Ricardo Baptista: Curioso desde sempre

Publicitário fala da passagem por diversas agências, gaúchas e paulistas, e o que aprendeu com cada uma delas

Curioso. É assim que Ricardo Wolf Baptista se define. O pai de Nina, 10 anos, e de Ana, 7, é formado em Publicidade e Propaganda e pós-graduado em Marketing, e conta que seu interesse pela Comunicação foi herança do avô, Acyr Baptista (falecido). "Ele reclamava e debochava de quase todos os comerciais. Aquilo me marcou e aguçou minha curiosidade. Infelizmente, ele não chegou a saber que, hoje, eu estou do outro lado do que ele tanto reclamava", recorda o publicitário.

Há três anos de volta a Porto Alegre, depois de 13 em São Paulo, cidade em que já residira quando criança: "Brinco com meus amigos de lá que minha mãe foi me ter em Porto Alegre para não sujar a família". Ele ainda viveu um tempo no Rio de Janeiro, e da cidade maravilhosa Baptista recorda das praias. Segundo conta, se tivesse ficado mais tempo por lá, seria "um vagabundo", pois todas as praias do Rio o encantam.

Antes de enveredar para a Publicidade, ele tinha a intenção de fazer Medicina, para ser psiquiatra, mas desistiu ao pensar que demoraria muito para exercer a profissão e perceber sua facilidade com a escrita e a fotografia. A paixão pelas imagens surgiu num curso profissionalizante, feito ainda na adolescência. Quando jovem, o publicitário mantinha um laboratório caseiro, onde podia revelar seus próprios filmes e curtir o início da futura profissão. Mesmo sendo aprovado no vestibular de Comunicação Social, a decisão ainda não era definitiva. Prova disso foi ter cursado, simultaneamente, a faculdade de Direito, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Os horários da federal e a crescente paixão pela Publicidade foram decisivos na sua escolha.
No caminho dos mestres

Difícil citar uma agência de propaganda em que Baptista não tenha trabalhado. Iniciou sua carreira na extinta Arauto, onde começou a estagiar em seu primeiro dia de aula na Famecos. "Quando disse que sabia fotografar, me tocaram dentro de uma sala úmida e escura e eu comecei a achar chato trabalhar sozinho", explica, para em seguida contar que no terceiro dia de trabalho, se envolveu com a redação da agência e recebeu a chance de fazer um texto para uma campanha A partir disso, mudou de setor.

A passagem pela Nova Forma é considerada pelo publicitário como o 'grande lance' de sua carreira. Trabalhar com Roberto Pintaúde e Washington Carvalho (a quem chama de Tom) foi, para o profissional, uma grande honra: considera-os seus padrinhos de profissão.

Na Escala trabalhou com Luis Carlos Rettamozzo, com quem também diz ter aprendido muito. "Ele tinha 42 anos e eu 21. Eu o achava muito velho, e louco de tão criativo. Hoje percebo o quanto aprendi com aquele 'velho'". Segundo conta, o Reta, como chama o ex-chefe, era multidisciplinar em relação à Arte, e isso o fez aprender que um publicitário pode recorrer a outras atividades para criar melhor. Da passagem pela DCS, Baptista lembra de Beto Callage, com quem diz ter aprendido a busca pelas fontes e por novos aprendizados. Na Norton, experimentou, pela primeira vez, o cargo de diretor de criação. E na Competence, foi chamado por João Satt, quando este ainda tinha apenas a ideia de criar a agência. Baptista foi o primeiro contratado.

Mas nem só de agência vive um publicitário. Ao citar seus mestres, ele lembra de um cliente. Quando ainda trabalhava na Nova Forma, atendeu à Gang, rede de lojas dedicada ao público jovem. As peças da campanha, veiculadas no rádio, foram o primeiro reconhecimento do seu trabalho. Ouvia as pessoas comentando na rua sobre o comercial criado por ele e, por isso, acredita que este é o melhor retorno que um publicitário pode receber. Silvio Sibemberg, presidente da Gang, é lembrado com muita admiração por Baptista. "Ele é um cara muito criativo, que sabe o quanto a publicidade rende e tem o Marketing na veia."
Na terra da garoa

"Uma equipe muito bacana e com muita liberdade para criar." Assim o publicitário define sua passagem pela Paim. Neste tempo, participou do Salão da Propaganda, promovido pela Associação Riograndense de Propaganda (ARP). Ali um dos jurados, Alexandre Gama, na época da Almap, de São Paulo, se interessou pelo seu trabalho e um mês depois o chamou para trabalhar na capital paulista. Ao falar do evento, o publicitário ainda lembra que em 2007, já de volta a Porto Alegre, foi presidente do júri, posição que o fez relembrar muitas situações da sua carreira.

Por lá, iniciou uma nova fase, ao lado da colega publicitária Valéria, com quem vive há 18 anos. Foi também em São Paulo que Baptista tornou-se pai de Nina e Ana. E ao falar das pequenas, ele lembra as muitas histórias contadas a elas antes de dormir. Apesar disso, quem virou escritora de livros infantis foi Val, como chama a esposa. "Acho que não seria a mesma coisa se eu tivesse meninos. Com elas sou mais compreensivo."

Baptista chegou a se aventurar por outros caminhos. Passou dois meses estudando inglês nos Estados Unidos. Abriu a própria agência, a G11, mas não permaneceu muito tempo como empresário. Teve passagem por campanhas políticas - incluindo a do ex-governador do Estado Germano Rigotto - e ainda trabalhou na DM9DDB e Fischer América.

Outra lembrança da terra da garoa foram os seis anos na agência Sales. Lá, teve contato com marcas multinacionais e tratou com muitos "gringos", a ponto de escrever todo o roteiro de uma campanha em inglês. Além disso, ainda cita com carinho a experiência na Fischer America, onde ganhou o Leão de Prata, em Cannes, com um spot de rádio, criado para a Electrolux.

A vida corrida do casal de publicitários, que refletia na falta de tempo para as filhas, e as vindas esporádicas a Porto Alegre começaram a influenciar na decisão de voltar à capital gaúcha. Foi o que fez, retomando seu trabalho na Competence - e há dois meses passou a trabalhar na SLM, como diretor de criação. Sobre a experiência, ele é enfático: "São Paulo é uma cidade para morar. Se for apenas para visitar, é uma porcaria."
Sempre inventando

Relembrando a vida profissional, Baptista recorda a experiência de dar aula, na Unisinos, e revela que entrou na docência para aprender a falar em público. Até acha que ministrou boas aulas, mas hoje acredita que, além de ser um homem de mercado, não teria o tempo necessário para a vida acadêmica. "Ou eu entro para ser um ótimo professor, eu nem entro."

Mesmo longe da criatividade profissional, ele conta que está sempre inventando. No que se refere a esporte, então, nem se fala. Baptista já praticou karatê, corrida, surf, windsurf, vela, musculação e pádel. Atualmente, pratica natação e Yoga. Nos estudos, já cursou Fotografia, Fotojornalismo e Oratória, entre outros, e está sempre em busca de mais especializações, por menos importantes que possam parecer. "Uma vez fiz um curso de 'Domínio e orientação mental', só de curioso mesmo." Na música, é quase uma banda de um homem só, ele 'arranha' no violão, na bateria, na gaita e no teclado. "Não consigo parar e estabelecer uma rotina na minha vida", explica.

Às gargalhadas, brinca que seu lema de vida é "Nóis capota, mas não breca". Sério, explica: "Este era um slogan 'não-oficial' da DM9, mas sempre lembro dele nos momento de queda".

Apesar de toda esta trajetória, aos 47 anos, o filho do economista Nilton e da arquiteta Marion não considera que está no ápice da sua carreira, pois ainda tem muito para fazer. Ao dizer isso, volta a lembrar de Reta, que dizia: "Todo dia faço de conta que eu não sei", e aproveita para dar uma dica a quem começa na Publicidade: se deixa de ser curioso quando se acha que sabe tudo. E este é o maior erro do profissional: achar que sabe demais.
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