelin


Em 1994, ingressou na Zeppelin através de indicação de uma colega de faculdade, que já trabalhava na produtora, quando soube de uma vaga no Avid, "a primeira máquina offline digital não-linear que o Rio Grande do Sul teve. Era um equipamento realmente novo, novidade mesmo". Mas já nesta época Rodrigo tinha a pretensão de se tornar um diretor. Alguns meses se passaram e o jovem publicitário seguia firme no propósito, sempre fazendo questão de mostrar seus trabalhos.


Foi quando, por idéia de Zé Pedro Goulart, um dos fundadores da produtora, formou uma dupla com Diego de Godoy, que havia sido seu colega de curso e também nas produtoras por onde passou anteriormente, para dividir a direção de filmes. Entre estes trabalhos, Rodrigo destaca o comercial "A guerra da cerveja", assinado pela Escala para o banco Meridional.


A partir de 1996 a dupla se separou para "seguir carreira solo" dentro da Zeppelin. Em 1997, Rodrigo recebeu seu primeiro reconhecimento: foi Diretor do Ano no Salão da Propaganda, prêmio recebido outras duas vezes, dez anos mais tarde (2006 e 2007). No ano passado, também conquistou o Profissionais do Ano.


Geração de diretores gaúchos


Rodrigo destaca que o mercado gaúcho tem uma geração de profissionais "desgarrados", como ele mesmo define. São diretores, da sua faixa etária, que começaram atuando no Estado e acabaram traçando novos rumos no centro do País. "É interessante ver como teve toda uma geração que foi indo? O Rio Grande do Sul, orgulhosamente, sempre apresenta os diretores de cena pro mercado nacional de filmes publicitários", avalia. Com ele não foi diferente.


Entre 2000 a 2004, morou em São Paulo. Durante os dois primeiros anos trabalhou na Companhia Ilustrada. Depois disso, voltou para a Zeppelin, passando a tomar conta do escritório que a produtora havia acabado de abrir lá. Como 95% dos jobs da Zeppelin são filmados em Porto Alegre ou pelo menos no Sul, acabou voltando a morar na capital gaúcha.

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