Leonardo Pérsigo: Sempre de malas prontas

Determinado, o diretor de Mercado Interior do Grupo RBS acredita que as constantes mudanças foram fundamentais para o seu crescimento

Se tem uma coisa que Leonardo Pérsigo sabe fazer é arrumar uma mala com perfeição. O diretor de Mercado Interior do Grupo RBS tem na trajetória uma conexão única com a estrada. Natural de Passo Fundo, desde cedo teve que se acostumar com as constantes mudanças devido à profissão do pai, que foi funcionário do Banrisul. Ainda na infância, chegou a morar em Getúlio Vargas e em São Borja, até fincarem o pé em Santa Maria. Caçula de uma prole de quatro, afirma que pôde contar com a sorte, já que os irmãos, assim como a mãe, chegaram a residir em diversas regiões do Rio Grande do Sul. Mal sabia que essa realidade seria a sua, anos depois.

Formado em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ele cita que a escolha veio por influência do primo Fabiano, que largou a Engenharia e se encontrou como administrador. Havia também outro componente que o ajudou na decisão. Na época, já trabalhava na empresa de seguros montada pelo pai logo após a aposentadoria, por isso, viu a oportunidade de se desenvolver e ajudar a alavancar o negócio. A experiência de estar próximo ao cliente foi fundamental para prepará-lo para o que estava por vir. Recém-formado, decidiu, ao lado de alguns colegas, criar uma empresa de recrutamento e seleção. "Uma cidade universitária gera muita mão de obra, enxergamos aí um nicho de mercado", explica. Mesmo atingindo êxito, o dia a dia mostrou que era necessário buscar conhecimento para crescer. 

Foi no programa de trainee, exatamente em 10 de março de 2008, em Santa Cruz do Sul, que deu o início à sua jornada na RBS. Desde então, passou por sete cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Durante um ano, atuou no núcleo de operações no interior do Estado e tinha como rotina as idas e vindas para Porto Alegre, até finalizar o processo. Na ocasião, existia a possibilidade de permanecer na Capital, mas a vaga de gerente comercial em Uruguaiana fez o olho brilhar mais forte. "Lembro um diretor da televisão que me perguntou se já tinha visto a previsão do tempo na Zero Hora, já que faz muito frio na fronteira, mas estava decidido ir para lá." Apesar de não apreciar temperaturas baixas, avalia como um ótimo período de adaptação e de entendimento do negócio, principalmente na área de gestão de pessoas.

Residindo em Porto Alegre desde 2017, veio a convite de Marcelo Leite, hoje diretor-executivo de Digital e Transformação, para fazer parte da área de Marketing, que iniciava um movimento de integração com as áreas comerciais. Em 2020, assumiu o atual cargo substituindo Antônio Donádio, que havia decidido se dedicar à família e a projetos pessoais. Começava ali um grande desafio, o de consolidar o novo modelo comercial e acelerar o processo de vendas consultivas nas regiões onde a empresa enxergava muito potencial de desenvolvimento.

Na mala, muitas histórias

A semana costuma ser intensa e corrida. Nas segundas e sextas-feiras, dedica-se às reuniões internas de planejamento em Porto Alegre, e nos demais dias, a estrada vira a maior parceira. Para muitos, essa rotina se mostraria inviável, porém Leonardo tira de letra. Lidar com mudanças nunca foi um problema, na verdade, sente-se grato por cada momento vivenciado. "Diferente de outros colegas, a minha carreira foi toda pavimentada no Interior", reflete. A pluralidade de cada cidade e a equipe de trabalho são elementos que o estimulam bastante. No entanto, confessa que, no início da jornada, as passagens eram mais difíceis e emotivas. "Tudo é aprendizado e nos prepara para enfrentar o que vem pela frente."

Liderar regiões tão diversas exigiu jogo de cintura e muito conhecimento sobre o negócio, uma vez que há premissas e políticas específicas da empresa para cada local. "Precisei aprender a ligar e desligar o chip." Tal habilidade o fez conquistar não apenas clientes, mas também amigos. Destaca a oportunidade de conviver com empreendedores que construíram grandes empresas do zero, que batalham e já passaram por momentos de muita superação, assim como colegas e liderados, que tanto agregaram para seu crescimento.  

Um fato curioso é que, hoje, acaba reencontrando muitas dessas pessoas num dos lugares que mais ama estar: a Arena do Grêmio. "Costumo ir muito cedo para o estádio e inúmeras vezes encontrei gente de todos os recantos por onde passei. Para mim, acaba sendo um programa social", assegura. Ainda sobre reencontros, o período que passou em Santa Maria proporcionou, sem dúvida, o mais especial. Ao chegar lá, deu de cara com uma velha conhecida do tempo de escola, a relações-públicas Juliana. Casados há seis anos, o início do relacionamento foi desafiador devido às suas mudanças; contudo, afirma que só fez aumentar a cumplicidade.  

Leonardo não economiza elogios ao falar da companheira: "Ela é uma baita parceira. Boa parte dos riscos que assumo tem um pouco do estilo dela de ser, mais arrojada e intuitiva, o oposto do meu perfil pragmático". As diferenças podem ser observadas também no gosto musical e nas viagens. Enquanto ela curte um bom pagode e um sertanejo, ele é apaixonado pelos clássicos: "Tenho um estilo peculiar", admite. Entre eles, estão Frank Sinatra, Luis Miguel, Tony Bennett e Julio Iglesias. Já nas andanças pelo mundo, os roteiros precisam ser um mix entre lugares históricos e pontos turísticos mais badalados.

O lugar mais lindo do mundo

Assim como muitas crianças gaúchas, as férias de verão eram aguardadas com muito fervor. A Praia do Cassino ainda é o refúgio da família e o local com as mais belas memórias. Uma em especial o faz se emocionar, pois faz referência ao seu dindo, já falecido. "Todos os dias ele inventava alguma coisa pra gente fazer. Eu tinha uma relação muito próxima com ele." A convivência com os avós e os primos, os réveillons, as amizades que nasceram na infância e perduram até hoje, momentos únicos que a família tenta preservar a cada encontro. 

Apesar de não gostar muito de ir à praia, defende o Cassino com unhas e dentes. "Esses tempos fui para Punta Cana e afirmo, categoricamente, que o Cassino é muito melhor", brinca. Dedicar mais tempo para os pais, bem como para a esposa e projetos pessoais, tem sido uma das principais metas. Ele sustenta que vem conseguindo equilibrar com o lado profissional, mas que de maneira nenhuma abre mão de estar com os seus. Pelos irmãos, nutre carinho e admiração. A mais velha, Letícia, mora atualmente em Jaraguá do Sul, Santa Catarina. Ela é mãe da Vitória, seu maior xodó e ponto fraco, afinal, "ela consegue tudo dele". O próximo da lista é o Leandro, um cidadão do mundo, como classifica Leonardo, que reside há dois anos em Toronto, no Canadá. Já a Patrícia é professora, assim como a mãe, a dona Maria, e mora em Frederico Westphalen.   

Viajar também está entre as atividades que mais gosta de fazer. Nova York é, disparado, o lugar favorito. Para ele, a cidade é um pouco da esquina do mundo e "é fascinante sob o ponto de vista da diversidade". Dos últimos lugares em que esteve, a África do Sul foi o que mais lhe encantou. Apaixonado por história, pôde entender um pouco mais sobre o Apartheid, regime político que imperou no país de 1948 até 1994. A Itália está entre seus desejos e pode ser, em breve, o próximo destino.

Um pouco mais do Leonardo

Assim como a área Comercial, a Comunicação também não era algo que lhe chamava a atenção, mas quis o destino que o tímido e quieto Leonardo fosse parar em uma empresa midiática. A oportunidade foi abraçada e a entrega foi total. Quando olha para trás, diz não sentir que já se passaram 15 anos, justifica, dizendo que é porque procura viver cada dia como se fosse o último. "Todo lugar que estive ajudou a moldar o profissional que sou hoje", garante. Essa é a filosofia que tenta levar para quem está ao seu lado. Ressalta ainda que, para viver grandes experiências, foi necessário ter bastante resiliência.

Acredita que tamanha força venha do fato de encarar as dificuldades com muita calma e serenidade. "É difícil algo me abalar ou desconcertar. Prefiro investir energia para achar saídas, caminhos e alternativas", ressalta. Mesmo que no final não dê certo, para ele, o importante é deitar a cabeça no travesseiro com a certeza de que tentou tudo que podia. Para ajudar nesse processo, faz da corrida diária o momento de esvaziar a mente e dedicar um tempo apenas para si. 

Além disso, transforma um tempo de qualidade todo e qualquer momento que consegue estar no conforto do lar, seja ao lado da esposa, assando um belo churrasco, habilidade que aprendeu com o pai e o avô, ou apreciando uma boa leitura, que transita entre obras sobre gestão e negócios, história e economia. Apesar de semanalmente rodar pelo Estado, quando consegue, para curtir as belezas da Serra Gaúcha, já que é bem simples para ele.

Objetivo, costuma renovar suas metas imaginando ciclos de cinco anos. Para isso, faz um exercício de reflexão e avaliação do que precisa para conquistar aquilo que almeja. Claro, sabe bem que planos podem mudar ao longo do tempo e, por isso, mostra-se sempre aberto ao novo. Conforme ele, a recompensa de chegar a algum lugar é muito mais gratificante do que ficar apegado a uma ideia que não dará em nada. 

Agradecido pelo que a vida tem lhe proporcionado, enxerga como sua maior qualidade a capacidade de agir com diplomacia: "Para mim, talvez seja o que mais combine com meu estilo pragmático". Para caminhar ao seu lado, elege aqueles que, assim como ele, têm na família e nos amigos seu maior valor, que pense positivo e leve a vida com bom humor, que seja otimista e acredite que tudo pode ser melhor. Contudo, afirma que convive muito bem com quem não compartilha dos seus propósitos. Considera que as vivências profissionais o expuseram e o ensinaram a se posicionar diante de contextos bastante complexos. "Embora, por vezes, meu lado mais emotivo e sanguíneo se manifeste, é ele que me dá a temperança para seguir em frente", finaliza.

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