Bebê Baumgarten: Nos bastidores das artes

Os gêneros culturais estão nas origens da jornalista Bebê Baumgarten, diretora da BD Divulgação

O diploma de Jornalismo ela obteve na Ufrgs, já a formação cultural foi cultivada desde a infância, uma herança dos pais. Clarissa Baumgarten, ou Bebê, como todos a chamam, acumula uma história de 24 anos dedicada à assessoria em eventos culturais. Para todos os seus trabalhos, carrega características como bom humor, disposição, organização e determinação, que acredita serem essenciais para a realização de qualquer projeto. "Eu sempre escolho ver o lado melhor e mais agradável das coisas", simplifica.
Cultura e comunicação se uniram na vida de Bebê na década de 1980, quando a amiga e também jornalista Dedé Ribeiro retornou de uma temporada na França com a intenção de criar uma empresa focada em assessoria de imprensa para projetos culturais. Nasceu assim a BD Divulgação, pioneira no segmento de atuação em Porto Alegre, que já trazia como cliente a Opus Promoções. Desde então, assessorou eventos como Feira do Livro, Porto Alegre em Cena, Morrostock, Fantaspoa - Festival Internacional de Cinema Fantástico, Fórum Social Mundial, entre outros. Hoje, a empresa atende a eventos de diferentes portes, de grandes festivais a exposições de arte e lançamentos de livros e discos.
As artes sempre fizeram parte do dia a dia de Bebê, que, ainda criança e influenciada pelos pais, acostumou-se a ler, a apreciar clássicos como Chopin e artistas da música popular brasileira, como Baden Powell e Chico Buarque, além de reconhecer alguns dos principais nomes da pintura. "Quando comecei, há 24 anos, não tinha a prática de saber o que "vende", o que daquele escritor se pode usar como gancho para uma pauta para a imprensa. Mas tinha absorvida a cultura geral para trabalhar nessa área. Era como se eu estivesse sendo preparada para assumir esse papel", reflete.
Antes de entrar para o ramo de assessoria cultural, ainda experimentou os holofotes, integrando o grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, ainda em seu início, mas a timidez a fez trocar o palco pelos bastidores. "Tive um pequeno atelier em casa, que fabricava roupas de malha, mas com esse convite da Dedé, acabei me encontrando no jornalismo", relata.
O melhor dos palcos
O ritmo de trabalho, ela admite, é intenso e, por vezes, até exaustivo, mas também considera o resultado recompensador. No trabalho, pôde conhecer personalidades admiradas e também vivenciar fatos curiosos. Recorda o caso de um artista que demitiu um motorista por tê-lo olhado através do espelho retrovisor. "São curiosidades e particularidades agora engraçadas, mas que na hora são bastante estressantes. São situações de emergência para atender, e o artista é quem manda", conta.
Ver um espaço como Anfiteatro Pôr do Sol lotado, assistir a dezenas de espetáculos e estar ao lado de artistas que se admira são pontos que contribuem para reforçar o lado recompensador da profissão e torná-la ainda mais rica, seja em aspectos de relacionamento, cultura ou conhecimento. "Cada Porto Alegre em Cena, assisto a 20, 30 espetáculos do mundo, não só daqui. É uma oportunidade incrível", diz.
Estão ligadas ao teatro e à música algumas de suas principais referências. O diretor de teatro da Lituânia Eimuntas Nekrosius, cujos espetáculos considera capazes de transformador uma vida, os músicos Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso e as atrizes Beatriz Segall, Glória Menezes, Marieta Severo e Nathalia Timberg são alguns destacados. Da cena local, cita como personalidades inspiradoras Luciano Alabarse, Zé Adão Barbosa e Adriane Motula. É ela quem detalha: "Trabalhar com cultura é difícil, nem sempre com patrocínio, e essas são pessoas que batalham pela continuidade da cultura daqui".
Das raízes
Porto-alegrense, Bebê é filha mais nova da dona de casa Irmgard Elisabeth Baumgartner, de origem alemã, e do advogado e representante comercial Ebrantino Martins Corrêa, na família que se completa com mais duas irmãs. De família humilde, a mãe demorou um pouco a concluir os estudos e, formada em engenharia, passou a trabalhar em uma área ainda incipiente à época, a de energia eólica. Mais tarde, o pai a acompanhou, seguindo pelo mesmo ramo. O gosto pela leitura é um dos legados para os filhos. "Minha mãe gostava muito de ler e meu pai lê muito até hoje. Sabe tudo, de assuntos mais densos aos mais corriqueiros e curiosidades", narra.
Nas memórias de infância traz os passeios pelo Lago Guaíba, no veleiro do pai. Foi assim que conheceu diversas ilhas do local e também que hoje pertencem à reserva de Itapuã. Nesses lugares, a família costumava acampar e também admirar o céu estrelado só visto longe dos grandes centros urbanos. Os verões que geralmente tinham como cenário o município de Cidreira, no Litoral Norte, também têm espaço especial nas lembranças.
Aos 52 anos, passou por dois casamentos e, ainda no primeiro, experimentou a maternidade. Cedo, quando tinha seus 21 aninhos, nasceu o filho Gil, hoje advogado e com 30 anos. "Quando se tem filho novo, a gente brinca e se diverte muito, porque tem muita disposição seja para brincar, para jogar bola ou para correr no parque."
Para mexer e entreter
Dona de uma rotina agitada, considera-se "praticamente um militar" quando o assunto é disciplina. O dia, que começa às 6h, é preenchido com treino na academia, o trabalho com o Porto Alegre em Cena no período da manhã e com as demais atividades da BD Divulgação à tarde. O período da noite, além de eventos e espetáculos ligados à cena cultural da cidade, é dedicado a aulas de dança contemporânea e de artes circenses. Para onde for, trabalho ou lazer, o meio de locomoção é o mesmo adotado há cerca de um ano e meio, a bicicleta.
Esporte e entretenimento se combinam nos momentos de lazer de Bebê. Assistir a, no mínimo, um ou dois filmes por semana é quase uma regra para ela, que também gosta assistir a séries de televisão e documentários. "Ao contrário das pessoas que esperam o fim de semana para ir ao parque, para o sol, como já faço isso no dia a dia, adoro um fim de semana chuvoso para ficar em casa vendo séries." Dos programas policiais aos de fantasia, a tática é intercalar títulos como Breaking Bad e The Killing, e rever outros como Twin Peaks.
Na literatura, assume ler muito menos do que gostaria e revela que as obras preferidas são as que trazem histórias mais densas e reflexivas. Marcelino Freire, José Saramago e Mia Couto são alguns autores que gosta de ler. O livro lido mais recentemente foi "Barba ensopada de sangue", de Daniel Galera. O estilo musical ela define como eclético, mas faz questão de citar a música popular brasileira, cubana, africana, jazz e samba. Também não deixa de curtir artistas menos comerciais, um deles é Pedro Luís & a Parede.
Com alegria
Viajar mais é um dos desejos da jornalista para os próximos anos. Quer conhecer lugares exóticos, sair do padrão Europa-Paris-Londres, colocar a mochila nas costas e fazer trilhas. No último ano, o lugar escolhido foi Ilha de Páscoa, no Chile. Mas ainda almeja desbravar o Vietnã, a Turquia, o Caminho de Santiago de Compostela ou o deserto do Atacama. "Quero conhecer lugares estranhos bem como nos documentários que gosto de assistir e de uma forma mais aventureira", argumenta.
Ao recordar a trajetória, Bebê considera-se uma pessoa corajosa, alegre e disposta, que luta por objetivos. De personalidade tranquila, é alguém que pondera antes de responder a qualquer estímulo negativo e acredita neste como um dos segredos para ser alegre. Entende que ninguém é feliz em tempo integral, mas busca no otimismo uma forma de deixar a vida mais leve. Sem fazer grandes planos na área profissional, pretende manter-se atuante em grandes eventos culturais. "Tenho um sonho em realização e quero que dure para sempre. Não quero parar de trabalhar nunca."
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