Cristina Oliveira: Em movimento

Natural de Santa Cruz do Sul, aos 53 anos, a jornalista não tem medo da mudança

Se Cristina Bartholomay Oliveira fosse um gênero musical, sem dúvida alguma ela seria o samba. Assim como esse ritmo enérgico, ela rejeita o tédio e abraça os movimentos que a vida proporciona. Não é à toa que, aos 53 anos, a jornalista decidiu finalizar, em 2023, uma história de 12 anos na Comunicação do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) e iniciar um capítulo inteiramente novo na jornada profissional, como diretora de Atendimento na agência W3haus.

"Digo que sou uma jornalista em um 'momento publicitário'", avalia. Atualmente, Cristina emprega todo o conhecimento no setor público para atender à conta da Petrobras na agência. "A Publicidade tem um funcionamento bem diferente do que eu imaginava, mas estou me aculturando", relata. E é por isso que, hoje, o trabalho é o que domina a rotina: "Preciso compensar o que não sei e aprender com o carro andando, ainda por cima em um cargo de gestão".

O trabalho também está na relação com o filho João Pedro Oliveira Belmonte, que, aos 24 anos, cursa Publicidade e Propaganda e trabalha como estagiário de Atendimento na mesma agência da mãe. "Para variar, operamos em home office. Então, é como se estivéssemos juntos no escritório", conta. Inicialmente, Cristina ficou temerosa que a sua entrada na W3haus pudesse causar algum desconforto para o filho. "Sou uma pessoa bem espaçosa, e ele é mais reservado", justifica. No entanto, ela avalia que a experiência tem sido positiva.

Uma grande amiga

Em "carreira solo" há 15 anos, Cristina foi casada por duas vezes. A primeira união foi aos 23 anos, com o jornalista Nando Gross, e durou quatro anos. Já com Roberto Villar Belmonte - também jornalista , com quem juntou as escovas de dente em 1998, ela ficou casada por cerca de 10 anos. João Pedro é fruto deste último relacionamento. 

Apesar dos casamentos não terem vingado, Cristina se considera uma grande amiga dos ex-maridos: "Acho que sou melhor amiga do que esposa". Ela avalia que a vivência intensa do ambiente de trabalho foi um terreno fértil para ambos os relacionamentos, pois compartilhava muitas experiências com Nando e Roberto. "Sou muito apaixonada pela minha profissão, então, meus casamentos também vieram de uma admiração pelos dois", conta.

E falando em amizades, Cristina não esconde o brilho no olhar ao lembrar do grupo de amigas que mantém desde a infância. Natural de Santa Cruz do Sul, a filha do engenheiro agrônomo Marco Antônio (já falecido) e da professora de Artes Sônia, fala com carinho das relações que se estendem desde a primeira morada em Porto Alegre, quando tinha apenas 10 anos.

Vinda de Cachoeira do Sul, a família havia se mudado para um condomínio com piscina coletiva. E foi nas brincadeiras aquáticas que Cristina fez amigas que, ainda hoje, são como irmãs para ela. "Lembro da sensação de sair depois do almoço só com uma toalha e um biquíni e passar o dia inteiro ali, brincando. É uma memória que tenho muito carinho", conta.

Brasilidades

Dizer que, se Cristina fosse um gênero musical, ela seria o samba, não foi apenas uma deixa poética para abrir este texto. Apesar da rotina de trabalho não estar proporcionando muitos espaços para folgas, um dos hobbies da jornalista é tocar pandeiro e tamborim nas rodas de samba da bateria coletiva Turucutá. MPB, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gal Costa também fazem parte do gosto musical. 

E assim como o samba está enraizado no Brasil, Cristina também está. "Eu gosto daquilo que é brasileiro. Sou apaixonada pelo Brasil, uma ufanista", define-se. Esse gosto também se estende para o cinema brasileiro, que acompanha desde quando havia pouco incentivo. Um dos filmes que mais gosta é 'Deus é Brasileiro', com Antônio Fagundes e Wagner Moura. "Eu amo e já o vi muitas vezes. Acho que ele tem muito do Brasil e a atuação deles é impecável."

Recentemente, Cristina também foi cativada pela série 'Betinho', que relata a luta do sociólogo Herbert de Souza. "Acho inacreditável como ele e os irmãos foram importantes para a história do Brasil. Eles eram apaixonados pelo País, então me vejo muito nessa série", explica. E como não poderia ser diferente, a leitura do momento também é brasileira: 'A Fé e o Fuzil', de Bruno Manso. No entanto, a jornalista garante que gosta de ler de tudo. "Um livro que me marcou muito e que costumo revisitar é 'A Criação do Patriarcado', de Gerda Lerner. É muito esclarecedor para mim", destaca.

Deus ajuda quem cedo madruga

Cristina não lembra quando decidiu ser jornalista, mas sabia que era isso que queria fazer. Estava no segundo semestre na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) quando uma greve interrompeu os estudos. Incomodada pelo tédio, esse foi o empurrãozinho que precisava para buscar um estágio. "Um dia, o Flávio Alcaraz Gomes, que tinha um programa na Guaíba, anunciou: 'Deus ajuda quem cedo madruga. Quem quiser fazer estágio de Jornalismo, venha na rádio amanhã de manhã, às 7h'". E ela foi.

Por um mês, ela e outra estagiária disputaram uma vaga na TV Guaíba e quando o resultado favoreceu a colega, foi devastador. Mas Cristina não desistiu. "Ia todos os dias para a TV. Não tinha nem onde sentar, mas não podia perder a chance." No final da mesma semana, recebeu uma ligação para fazer a produção do Câmera 2, onde ficou por quatro anos. Foi lá que aprendeu lições que pautaram toda a sua trajetória, incluindo um entendimento mais amplo do mundo da política. "Cheguei com muita vontade, mas bem imatura", avalia. 

Ao se formar, Cristina manteve o posto no Câmera 2, porém decidiu se arriscar como repórter do Correio do Povo, o que logo decidiu que não era sua praia. "Precisava ouvir as pessoas e escrever um texto, mas eu achava que tinha que tirar alguma coisa a mais daquilo, que fosse além de só relatar", conta. Com isso, a experiência não durou muito, e ela só voltou a mergulhar no mundo da reportagem novamente na rádio Guaíba e, posteriormente, na Gaúcha.

Foi nessa época que ela vivenciou uma das grandes frustrações da carreira: não conseguir entrevistar Fernando Henrique Cardoso, que viria ao Rio Grande do Sul. "Fui repórter de rádio em uma época que ainda havia muito machismo. Eram poucas mulheres na redação, então, ela lutava por cada espacinho", conforme relata. De tanta insistência, foi escolhida para fazer a entrevista; contudo, por um erro de protocolo, seu nome não foi incluído na relação de profissionais cadastrados. "Eu tinha comprado até um terninho novo. Foi muito decepcionante", lembra.

Invertendo os lados

Foi durante o governo de Olívio Dutra (PT), em 2001, que Cristina decidiu ir para o outro lado do balcão e ficou responsável por montar a estrutura de Comunicação do gabinete da Reforma Agrária. Nesta oportunidade, pôde conhecer o Rio Grande do Sul de "cabo a rabo", cumprindo as agendas do órgão. A jornalista ficou por dois anos no cargo, mas como não houve reeleição, enfrentou o desemprego pela primeira vez desde a formatura da faculdade. 

Cristina encontrou dificuldades para se recolocar. Foi assim que fundou, ao lado de Renata Amaro, a Amaro & Oliveira Comunicação Integrada, que operou por cinco anos, oferecendo serviços de assessoria de imprensa, relações institucionais, entre outros. Uma das contas atendidas pela agência era a Associação do Ministério Público (AMP), mas foi apenas com o fim da Amaro & Oliveira que o capítulo profissional mais extenso da vida dela teve início. 

No encerramento da agência, Cristina ficou com o atendimento à AMP, onde permaneceu por mais cinco anos, até ser convidada para coordenar a Assessoria de Imprensa do MPRS. Desta trajetória de 12 anos, durante a qual foi alçada à coordenadora de Comunicação do órgão, a jornalista tem como um grande marcador todo o Caso Kiss. Ela acompanhou a tragédia desde o incêndio até o júri realizado em dezembro de 2021: "Foi muito desafiador".

Sem medo de voar

Embora a estabilidade e a rotina proporcionadas por mais de uma década na mesma instituição possam ser tentadoras para muitos profissionais, este não é o caso de Cristina. A saída do MPRS era algo que a jornalista vinha ensaiando havia algum tempo, e a troca de gestão do órgão foi o pontapé que faltava para que efetivasse seus planos. "Era um momento de renovação interna e essas trocas são sempre difíceis", explica.

Apesar de se sentir muito realizada profissionalmente, ainda tem interesse em explorar novos caminhos. "O que mais me apavora na vida, além da dúvida existencial que todos temos, é o tédio", defende. Segundo a jornalista, apesar do MPRS ter proporcionado muitas experiências diferentes, sua atuação estava em "piloto automático". "Você vai se cansando, fica sem paciência e isso é péssimo."

Por isso, hoje a palavra de ordem é renovação. Ela conta que a entrada na W3haus se deu pelo intermédio de uma amiga, Fernanda Tegoni, que estava buscando alguém com conhecimento em setor público para assumir a conta da Petrobras. "É um cargo que eu viajo bastante também. A sede do cliente é no Rio de Janeiro e a agência fica em São Paulo. Mas eu quero ver pessoas, quero ter esse contato", relata.

Em relação ao futuro, Cristina não pensa em nada no longo prazo, porém espera estar trabalhando. "Se o mercado ainda me quiser", brinca. Para ela, que garante que mantém o Jornalismo no DNA, o trabalho vai muito além de uma fonte de renda, sendo um enorme prazer. Por isso, não se esconde e corre atrás do conhecimento que precisa para exercer a nova função, enquanto se divide entre as três capitais. Inclusive, a entrevista terminou porque ela precisava embarcar no avião. Voa, Cristina!

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